sábado, 24 de dezembro de 2022

Eficiência estatal e economia socialista

O colapso da união soviética resultou da ineficiência estatal na planificação econômica do país, fato que promoveu um estrato social burocrático nela envolvido que, mais qualificado sob prisma profissional e muito numeroso diante dos enormes desafios, apenas substituiu a classe burguesa na opressão da classe trabalhadora, consumindo uma parcela substancial do produto do trabalho do proletariado soviético.

Tal ineficiência, todavia, decorria da ausência da tecnologia da informação, advinda com a revolução digital ou microeletrônica (que somente aflorou no último quartel do século passado), na coleta e processamento dos dados econômicos.

Atualmente, a existência da inteligência artificial exibiria o condão de reduzir drasticamente o aparato burocrático envolvido na planificação econômica socialista, dotando o Estado soviético de grande eficiência nesta tarefa, com reduzido consumo do produto social engendrado pela classe trabalhadora.

Gorbachev teria sido melhor sucedido na história da humanidade se tivesse escolhido investir na autonomia soviética em matéria de tecnologia da informação e inteligência artificial para fins de planificação econômica socialista, mas agora foi relegado ao limbo dessa história.

O Partido Comunista Chinês parece estar no caminho correto, ao priorizar a revolução digital na China, colimando ulterior planificação econômica total da economia do país com supedâneo na tecnologia da informação apta a tornar o Estado mais eficiente e menos onerosa para sua classe trabalhadora.

(Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO MERCADORIA

Consoante já ventilado neste portal eletrônico, por diversas vezes, a primeira revolução industrial do capitalismo, ocorrida em solo britânico no século XVIII, afetou primordialmente o processo de produção de capital, com a introdução de inovações tecnológicas nesse âmbito, sem no entanto incidir no processo de circulação de capital, isto é, sem revolucionar as mercadorias em seu valor de uso. 

Já a segunda revolução industrial, em fins do século XIX e início do século passado, incidiu tanto no processo de produção como no processo de circulação de capital, com introdução de inovações tecnológicas também nas próprias mercadorias, que exibiam novos valores de uso para satisfazer a novas necessidades humanas. 

No que pertine à revolução digital ou microeletrônica, do final do século passado até o momento atual, observa-se uma novidade muito importante, eis que agora as próprias inovações tecnológicas passaram a exibir o caráter de mercadoria.

Sim, pois, com a aludida revolução digital, as próprias inovações tecnológicas, que antes afloravam à margem da produção capitalista, passaram a ser produzidas em escala industrial no âmago do modo capitalista de produção, assumindo o jaez de mercadorias.

Logo, as revoluções industriais, que antes da tecnologia da informação, típica da revolução digital, ocorriam em saltos determinados, foram assimiladas pelo capital e passaram a figurar como produto dele, e mesmo como sua principal mercadoria, de tal sorte que tais revoluções, por assim dizer, institucionalizaram-se e se tornaram constantes e corriqueiras. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)   

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

EDUCAÇÃO E TEORIA MARXISTA DO VALOR

Constitui persistente equívoco sustentar a existência de uma suposta aporia no âmago da teoria marxista do valor, pelo seguinte:

O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário para sua produção, mas a mercadoria consubstanciada na força de trabalho parece destoar de tal regra, eis que não seria produto do trabalho assalariado, mas do esforço coletivo dispensado no âmbito familiar, de tal sorte que haveria uma aporia na teoria marxista do valor econômico.

Esta situação parece amoldar-se relativamente bem quanto ao trabalho eminentemente manual, típico das duas primeiras grandes revoluções industriais do capitalismo, portanto até meados do século passado, quando a qualificação da força de trabalho era substancialmente reduzida e exigia pouca formação no âmbito extrafamiliar da escola. 

Todavia, a revolução digital ou microeletrônica provocou uma reviravolta no caráter do trabalho, que de eminentemente manual passou a primordialmente intelectual, exigindo então uma qualificação que somente a formação escolar pode oferecer. 

Ora, o trabalho dos professores na escola consiste evidentemente em trabalho assalariado, de tal sorte que a força de trabalho exigida pela revolução digital é produzida primordialmente por esse trabalho assalariado, o que refuta por completo a existência da aporia acima mencionada.

A principal questão que se nos antolha hodiernamente axial para compreender o funcionamento do capitalismo da revolução digital consiste, então, em saber como ficou a taxa de mais-valia diante do aumento do valor da força de trabalho, agora produzida pelo trabalho assalariado da categoria social dos professores. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Da fábrica ao home office

Já tive a oportunidade de aventar que as duas primeiras grandes revoluções industriais do capitalismo incidiram primordialmente no capital constante, com o decorrente aumento da composição orgânica do capital. As fábricas foram seu palco por excelência, onde o desenvolvimento do capital fixo e o aumento da força produtiva do trabalho fizeram-se notar, e os novos valores de uso, de jaez ainda material, exsurgiram para satisfação de novas necessidades humanas.

A revolução digital ou microeletrônica, por seu turno, produziu um novo proscênio de trabalho: as fábricas foram substituídas pelos escritórios e estes, atualmente, pelo denominado home office, com a decorrente diminuição dos aportes em capital constante e desenvolvimento de um novo produto eminentemente virtual, o software.

Tal decréscimo do capital constante foi acompanhado por um incremento nos investimentos em capital variável, em razão da exigência de maior qualificação da força de trabalho, com a decorrente diminuição da composição orgânica do capital.

Resta avaliar como reagiu a taxa de mais-valia diante do aumento do valor da força de trabalho, para haurir o atual desempenho das taxas de lucro do capital.

São conjecturas e indagações a desenvolver.

(Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Singelo escrito exploratório

Parece haver certa querela envolvendo o âmago da teoria marxista do valor, consistente no seguinte: O valor de determinada mercadoria é resultante do tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário para sua produção, mas a mercadoria consubstanciada na força de trabalho não parece ser resultante deste tipo de trabalho industrial abstrato que engendra todas as demais mercadorias, mas sim resultante do trabalho dispensado no âmbito familiar e escolar.

Haveria aí uma discreta aporia na teoria marxista do valor? Penso que não, pelo seguinte: As duas primeiras grandes revoluções industriais do capitalismo, respectivamente nos finais dos séculos dezoito e dezenove, alteraram profundamente o capital constante, provocando aumento significativo nos valores nele investidos, sem modificar substancialmente o valor da força de trabalho que compõe o capital variável, de que resultou um aumento da composição orgânica do capital.

Já a terceira revolução industrial, do final do século passado, incidiu basicamente no capital variável, eis que seu principal produto ou mercadoria consiste no software, que exige maior qualificação da força de trabalho, o que aumentou o valor da força de trabalho e os investimentos, portanto, em capital variável, ao mesmo tempo que diminuiu os aportes em capital constante, de que resultou uma diminuição na composição orgânica do capital.

Logo, a força de trabalho tornou-se mais intelectual do que manual, exigindo maior tempo de formação no âmbito escolar, ou extrafamiliar, mas seu valor aumentou no geral.

São singelos rabiscos exploratórios para desenvolvimento ulterior.

(Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)