Se considerarmos a taxa de mais-valia do capital individual como idêntica à taxa social da mais-valia, somos levados a identificar uma contradição estrutural e insuperável no interior do modo capitalista de produção, especialmente para o capital individual investido no setor educacional. A razão dessa contradição reside no fato de que, quanto maior a escolaridade média da classe trabalhadora, menor tende a ser a taxa social de mais-valia. Isso ocorre porque o tempo de escolarização representa, em última instância, um período de não-valorização direta do capital, retardando o ingresso do trabalhador no ciclo da produção de mais-valia.
Assim, o capital individual investido em educação encontra-se diante de um impasse: embora contribua para a formação da força de trabalho, sua função sistêmica reduz a exploração média do trabalho na sociedade como um todo, ao elevar o tempo necessário à sua formação. O capital educacional, portanto, opera num paradoxo: atua na preparação de uma força de trabalho qualificada, mas, ao mesmo tempo, mina a base ampliada da extração de mais-valia ao estender o tempo improdutivo (do ponto de vista do capital) que antecede o ciclo produtivo.
Essa contradição revela os limites internos da planificação capitalista baseada no lucro individual, pois os interesses do capital singular, mesmo quando alinhados à lógica sistêmica de reprodução do capital, podem colidir com a reprodução ampliada da mais-valia no plano social. Nesse sentido, a própria racionalidade do capital entra em dissonância consigo mesma, tornando a educação um campo de tensão entre a valorização individual e a desvalorização social relativa.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
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