quinta-feira, 12 de junho de 2025

CAPITALISMO E ESCRAVIDÃO

 1. O escravismo colonial, dissecado por Jacob Gorender, exigia do proprietário dos meios de produção, a saber, o senhor de engenho, principalmente, manter o trabalhador escravo vivo suprindo seus meios de subsistência mínimos, além do custo de aquisição do trabalhador escravo, consistente no custo da violência do processo de dissociação do trabalhador em relação aos seus meios de produção pela escravização.

2. ⁠No escravismo capitalista, isto é, no período do capitalismo anterior à revolução digital que subsumiu o trabalho eminentemente intelectual, o capitalista paga ao trabalhador somente os meios de subsistência mínimos, pois o processo de dissociação do trabalhador em relação aos seus meios de produção foi socializado historicamente, na acumulação primitiva de capital, e não custa nada a esse capitalista.

3. No capitalismo maduro, desde a revolução digital, o capitalista, além dos meios de subsistência mínimos, paga ao trabalhador o custo de formação da força de trabalho eminentemente intelectual produzida de forma capitalista pelo sistema educacional.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

CAPITALISMO E FORÇA DE TRABALHO

 O que distingue o modo capitalista de produção dos demais não é a produção de mercadorias, mas a produção de uma mercadoria específica: a força de trabalho!


Logo, somente uma produção genuinamente capitalista da força de trabalho pode atestar o amadurecimento do capitalismo, de tal sorte que enquanto essa força de trabalho ainda é produzida de forma não capitalista no âmbito familiar ou doméstico, não se pode, a rigor, cogitar em capitalismo amadurecido.


Portanto, somente com a produção capitalista da força de trabalho eminentemente intelectual, por meio do trabalho assalariado dos professores que gera mais-valia, é que temos o completo desenvolvimento e amadurecimento do modo capitalista de produção.


A revolução digital hodierna, que subsumiu totalmente o trabalho ao capital, pois exige uma força de trabalho em suas potencialidades plenas, máxime as intelectuais, com sua respectiva produção de forma integralmente capitalista, inaugurou portanto o capitalismo em sua fase mais madura e acabada, deixando para a história seus resíduos ainda escravistas em que o trabalhador recebia somente os meios de subsistência mínimos ao alienar sua força de trabalho ao capital.


Observe-se, por oportuno, que esta fase madura do capitalismo demarca também, portanto, a real possibilidade de sua superação histórica por um modo de produção superior.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

O CAPITAL NO SÉCULO XXI

Não, não comentarei aqui a brilhante obra do exímio economista francês Thomas Piketty, mas pretendo encetar uma singela provocação teórica. 

Sim, demorou dois séculos e meio desde a primeira grande revolução industrial, a inglesa do século XVIII, mas o modo capitalista de produção enfim superou os seus pródromos, com resíduos escravistas e, neste século XXI, foi finalmente inaugurado em sua plenitude.

Com a revolução digital hodierna, o capital completou a subsunção do trabalho, e a mercadoria consubstanciada na força de trabalho enfim adquiriu plena maturidade em todas as suas potencialidades, tanto físicas quanto intelectuais, com expungir a teoria marxista do valor de todas as suas aporias e tautologias, pois agora o valor de tal força de trabalho é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção, e não mais pelo valor dos meios de subsistência necessários ao trabalhador médio.

Ora, esta aporia na teoria marxista do valor, como já vimos aqui neste portal eletrônico por diversas vezes, decorria da incipiente formação ou desenvolvimento do capitalismo, em que a força de trabalho eminentemente manual não exigia sua produção CAPITALISTA pelo trabalho assalariado dos professores no âmbito escolar ou acadêmico, mas era produzida de forma antediluviana e NÃO CAPITALISTA no âmago do ambiente familiar ou doméstico, de tal sorte que, a rigor, não exibia valor, nem era de fato uma mercadoria, mas o respectivo trabalhador era pago por um salário correspondente aos seus meios de subsistência mínimos, como os escravos antigos e modernos. 

Mas no escravismo colonial, verbi gratia, tão bem estudado pelo nosso saudoso professor e mentor Jacob Gorender, os proprietários de escravos pagavam, pela sua aquisição, o custo de sua escravização, ou do processo de separação violenta do trabalhador em relação aos seus meios de produção, algo que na Europa ocorreu de forma socialmente massiva com a acumulação primitiva de capital.

Enfim, estamos somente no começo do capitalismo, o que não lhe remove o jaez iníquo e ineficiente, cabendo sua superação histórica por um modo de produção superior.

Hipóteses sub judice. 

Este singelo texto provocativo é dedicado ao camarada CARLOS OTÁVIO SANTIAGO.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

O VERDADEIRO TRAÇO DISTINTIVO DA FORÇA DE TRABALHO DIANTE DAS DEMAIS MERCADORIAS.

O verdadeiro traço distintivo da força de trabalho diante das demais mercadorias não reside, como geralmente se supõe, no seu valor de troca, mas radica no seu valor de uso. 

Vejamos. 

Com o advento da subsunção total do trabalho no capital desde a hodierna revolução digital, que submeteu a força de trabalho em todas as suas potencialidades, tanto físicas quanto intelectuais, aos capitalistas, percebeu-se que o valor dessa força de trabalho determina-se, sim, pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário para produzi-la, nomeadamente o trabalho assalariado dos professores, máxime quanto à produção da força de trabalho eminentemente intelectual engajada no programação de software, essa mercadoria por excelência da revolução digital. 

Nesse diapasão, não há mais como cogitar em determinação do valor da força de trabalho pelo valor dos meios de subsistência necessários ao trabalhador médio, como se supunha, de tal sorte que seu valor de troca, portanto, não distingue a força de trabalho das demais mercadorias. 

O que a distingue é seu valor de uso. 

Com efeito, tal valor de uso da força de trabalho, isto é, seu desgaste produtivo e objetivo no efetivo trabalho, encerra como escopo a satisfação das necessidades diretas do capital, nomeadamente a extração de mais-valia, e não, como acontece com a demais mercadorias, a satisfação de necessidades humanas diretas.

Mas é mister aduzir que este valor de uso da força de trabalho também se modifica, como acontece com as demais mercadorias, pois se o trabalho inicialmente exibia-se eminentemente físico ou manual, o curso da história encarregou-se de transformá-lo em trabalho eminentemente intelectual, máxime na atual produção de software. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

UM NECESSÁRIO AJUSTE NA FÓRMULA DA TAXA SOCIAL DE MAIS-VALIA

As variáveis componentes da fórmula da taxa social da mais-valia, na hipótese que temos esgrimido neste portal eletrônico, devem ser ajustadas no seguinte sentido.

A vida laboral média da população deve cingir-se à vida laboral média da classe trabalhadora, enquanto a escolaridade média da população deve cingir-se à escolaridade média da classe trabalhadora. 

Tal ajuste encerra implicações metodológicas importantes, pois se a classe trabalhadora pode ser definida como a parcela da população que é obrigada a vender sua força de trabalho ao capital, no âmbito empírico tal venda manifesta-se de formas variegadas e controversas, como é o caso, verbi gratia, da assim denominada "pejotização" no Brasil, uma forma de ocultar a relação de emprego, o que traz dificuldades estatísticas. A classificação dos servidores públicos para tal finalidade consiste em outra dificuldade, por exemplo.    

Por outro lado, tal ajuste aumenta exponencialmente a taxa social de mais-valia, ao diminuir a escolaridade média, eis que tal variável evidentemente exibe-se menor no âmago da classe trabalhadora em comparação com as demais classes que não precisam vender sua força de trabalho.

Hipóteses sub judice. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

terça-feira, 10 de junho de 2025

UMA TENTATIVA DE REFINAR A HIPÓTESE, OU A TAXA SOCIAL DE MAIS-VALIA COMO MÉDIA HISTÓRICA.

Há uma contradição ínsita ao modo capitalista de produção consistente no fato de que a propriedade privada dos meios de produção precisa ser apta à consecução da reprodução social dos seres humanos, ou seja, malgrado vivam em sociedade, os seres humanos submetem-se ao capital como forma privada de propriedade dos meios de produção, de tal sorte, portanto, que a aludida reprodução social se faz aos trancos e solavancos, com graves desigualdades sociais e crises econômicas períodicas que comprometem o bom evolver da história humana. 

Por outro lado, como vimos no texto aqui publicado de título "Por uma história social da mais-valia", o método materialista histórico, que ascende do abstrato ao concreto, reflete um crescente processo de socialização do capital, isto é, uma crescente integração social dos seres humanos sob a égide do capital, inclusive com a formação de grandes monopólios econômicos e a equalização da taxa de lucro. 

Nesse diapasão, aventaria a conjectura de que a taxa social de mais-valia, consoante a hipótese que vem sendo esgrimida neste portal eletrônico, reflete uma MÉDIA HISTÓRICA do capitalismo, isto é, uma média que compreende toda a história do modo capitalista de produção como forma de reprodução social dos seres humanos.  

Evidentemente, a taxa social de mais-valia deve considerar, em seu cálculo, a evolução histórica da escolaridade média e da vida laboral média das populações envolvidas, consoante os elementos da fórmula de tal taxa já aqui ventilada, a saber, vida laboral média menos escolaridade média, subtração esta cujo resultado é dividido por esta mesma escolaridade média.

Conjecturas sub judice. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

SAÚDE E EDUCAÇÃO

Indubitavelmente, saúde e educação constituem temas de alta relevância para os Estados nacionais, cujas políticas públicas nessas áreas encerram impacto de grande importância inclusive no âmbito político-partidário. 

Atribuo tal importância precisamente à hipótese da taxa social da mais-valia, que vem sendo objeto de publicações neste portal eletrônico. 

Sem embargo, segundo tal hipótese, a taxa social da mais-valia corresponde ao tempo médio de vida laboral subtraído pela escolaridade média da população, cujo resultado é então dividido por esta mesma escolaridade ou tempo de permanência na escola.    

Logo, o investimento público ou privado em saúde e educação encerra o condão de afetar diretamente a taxa social de mais-valia, no seguinte sentido. 

A melhoria nas condições de saúde pública aumenta a longevidade da população, elevando proporcionalmente o tempo médio de vida laboral, enquanto o aumento da produtividade educacional, com maior número de alunos por sala de aula, por exemplo, diminui o valor da força de trabalho e incrementa portanto a taxa social de mais-valia. 

No caso específico da educação, faz-se mister uma investigação bastante cautelosa, pois o aumento da produtividade escolar pode comprometer a qualidade do ensino e da formação dos alunos. 

Agradeço encarecidamente aos professores Lincoln Ferreira Secco e Fernando Sarti Ferreira pelo auxílio nestas singelas ideias. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

domingo, 8 de junho de 2025

A SUPEREXPLORAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO SEGUNDO A HIPÓTESE DA TAXA SOCIAL DE MAIS-VALIA.

Tracemos um quadro comparativo entre Brasil e Estados Unidos da América quanto à hipótese da taxa social de mais-valia, já esgrimida neste portal eletrônico.

No Brasil, a escolaridade média da população é de 9,6 anos de estudo, segundo dados do PNAD de 2022, enquanto o tempo médio de vida laboral é de 32,6 anos de trabalho, segundo dados do IBGE e da OCDE de 2022, o que resulta numa taxa social de mais-valia de 2,3958.

Nos Estados Unidos, a escolaridade é de 13,9 anos de estudo, segundo dados do U.S. Census Bureau de 2023, enquanto a vida laboral é de 39,7 anos de trabalho, segundo dados da OCDE de 2022 e do U.S. Bureau of Labor Statistics, o que resulta numa taxa social de mais-valia de 1,8561.

Isto corrobora, em grande medida, a hipótese da superexploração da força de trabalho na periferia do sistema capitalista. 

Conjecturas sub judice. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.        

VALOR E PREÇO DA FORÇA DE TRABALHO

Como vimos no texto imediatamente precedente, publicado neste portal eletrônico, não existe ainda nenhum estudo sobre a produção capitalista da força de trabalho como mercadoria.

Em sua obra O Capital, Karl Marx define o valor de uma mercadoria como o tempo de trabalho humano socialmente necessário à sua produção, mas mais adiante assevera que o valor da força de trabalho como mercadoria consiste no valor dos meios de subsistência necessários à produção do trabalhador médio. 

Bem, de proêmio, tal diferença conceitual configura uma aporia lógica, pois o valor da força de trabalho, se não é calculado pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário, contradiz o cerne mesmo desta teoria do valor, de tal sorte que a força de trabalho não poderia ser considerada como mercadoria. 

Outrossim, tal aporia desdobra-se em tautologia, pois o termo "valor" aparece tanto na definição como no objeto que está sendo definido, o que configura uma circularidade ou redundância que abala a consistência lógica do conceito. 

Mas a mente genial de Karl Marx incorre em tais equívocos lógicos e teóricos por uma razão histórica: a força de trabalho como mercadoria, na época de Marx, ainda não era totalmente produzida de forma capitalista, isto é, não era produzida mediante trabalho assalariado que rende mais-valia, mas era produzida de forma ainda, digamos, "artesanal" no seio da família pelas tarefas domiciliares de seus respectivos membros, dado o caráter eminentemente manual da força de trabalho, que não exigia qualificação intelectual ou escolar naquela época.

Faz-se mister aduzir que somente neste século XXI, com o advento da assim denominada revolução digital (que difundiu o trabalho eminentemente intelectual em larga escala na produção de software), a força de trabalho passou a ser plenamente produzida de forma capitalista, mediante o trabalho assalariado dos professores no âmbito escolar ou acadêmico, dado o jaez eminentemente intelectual dessa nova força de trabalho produtora de software. 

Estudiosos como Kalecki e Keynes investigaram especificamente os salários, isto é, os preços da força de trabalho, ou a expressão monetária do respectivo valor, mas somente no aspecto da circulação dessa força de trabalho como mercadoria, sujeita a flutuações de oferta e demanda econômicas no cerne do capitalismo, mas não se debruçaram sobre a PRODUÇÃO CAPITALISTA  da mesma força de trabalho como mercadoria.

Impende, pois, encetar esse estudo do valor da força de trabalho como mercadoria produzida de forma capitalista. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

sábado, 7 de junho de 2025

PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO COMO MERCADORIA

Vimos, neste portal eletrônico, como Karl Marx incorreu em aporias e tautologias em decorrência do incipiente desenvolvimento da força de trabalho como mercadoria na época em que elabora sua obra prima, O Capital, pois somente neste século XXI, com a revolução digital, a força de trabalho foi completa e plenamente transformada em mercadoria mediante a subsunção total do trabalho no capital, isto é, a submissão completa de todas as potencialidades do trabalho, tanto físicas quanto intelectuais, ao domínio do capital. 

Nesse diapasão, a força de trabalho eminentemente manual, que era produzida de forma não capitalista pelas tarefas domésticas no âmbito familiar, cedeu lugar, no século XXI, à força de trabalho eminentemente intelectual engajada na produção de software, que agora é produzida de forma capitalista no âmbito escolar e acadêmico pelo trabalho assalariado dos professores. 

Ora, é por isso que Karl Marx não se aprofundou na investigação percuciente da produção e circulação da força de trabalho como mercadoria, muito simplesmente porquanto ela não era produzida de forma capitalista na época de seus estudos, no século XIX.

De alguma forma, tal lacuna foi preenchida por Michal Kalecki e John Maynard Keynes em suas respectivas obras nos anos 1930, mas estes autores investigaram tão somente o processo de circulação da força de trabalho como mercadoria, e não o processo de sua produção, dada a incipiência do desenvolvimento da produção capitalista da força de trabalho como mercadoria, acima deslindada. 

Urge investigar, agora, este processo de produção capitalista da força de trabalho como mercadoria, de tal sorte que o locus por excelência deste processo é a escola e sua essência mais recôndita é o trabalho assalariado dos professsores. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

A POLÍTICA NA ERA DA REVOLUÇÃO DIGITAL

A hodierna revolução digital trouxe profunda subversão na tradicional divisão social do trabalho e, com isso, favoreceu o fenômeno político atual de ascensão vertiginosa da extrema direita e do fascismo no espectro da luta de classes. 

Sem embargo, ocorreu uma transformação estrutural nesta divisão social do trabalho tradicional, máxime com o advento em larga escala do trabalho assalariado eminentemente intelectual engajado na produção de software, de tal sorte que a antiga fragmentação entre o capital (trabalho intelectual) e o trabalho assalariado (trabalho manual) dissipou-se em grande medida, inclusive com o surgimento de uma nova "aristocracia operária" de programadores assalariados, que se identifica politicamente mais com os patrões capitalistas, através da ideologia do empreendedorismo e do modus operandi de suas funções eminentemente intelectuais (decorrentes de uma maior escolaridade e, por conseguinte, maiores salários), do que com o tradicional operariado das fábricas da indústria de transformação física. 

Destarte, o fascismo, como movimento político de massas de jaez extremista de direita, parece ter encontrado terreno fértil nesta subversão da tradicional divisão social do trabalho e na nova aristocracia operária acima aludidas, enquanto os partidos tradicionais da classe operária fabril, em declínio econômico e quiçá demográfico, arrostam dificuldades quanto à adaptação a essa nova conjuntura.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

LOUIS ALTHUSSER, OU O ANTI-HUMANISMO TEÓRICO A SERVIÇO DO HUMANISMO PRÁTICO.

Enquanto perdurar a fragmentação da espécie humana em classes sociais antagônicas e Estados nacionais em permanente situação de beligerância recíproca, a humanidade remanescerá expressando um conceito teórico vago e vazio de significado, sem correspondência na prática concreta.

Mas tal fragmentação do homo sapiens decorre de relações de produção que seus representantes estabelecem entre si de forma heterônoma e alienada, e que governa seu destino histórico, à sua revelia, em razão de forças produtivas ainda pouco desenvolvidas, especificamente no que pertine à produção e reprodução da sua vida material.

Portanto, a teoria social apta a informar uma prática revolucionária capaz de superar tal fragmentação, decorrente de relações de produção heterônomas e alienadas, somente pode adquirir contornos de um anti-humanismo, no exato sentido em que capta a inexistência prática e concreta da humanidade, mas peleja por sua implementação em um novo modo de produção da vida material, denominado comunismo, que suplantará o que Marx sardonicamente designava "toda a velha merda", isto é, todos os modos de produção historicamente precedentes que perpetuavam a divisão da sociedade em classes sociais antagônicas e nações em guerra.

Para o grande teórico marxista Louis Althusser, os seres humanos, antes do advento do comunismo, são meros vetores de determinações estruturais do capital, daí seu anti-humanismo teórico, pois estes seres humanos são governados pelo capital, e não o contrário.

Mas essa postura teórica está plenamente a serviço do humanismo prático e revolucionário, que atingirá a humanidade concreta e verdadeira no comunismo.

Um anti-humanismo coerente e consequente, malgrado não de todo isento de problemas, na exata medida em que, se a humanidade atual é uma falácia como conceito vago e vazio de significado, a espécie biológica do homo sapiens é uma realidade, e anote-se que Karl Marx era admirador confesso de Charles Darwin. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

ISAAC NEWTON E KARL MARX

O problema do papel dos indivíduos na história exibe-se extremamente complexo, desde que a historiografia deixou de narrar essa história humana da perspectiva dos grandes eventos e fatos políticos liderados por heróis carismáticos, e passou a direcionar seus estudos, sob forte influência do marxismo, aos grandes conglomerados sociais, tais como modos de produção e classes sociais. 

Mas o fato é que há indivíduos excepcionais que, decerto, influenciam o curso da história humana de alguma forma, seja acelerando, seja retroagindo, seja ainda desviando, enfim, o que seria do século passado sem a obra do próprio Karl Marx, por exemplo? Mas este expoente das ciências sociais também é fruto das condições da história, nomeadamente da revolução industrial inglesa do século XVIII, que inaugurou a classe proletária em sua configuração moderna, o que demonstra a complexidade do assunto em comento e, por outro lado, o que seria da Revolução Russa sem Karl Marx?

Ora, se no âmbito das ciências humanas o assunto é controverso, nas ciências ditas naturais o problema se agrava. 

O que seria, verbi gratia, da mesma revolução industrial inglesa do século XVIII sem a obra de Sir Isaac Newton, publicada cem anos antes de tal evento histórico? Mas este cientista não seria fruto genuíno da grande Revolução Puritana do século XVII, que colocou a Inglaterra na dianteira do desenvolvimento econômico, cuja culminância foi a aludida revolução industrial?

Bem, a questão parece inesgotável, por ora.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.       

quinta-feira, 5 de junho de 2025

2029

Parece haver um certo padrão no desenvolvimento do modo capitalista de produção, de tal sorte que a cada cem anos observa-se uma grande revolução tecnológica que de certa maneira perturba seu evolver linear: destarte, após a grande revolução industrial inglesa da segunda metade do século XVIII, constata-se a revolução industrial do final do século XIX que instituiu a grande indústria mecânica de bens de consumo duráveis, máxime no setor de transporte com destaque para o autormóvel e, hodiernamente, desde a década de 1980 aproximadamente, vivemos o período da atual revolução digital, que completou a subsunção do trabalho no capital ao submeter todas as potencialidades da força de trabalho, tanto físicas quanto intelectuais. 

Christine Lagarde, a toda poderosa advogada francesa, atualmente na presidência do Banco Central Europeu, ao que tudo indica, também percebeu tal padrão secular acima deslindado, postulando recentemente que a década de 2020 repete os anos 1920, nomeadamente no que pertine ao recrudescimento do nacionalismo econômico, com reveses na cadeia de suprimentos e na integração do comércio mundial, bem assim o notável progresso tecnológico, de tal forma que sugere uma provável nova era de crise sistêmica, em breve, no âmago do capitalismo global. 

Será que o ano de 2029 repetirá a grande depressão de 1929?

Estaremos preparados para soterrar definitivamente o iníquo e ineficiente modo capitalista de produção?




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

AO CAMARADA CIRO SEIJI YOSHIYASSE

Muito se comenta sobre a relação entre teoria e prática, máxime sobre como a primeira pode iluminar e orientar a segunda, colimando a revolução do modo de produção da vida material humana.

Mas o que seria da vida humana sem a arte, que também encerra o condão de iluminar o real?

Há um camarada que me parece representar a máxima manifestação da divisa esgrimida pelo lendário comandante Che Guevara: "É preciso endurecer a luta, mas sem perder a ternura jamais"

O seu nome é Ciro Seiji Yoshiyasse, um artista de raríssima sensibilidade e inacreditável modéstia, capaz de proezas de humildade tais como incinerar as próprias poesias que elabora com ternura ímpar, derivada de um profundo sentimento de urgência de salvar toda a humanidade, e para quem as noites não podem corresponder a momento de descanso, pois faz-se mister aproveitar todos os instantes da vida na tarefa gigantesca de fazer nascer um novo mundo em que cada um possa brilhar intensamente como estrela cintilante. 

Homem de generosidade única, o camarada Ciro, além de poeta marginal, destaca-se como inspirado gravurista, artista multimídia, notável pesquisador e, no restante do tempo, respeitado trabalhador industrial.

Mas todo este talento invejável encerra como corolário a intensa militância política em favor de uma sociedade mais justa e igualitária, em que urge a vida humana.

Não tenho, como ele, o dom da poesia, para quiçá entoar as mais belas loas encomiásticas que Ciro merece, mas fica aqui, humildemente, o meu testemunho de admiração e respeito profundos. 

EVOÉ, GRANDE CAMARADA CIRO!



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

AINDA SOBRE AS APORIAS DA ORTODOXIA ECONÔMICA

O Brasil vive um período de bonança com elevação do PIB, aumento da renda salarial e boa parte da população superando a linha da pobreza para integrar a denominada classe média. 

Mas a ortodoxia econômica somente enxerga, nesse quadro auspicioso, a inflação resiliente, que, segundo seus arautos, corrói o poder de compra dos salários, máxime dos salários mais baixos. 

Portanto, segundo esses próceres da ortodoxia econômica, faz-se mister congelar... o salário mínimo!

Ora, a famigerada curva de Phillips, segundo eles, demonstra que a culpa da inflação recai sobre os salários muito altos, de modo que é preciso reduzi-los para controlar a inflação, que corrói esses salários!

Em suma, a ortodoxia econômica é um círculo vicioso de aporias sem fim, um embuste, na verdade.

Os altos salários e o baixo nível de desemprego somente provocam inflação de modo indireto, na medida em que os empresários não podem reduzir tais salários, para anular a tendência declinante de suas taxas de lucro, em razão da alta demanda do capital por força de trabalho, restando-lhes então aumentar os preços da mercadorias por eles produzidas, o que resulta em inflação. 

Enfim, é a necessidade imperiosa de manter a taxa de lucro que provoca inflação, e não os altos salários. 

Enquanto não houver uma política de resolução das acintosas desigualdades sociais no país, com redução dos lucros e aumento dos salários de forma duradoura e estrutural, o Brasil permanecerá sendo a nação de pior distribuição de renda do mundo e assolado pela inflação. 

Dedico este singelo texto ao professor Luiz Eduardo Simões de Souza, que me alertou sobre as armadilhas da curva de Phillips.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

LOUIS ALTHUSSER E WALTER BENJAMIN: A FORMA E O CONTEÚDO.

Walter Benjamin considera o cinema em sua forma como mercadoria, uma arte que perdeu a respectiva aura, mas não concede, em seu estudo, a mesma importância à função ideológica, a saber, o conteúdo deste fenômeno audiovisual na reprodução do modo capitalista de produção. 

Por outro lado, Louis Althusser investiga a educação em seu conteúdo e função ideológica como aparelho e instância de reprodução do modo capitalista de produção, mas olvida, em certo sentido, o jaez do fenômeno educacional como forma de produção da força de trabalho enquanto mercadoria, máxime da força de trabalho eminentemente intelectual dos programadores de software. 

Mas os limites de tais expoentes da kulturkritik, acima mencionados, decorre na verdade de um fator histórico, pois eles refletem sobre o capitalismo em sua fase que antecede a época de subsunção total do trabalho no capital da hodierna era da revolução microeletrônica e da assim denominada inteligência artificial, que submete a força de trabalho em todas as suas potencialidades, tanto manuais quanto intelectuais.

O cinema e a educação adquirem, atualmente, sua máxima expressão como fatores atuantes na reprodução do capitalismo enquanto forma de sociabilidade humana, mas tal expressão máxima não se manifestava na época em que os autores em epígrafe elaboraram suas obras.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

domingo, 1 de junho de 2025

ELEMENTOS PARA UMA POSSÍVEL MACROECONOMIA MARXISTA

Diviso três grandes fases históricas do modo capitalista de produção, a saber:

1. Subsunção formal do trabalho no capital: período da manufatura, do século XV ao século XVIII, quando ocorre a grande revolução industrial inglesa; 

2. Subsunção real do trabalho no capital: período da maquinaria e grande indústria, do século XVIII ao século XX, ainda com predomínio do trabalho eminentemente manual;

3. Subsunção total do trabalho no capital: a partir do século XXI, com a revolução digital e o advento da assim denominada inteligência artificial, quando todas as potencialidades do trabalho, tanto físicas quanto intelectuais, ficam submetidas ao controle do capital. 

Observo e destaco que a teoria marxista do valor somente adquire sua expressão e desenvolvimento máximos na fase 3, parecendo lícito ventilar que tal teoria incorreu em aporia e tautologia ao postular que o valor da força de trabalho como mercadoria é, distintamente das demais mercadorias, determinado pelo valor dos meios de subsistência necessários ao trabalhador médio, e não diretamente pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário à sua produção e reprodução. 

Esta tautologia foi superada histórica e praticamente com o advento da fase 3, quando o trabalho eminentemente intelectual, engajado na produção de software, passou a demandar uma força de trabalho respectiva produzida pelo trabalho assalariado dos professores no âmbito escolar e acadêmico.

Destarte, a partir da fase 3 é possível calcular com certa precisão numérica o que denomino taxa social de mais-valia, que corresponde ao tempo de vida útil médio de trabalho, subtraído pelo tempo de formação da força de trabalho, cujo resultado é divido por este mesmo tempo de formação da força de trabalho. 

No caso do Brasil atual, por exemplo, a Previdência Social, mediante cálculos atuariais, prevê um tempo de vida laborativa médio, para o trabalhador do sexo masculino, de 35 anos, os quais, subtraídos pelos 21 anos de formação familiar e escolar da força de trabalho respectiva, resultam em 14 anos, os quais, dividos pelos 21 anos de formação da força de trabalho, resultam em uma taxa social de mais-valia de 0,67, ou dois terços. 

Os elementos acima esgrimidos foram extraídos de textos precedentes publicados neste portal eletrônico. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.