Geraldo José da Costa, o Geraldinho do Butantã, nos deixou
hoje. Foi servidor público na Universidade de São Paulo, militante do Sindicato
dos Trabalhadores da USP e do Partido dos Trabalhadores, no Diretório Zonal do
Butantã.
Abaixo, uma singela homenagem de Ciro Seiji, do Núcleo de Estudos d’O
Capital, ao saudoso companheiro. Geraldinho: presente!
“Geraldinho calcula o tempo final da intervenção, passeia a
esmo com as mãos para trás, do fundo da Quadra do Sindicato dos Bancários, e segue
pelo centro da plenária do IV Congresso dos Diretórios Zonais “Paulo Freire”,
em junho de 2019. Eu quero acreditar que as quadras de esportes no Brasil foram
feitas para comportarem jogos de vôlei com saques muito altos, do tipo “jornada
nas estrelas” do Bernard, por isso a acústica torna as intervenções cansativas
porque se misturam com o eco atrasado, microfonia, conversas se misturam e
reverberam nas paredes do amplo ginásio localizado na Tabatinguera, bem perto da
antiga sede-biblioteca do Núcleo de Estudos d’O Capital, por acaso em frente ao
Diretório Nacional, ali colado à Praça da Sé.
Geraldinho tinha calculado e chega no tempo exato em que uma
companheira termina a fala, toma o microfone e sai aos gritos denunciando a
direção, a burocracia, os acordos e sei lá mais o quê, porque a mesa, do alto
do palco da quadra dos bancários, corta o microfone.
A plenária cheia de militantes veteranos em idade e tempo de
luta acorda pela primeira vez, a mesa protesta, mais magoada do que surpresa,
porque é esperado que Geraldinho fizesse algo: “- Pôxa,companheiro
Geraldinho!!!” ...
Geraldinho volta calmamente com um sorriso enorme no rosto,
vai para o fundo do plenário, onde estava a banquinha do Núcleo de Estudos D’O Capital,
cujos militantes (eu, Edu
e Agnaldo) estão no chão gritando e gargalhando. O ginásio
não reverberou muito a voz dele, mas a única coisa que se ouvia éramos nós
rindo muito.
Naturalmente não vendemos uma única Revista Mouro naquele
dia.
Não me lembro, mas sei que naquele trecho entre a banquinha
e o microfone que ele tomou de assalto, ele ia sorrindo e como sempre cumprimentando
os companheiros, fazendo troça disso ou daquilo que lhe ocorria ou via. Era
simpático e alegre, multidões, plenárias, passeatas, assembleias, mutirões eram
o seu lugar. Gente era a sua substância.
Geraldinho não foi feito para viver enfurnado e acossado por
qualquer que seja o maldito vírus ou o verme fascista. Deve ter partido porque
este tipo de espécime só vive ao ar livre, nada de teto baixo.
Um grande abraço camarada,
Ciro”