domingo, 5 de fevereiro de 2023

Estudos em homenagem a Lincoln Secco. Quarto estudo: do pêndulo epistêmico.

Na epistemologia em geral, e no âmbito do marxismo em particular, há um certo embate provecto e vetusto entre os métodos indutivo e dedutivo, correspondentes respectivamente ao empirismo britânico e ao racionalismo francês. 

No marxismo, tal embate adquiriu contornos de paroxismo na querela específica entre os autores Edward Palmer Thompson e Louis Althusser, sobre o qual já se discorreu neste portal eletrônico no texto intitulado "Breve escrito experimental", em que se releva o empirismo agudo do primeiro, com suas categorias históricas, e o racionalismo exacerbado do segundo, com seus vetores de determinações estruturais do capital. 

Em Thompson, o tempo empírico corresponde aos indivíduos concretos, em suas manifestações culturais, o que remete ao tempo do segundo estudo da vertente série; em Althusser, o tempo é substituído pela lógica, como em um planetário (na analogia adotada por Thompson) de movimentos determinados, o que conduz ao tempo da física do primeiro estudo desta mesma série.

Escapa a ambos estes autores a lógica do tempo histórico, aquele da Ciência da Lógica de Hegel, tão bem estudada por Lênin em sua leitura de O Capital, em que as categorias econômicas de mercadoria, dinheiro e capital sucedem-se ao longo do tempo para conformar o modo capitalista de produção. 

Marx supera destarte os métodos indutivo e dedutivo da lógica apofântica com seu método materialista dialético, em que as categorias econômicas são a um só tempo históricas e lógicas, vale dizer, categorias concretas, correspondentes ao empírico pensado, apropriado pelo pensamento mediante a lógica dialética.

(pelo coletivo do Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores) 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Estudos em homenagem a Lincoln Secco. Terceiro estudo: do tempo histórico.

Nos dois primeiros estudos investigamos brevemente os tempos, respectivamente, da física e dos indivíduos humanos, agora tangenciaremos grosso modo o tempo das sociedades humanas. 

Nesse diapasão, faz-se mister aduzir que o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel aparece como o pioneiro a descortinar a inteligibilidade da história das sociedades humanas, a saber, o precursor da intelecção do evolver dos grandes aglomerados humanos que suplantam a história do indivíduo humano, sendo certo que descobriu a lógica que rege tal desenvolvimento social consubstanciada no trinômio dialético tese/antítese/síntese, notadamente em sua Ciência da Lógica. 

Mas Hegel cinge-se à história humana, pois seu idealismo absoluto, ou racionalismo radical, não autorizam a intelecção daquilo que veio antes do homo sapiens, limitação esta que foi superada quase simultaneamente por Charles Darwin e Karl Marx, que adotaram uma postura materialista e inverteram o idealismo de Hegel: nesse sentido, Darwin descortinou a lógica da história natural ao desvelar a evolução das espécies mediante a luta pela sobrevivência dessas espécies, enquanto Marx descobriu a lógica da história humana nas lutas de classes sociais e na contradição primordial entre relações de produção e forças produtivas. 

A lógica do tempo histórico no planeta Terra, destarte, mediana entre o tempo da física e o tempo dos indivíduos humanos, foi assim descortinada por tais grandes pensadores europeus entre os séculos XVIII e XIX. 

Mas é preciso também asseverar que o determinismo positivista suscitado pelo filósofo francês Auguste Comte também inspirou sobremodo a ciência da história, senão vejamos. 

Parece cediço o grande desenvolvimento da historiografia a partir da noção de longa duração concebida pelo historiador francês Fernand Braudel, cujo mar Mediterrâneo, todavia, foi sensivelmente inspirado no sertão de Euclides da Cunha.

Sim, pois Braudel morou e trabalhou no Brasil na década de 1930, onde teve contato com a grande obra do gênio de Cantagalo, que por seu turno era discípulo de Auguste Comte por intermédio do militar brasileiro Benjamin Constant. 

Destarte, o determinismo geográfico de Euclides da Cunha, notadamente em Os Sertões, foi decisivo na formulação do conceito de longa duração na obra O Mediterrâneo de Fernand Braudel, conquanto este jamais tenha admitido manifestamente sua influência pelo Euclides brasileiro. 

(pelo coletivo do Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores)   

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Estudos em homenagem a Lincoln Secco. Segundo estudo: memória, identidade e tempo.

Abordamos no primeiro estudo a questão do tempo da física, notadamente a maneira, em linhas gerais, como foi superada a noção de tempo absoluto, substituída pela acepção de tempo-espaço da teoria da relatividade de Albert Einstein.

Cuidaremos agora do tempo absoluto, ou melhor, de como a constituição material e corpórea dos seres humanos favorece essa noção equivocada de tempo.

Nesse diapasão, faz-se mister aduzir que a matéria do corpo humano transforma-se de modo contínuo, de tal sorte que a cada minuto já não somos mais o que fomos há um minuto ou alguns segundos!

Todavia, o cérebro humano é dotado de memória, imagens e sensações arquivadas que nos aparelham com a noção de identidade, vale dizer, a falsa sensação de que somos sempre a mesma pessoa apesar das transformações que nosso corpo material sofre ao longo do tempo, o que faz esse tempo parecer absoluto, isto é, homogêneo em sua caminhada, como se ele fosse passível de mensuração independentemente do observador, o que constitui um equívoco fundamental!

Logo, o tempo absoluto dos relógios, na verdade, decorrem da própria conformação física do Homo sapiens, e por isso sua superação pela ciência foi tão árida e remanesce provocando equívocos e mal-entendidos.

No próximo estudo tangenciaremos a questão do tempo da história humana!

(Pelo coletivo do Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores)