Constitui persistente equívoco sustentar a existência de uma suposta aporia no âmago da teoria marxista do valor, pelo seguinte:
O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário para sua produção, mas a mercadoria consubstanciada na força de trabalho parece destoar de tal regra, eis que não seria produto do trabalho assalariado, mas do esforço coletivo dispensado no âmbito familiar, de tal sorte que haveria uma aporia na teoria marxista do valor econômico.
Esta situação parece amoldar-se relativamente bem quanto ao trabalho eminentemente manual, típico das duas primeiras grandes revoluções industriais do capitalismo, portanto até meados do século passado, quando a qualificação da força de trabalho era substancialmente reduzida e exigia pouca formação no âmbito extrafamiliar da escola.
Todavia, a revolução digital ou microeletrônica provocou uma reviravolta no caráter do trabalho, que de eminentemente manual passou a primordialmente intelectual, exigindo então uma qualificação que somente a formação escolar pode oferecer.
Ora, o trabalho dos professores na escola consiste evidentemente em trabalho assalariado, de tal sorte que a força de trabalho exigida pela revolução digital é produzida primordialmente por esse trabalho assalariado, o que refuta por completo a existência da aporia acima mencionada.
A principal questão que se nos antolha hodiernamente axial para compreender o funcionamento do capitalismo da revolução digital consiste, então, em saber como ficou a taxa de mais-valia diante do aumento do valor da força de trabalho, agora produzida pelo trabalho assalariado da categoria social dos professores.
(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)
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