domingo, 31 de março de 2024

Nota de pesar

 NOTA DE PESAR




É com grande consternação que o Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores cumpre a dolorosa missão de comunicar o passamento do inesquecível professor Marcos Antônio Silva.


Marcos Antônio Silva foi Professor Titular de Metodologia da História, Doutor e Mestre em História Social pela FFLCH/USP com Pós-Doutorado na Université de Paris III. Assessorou Equipes de Professores de História das Redes Estadual Paulista e Municipal Paulistana durante a primeira gestão do PT em São Paulo. Publicou Prazer e poder do Amigo da Onça (Paz e Terra, 1989), História – O prazer em Ensino e Pesquisa (Brasiliense, 1995; reeditado em 2003) e Dicionário crítico Câmara Cascudo (Perspectiva, 2003, relançado em 2006), dentre outros livros, além de artigos. É Autor do projeto e co-Autor do texto final do Atlas Histórico do Rio Grande do Norte (Diário de Natal, 2006). Sua mais recente obra é Ditadura Relativa e Negacionismos, editora Maria Antônia, GMarx USP.

Marcos foi um crítico do revisionismo histórico que buscou isentar a ditadura de seus crimes. Foi ainda professor de várias gerações de estudantes e um orientador dedicado de inúmeros historiadores e historiadoras atuantes em escolas e universidades públicas e privadas em todo o país. Marcos Silva faleceu hoje 31 de março de 2024.

sábado, 30 de março de 2024

O mundo de ponta cabeça da economia comportamental.

 O modo capitalista de produção é o mundo da incerteza, do risco e da informação assimétrica, derivados da propriedade privada dos meios de produção, um mundo alienado decorrente da história econômica em que o desenvolvimento das relações de produção contraídas pelos agentes econômicos os governa contra a sua vontade.


Nada obstante, a economia dita comportamental considera a aversão ao risco ou à perda como elemento irracional das decisões econômicas, quando na verdade cuida-se de elemento racional decorrente do pragmatismo e do impulso de sobrevivência.


Em um modo de produção vindouro onde vingará a planificação econômica socialista, o risco será diminuto e cada vez mais restrito na vida econômica, pois a racionalidade também vingará.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Paixão

 Ele poderia ter aniquilado num piscar de olhos todos aqueles que o detratavam e o imolavam, mas quedou silente.


Não existe exemplo mais eloquente de amor e compaixão pela Humanidade.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Razão individual e inconsciente coletivo.

 Hoje sabemos, graças aos estudos precursores de Sigmund Freud, que os indivíduos agem em grande medida sob impulso do inconsciente, mas isto ocorre pois tais indivíduos vivem em sociedade de forma alienada, porquanto as relações de produção que eles contraem entre si escapam ao seu controle e os governam silenciosamente, consoante demonstrado por Karl Marx em sua obra O Capital.


Eu diria, então, que a razão é individual, mas o inconsciente é coletivo.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.



quarta-feira, 27 de março de 2024

Marx foi um estruturalista avant la lettre?

 Depende!


Se considerarmos o estruturalismo como deslocamento do sujeito da história, de tal forma que as estruturas sociais tomam o lugar dos seres humanos como seu protagonista, então diria que sim!


Mas o estruturalismo peca por certo imobilismo, com suas estruturas sociais perenes e de certa forma calcificadas, a saber, imutáveis ao longo do tempo.


Na obra de Marx, tais estruturas sociais são denominadas relações de produção e são categorias históricas, vale dizer, mudam e se tornam mais complexas com o passar do tempo, a exemplo das relações de produção sucessivamente consubstanciadas na mercadoria, no dinheiro, no capital industrial, na renda fundiária e no capital financeiro: seria uma espécie de, por assim dizer, estruturalismo histórico!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 24 de março de 2024

Sobre a violência.

 Sobre a violência:

Revidar na hora, de forma mortal, a um ato de violência enseja até o perdão por insanidade temporária. Como em casos passionais.


Se os eventos de ação e reação forem separados por alguns dias a retaliação pressupõe premeditação portanto agravamento.


Mas se a retaliação é resultado de anos de preparo aí é classificado como terrorismo: os pilotos kamikazes das torres gêmeas cresceram em campos de refugiados.


A imprensa russa mostra o depoimento de um atirador que declara ter agido por dinheiro. Este é um novo tipo de terror. Sem fé.


Entropia no caos.




Por Saurius 

sábado, 23 de março de 2024

O maior de todos os historiadores.

 Não é habitual creditar Karl Marx como historiador, conquanto ele tenha sido o maior de todos os historiadores.


Em geral, pensamos que a história deve enfocar os seres humanos no âmbito dos acontecimentos políticos de que são protagonistas, com datas bem determinadas e reconhecidas por qualquer um.


Mas Karl Marx inaugurou uma outra forma de confeccionar historiografia, inaugurando uma vertente da história econômica que se debruça sobre o evolver das relações de produção que os seres humanos estabelecem entre si de maneira involuntária e um tanto inconscientemente, uma história sem heróis nem grandes acontecimentos, a saber, uma história subterrânea sem datas precisas, mas sim um tanto difusas.


Esse tipo de história econômica foi inaugurado com a publicação da monumental obra intitulada O Capital, em que os sujeitos dessa história não são propriamente os seres humanos, mas as relações de produção que os regem silenciosamente, consubstanciadas, verbi gratia, na mercadoria, no dinheiro, no capital industrial, na renda da terra e no capital financeiro.


Uma história que os seres humanos fazem inconscientemente, da mesma forma como fazem muitas outras coisas, como demonstrou também Sigmund Freud.


Essa mudança de perspectiva faz de Karl Marx o maior de todos os historiadores.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Teorias do valor e suas críticas.

 A teoria do valor econômico enceta historicamente por enfocar o processo de produção de capital na obra precursora de Adam Smith, mas não atinge o cerne da questão, encontradiça na ulterior crítica de Karl Marx, que nos desvela a exploração do homem pelo homem na extração da mais-valia.


Os marginalistas desviam sua atenção para enfocar o processo de circulação de capital quanto à teoria do valor econômico, cabendo destacar que a crítica que lhes dirige Keynes claudica precisamente por também cingir-se ao âmbito da circulação de capital.


A crítica da crítica de Keynes, por assim dizer, deverá colocar o problema da inflação na unidade do processo de produção e de circulação de capital, mais especificamente na lei do declínio tendencial da taxa de lucro do capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 19 de março de 2024

Lênin e a inteligência artificial.

 Como já apontei algures, Lênin certa feita definiu o socialismo como a união dos soviets com a eletricidade ou eletrificação, numa síntese brilhante e concisa de relações de produção e forças produtivas, uma síntese que somente ele sabia efetuar na política, daí sua imensa figura histórica, imortal! 


Estou convicto de que se Lênin estivesse vivo, a extinta União Soviética ainda existiria, pois creio que ele teria percebido o potencial emancipatório da revolução microeletrônica ou digital e da sua fase mais adiantada na inteligência artificial.


Talvez ele afirmasse que o socialismo hodiernamente é a união dos soviets com essa inteligência artificial, a qual pode ajudar sobremodo na planificação econômica socialista, com coleta e processamento de dados econômicos de oferta e demanda com eficiência inaudita.


Camarada Lênin, presente!







Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Adam Smith e a inteligência artificial.

 Quando trabalhei como procurador da Previdência Social no âmbito da infortunística, em meados da década de 1990, havia uma verdadeira epidemia de mesopatias relacionadas às lesões por esforços repetitivos, também conhecidas por distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.


Na verdade, o aprofundamento histórico da divisão social ou fabril do trabalho é manifestamente ambivalente, pois, se aumenta a força produtiva do trabalho, também o faz repetitivo, monótono e prejudicial à saúde do trabalhador, cabendo destacar que o custo social e previdenciário dessa prejudicialidade talvez diminua ou mesmo anule os ganhos de produtividade econômica.


Por isso, hodiernamente, a inteligência artificial e a robótica atuam em sentido contrário da divisão do trabalho que o torna repetitivo e monótono, substituindo tarefas laborais desse jaez.


Talvez, então, Adam Smith estivesse equivocado ao enaltecer os benefícios sociais e econômicos da divisão do trabalho e da especialização do trabalhador, considerando o atual movimento contrário a esse fenômeno histórico.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

A nova aristocracia operária.

 Hodiernamente, observamos dois movimentos históricos combinados:


1. A confirmação da teoria marxista do valor, isto é, a superação da aparente aporia em seu âmago, eis que a força de trabalho torna-se cada vez mais intelectual e produzida pelo trabalho assalariado dos professores, de tal forma que já não se pode cogitar em uma mercadoria força de trabalho que não seja fruto do trabalho humano assalariado e, portanto, não exiba valor;

2. ⁠A configuração de uma cesura abismal e profunda, com implicações na divisão internacional do trabalho, entre trabalhadores eminentemente manuais da indústria manufatureira e trabalhadores eminentemente intelectuais da indústria da informação ou de software, sendo certo que os primeiros são tipicos das duas primeiras revoluções industriais, enquanto os demais são típicos da atual revolução microeletrônica ou digital.


Essa divisão relatada em 2 produz uma certa nova aristocracia operária dos produtores de informação, politicamente atrelada à burguesia industrial pela ideologia do empreendedorismo, o que traz um problema estratégico para os partidos dos trabalhadores ao redor do mundo.


Esta realidade hodierna deve ser programaticamente incorporada pelo Partido dos Trabalhadores no Brasil.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 17 de março de 2024

A notícia econômica de hoje!

 A principal notícia econômica no Brasil no dia de hoje consiste no aumento da participação dos salários no PIB nacional com a consequente queda nos lucros das empresas.


Muitos dirão que tal situação exibe-se insustentável, pois o aumento da demanda pelo lado dos salários pode provocar incremento da inflação.


Mas o aumento da inflação, se ocorrer, virá exatamente da contraposição ao declínio dos lucros, e não do aumento dos salários.


A culpa da inflação é do capital, e não do trabalho.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 10 de março de 2024

Dinheiro e mais-valia.

 Como vimos, a relação de produção consubstanciada na mercadoria e na troca simples pressupõe a equivalência entre valor e preço dos produtos do trabalho humano.


Tal equivalência rompe-se com o advento da relação de produção consubstanciada na circulação de mercadorias e no dinheiro, pois os mercadores e comerciantes, ipsis litteris, compram barato para vender caro, de tal sorte que a moeda metálica já exsurge sob o pálio da extorsão de parte do produto do trabalhador pela classe social dos comerciantes, sendo que seu valor nominal já se exibe maior do que seu valor real ou intrínseco.


Com o advento do capital industrial e a compra e venda da força de trabalho como mercadoria, a moeda perde seu suporte metálico e passa a se apresentar como papel-moeda ou moeda fiduciária, com suceder um verdadeiro abismo entre seu valor nominal e seu valor real ou intrínseco.


Tal abismo aprofunda-se hodiernamente com as moedas digitais ou criptomoedas, a revelar um patamar superior de exploração da força de trabalho e extração da mais-valia.


Destarte, quanto maior a mais-valia, mais abstrato o dinheiro, e mais distante a moeda de um suporte material.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 9 de março de 2024

O tempo na obra de Marx.

 Já tivemos a oportunidade de destacar aqui que o tempo é um construto cerebrino humano, decorrente da mortalidade humana, enfim, uma ilusão no seu sentido linear e absoluto.


Para Marx, as sucessivas categorias econômicas, correspondentes às sucessivas relações históricas de produção - tais como mercadoria, dinheiro, capital industrial, renda fundiária e capital financeiro - acumulam-se e tornam o modo de produção mais complexo, mas não morrem, isto é, vão sendo incorporadas em relações de produção mais complexas, mas não se extinguem, apenas convolam-se em sucessivos modos de produção.


Por isso que, para Marx, a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco.


Não há morte nem tempo nas categorias econômicas históricas e sucessivas na obra de Marx, mas movimento, acúmulo e crescente complexidade.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

O falso mundo empírico dos preços e do dinheiro.

 Na relação de produção consubstanciada na mercadoria, ainda remanesce a equivalência entre valor e preço dos produtos da atividade econômica.


Com o advento histórico da relação de produção consubstanciada na circulação de mercadorias e no dinheiro, há uma ruptura na equivalência entre valor e preço, pois os mercadores auferem seus lucros precisamente nas variações de preços, comprando barato e vendendo caro, ipsis litteris.


Desde então, o mundo empírico e superficial dos preços soterra o universo verdadeiro da exploração econômica dos seres humanos pelos seres humanos, na extração da mais-valia.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Burgueses e marxistas na ciência econômica.

 Os economistas burgueses não enfocam o mundo da produção econômica, mas apenas do consumo, pois, caso contrário, seriam obrigados a arrostar o problema da mais-valia e da exploração econômica do ser humano pelo ser humano, de tal sorte que suas questões cingem-se às disparidades entre oferta e demanda, inclusive a questão da inflação.


Já os economistas marxistas enfocam precisamente o mundo da produção e da extração da mais-valia, de tal sorte que o fenômeno inflacionário resulta do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.


Para os economistas burgueses, é suficiente o universo empírico dos preços, ao passo que para os marxistas cabe investigar para além dos preços, isto é, urge examinar a raiz dos fatos aparentes nos valores e sua respectiva produção.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.