terça-feira, 18 de março de 2025

HISTÓRIA QUANTITATIVA

A certa altura de sua Ciência da Lógica, Hegel ensina com a devida propriedade que alterações quantitativas de certa magnitude transformam-se em mudanças qualitativas. 

Mas a história, se não pretende confinar-se no retrato estático de determinado momento no tempo, mas colima apreender e captar o movimento histórico no devir e sua lógica dialética, deve examinar as mudanças qualitativas, como nas revoluções que transformam um modo de produção, de tal sorte que a história quantitativa antolha-se-nos absolutamente necessária, mas não totalmente suficiente, pois faz-se mister precisamente, ao historiador dialético, vasculhar em que momento se verifica uma alteração qualitativa no devir. 

Ex positis, a história quantitativa não deve ser de forma alguma desprezada, mas não pode ser hegemônica. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

segunda-feira, 17 de março de 2025

CONJECTURAS SOBRE A EMISSÃO DE DINHEIRO NA HISTÓRIA ECONÔMICA

1. No período manufatureiro da subsunção meramente formal do trabalho no capital, previamente ao advento da maquinaria e grande indústria, isto é, na época do Estado absolutista e mercantilista, estribado no antigo sistema colonial, como já suscitamos aqui neste portal eletrônico, a mais-valia é capturada primordialmente no processo de circulação de capital, mediante diferenças nos preços das mercadorias entre colônia e metrópole, cabendo destacar que a este período histórico corresponde a emissão de dinheiro, em sua forma metálica, no próprio processo de circulação de capital, ou de mercadorias, sendo certo que o Estado apenas acumula metais preciosos, como ouro e prata, mediante sua política econômica metalista. 

2. Já no período da maquinaria e grande indústria, com o respectivo advento da subsunção real do trabalho no capital, a mais-valia passa a ser obtida no processo de produção de capital, e o dinheiro passa a ser emitido pelo Estado como moeda fiduciária ou papel-moeda.

3. Com a hodierna revolução digital ou microeletrônica, o processo de circulação de capital retoma seu protagonismo na extração da mais-valia, sendo certo que o dinheiro, ainda que de forma incipiente, volta a ser emitido neste processo de circulação de capital, na forma de criptomoedas ou moedas digitais, à revelia do Estado, o que tem ressuscitado e reanimado as ideias ultraliberais de privatização do dinheiro e da emissão de moeda, malgrado já se observem algumas poucas tentativas de emissão estatal de moeda digital oficial. 

Conjecturas sub judice.  




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

sábado, 15 de março de 2025

O DIREITO CONTRA A HISTÓRIA

O direito da sociedade civil burguesa, na acepção gramsciana, exibe jaez eminentemente conservador, na exata medida em que funciona e existe para resolver as contradições e conflitos ínsitos a tal sociedade, com instituir o Poder Judiciário como instância e autoridade estatal máxima de resolução de contendas. 

Outrossim, ele rege e disciplina as manifestações empíricas do modo capitalista de produção nas relações individuais, as assim denominadas relações jurídicas, sendo certo que as relações e conflitos de classes sociais são temas de regulamentação especial, como a Justiça trabalhista e a justiça eleitoral no caso brasileiro, mas sempre colimando a resolução de contradições e conflitos para a manutenção do status quo, de tal sorte que o máximo que se pode haurir juridicamente dos conflitos sociais são reformas das relações jurídicas, jamais um processo revolucionário das relações de produção fundantes do modo capitalista de produção. 

Todavia, em sentido dialético, as contradições e revoluções são os verdadeiros motores da história, que o direito burguês tende a reprimir e coibir como um freio social e institucional conservador do status quo.

Por outro lado, o direito nos modos de produção que vierem a transcender o capitalismo, consoante esboçado por teóricos do cariz de Pachukanis, Stutchka e Canotilho, verbi gratia, deverá, ao contrário, promover o progresso histórico em direção a formas mais avançadas, e justas, de sociabilidade. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

VALOR E PREÇO NA HISTÓRIA

 Há um pêndulo histórico quanto à extração de mais-valia, que se alterna entre a extração na produção de valor e a extração na imposição de preços, a saber:


1. No período da subsunção meramente formal do trabalho no capital característico da manufatura anterior ao advento da maquinaria e grande indústria, ou seja, o período dos Estados absolutistas e do antigo sistema colonial, a mais-valia é extraída na diferença de preços no processo de circulação de capital, máxime nas diferenças de preços nas metrópoles e nas colônias;

2. ⁠No período do capitalismo concorrencial, a mais-valia é extraída no processo de produção de capital, isto é, no processo de valorização de valor, com redução dos preços;

3. ⁠No período do capitalismo monopolista, retornamos à extração de mais-valia através dos preços, nomeadamente os preços administrados, no processo de circulação de capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

CONCORRÊNCIA E MONOPÓLIO

À medida que o capitalismo desenvolve-se no curso do tempo, a concorrência vai sendo substituída pelos monopólios. 

O período histórico do capitalismo concorrencial é caracterizado pelo contínuo progresso do processo de produção de capital, pois a concorrência pede a redução dos preços das mercadorias, sendo certo que a mais-valia é extraída primordialmente nesse processo de produção de capital. 

Já o período histórico do capitalismo monopolista distingue-se pelo contínuo progresso do processo de circulação de capital, com a introdução de novos valores de uso de preços elevados, sendo certo que a mais-valia é extraída primordialmente nesse processo de circulação de capital, mediante a terceira forma de mais-valia relativa, consoante restou explanado no meu texto intitulado "As quatro formas de mais-valia", publicado neste portal eletrônico. 





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

quinta-feira, 13 de março de 2025

Donald Trump entre o Vale e o Cinturão

 Trump equilibra-se entre o Vale do Silício e o Cinturão da Ferrugem, entre a ascendente indústria do software e a decadente indústria pesada, é uma contradição capitalista ambulante!


Sem embargo, o declínio das taxas de lucro do setor da indústria da transformação estadunidense provocou um deslocamento de capital em direção à novel indústria de tecnologia, mais lucrativa, operando uma intensa decadência do outrora pujante Cinturão da Ferrugem estadunidense e a ascensão do Vale do Silício californiano.


Sucede que tal fenômeno comprometeu a complexidade e a autonomia da economia dos Estados Unidos, pois a revolução digital atua primordialmente no processo de circulação de capital, mas a integridade da economia de um país depende do processo de produção de capital, que é preponderante, de tal sorte que a nação yankee restou fragilizada, no âmbito da divisão internacional do trabalho, máxime porquanto o vácuo do Cinturão da Ferrugem foi ocupado pela ascendente indústria da transformação da China, um adversário político e econômico de importância inconteste.


A política econômica nacionalista e protecionista de Trump colima, pois, recuperar a complexidade e a integridade da economia estadunidense com a ressurreição da indústria de transformação do Cinturão da Ferrugem, malgrado o forte apoio que o republicano encerra entre os magnatas do Vale do Silício.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

PSDB E PT

 Vou me arriscar e dar pitaco em análise política, conquanto isso não seja muito a minha “praia”


A social democracia do Estado do bem-estar social está em vias de definhar com o avanço inexorável do neoliberalismo decorrente das novas necessidades de extração de lucro a fórceps, em razão do declínio da taxa de lucro prevista por Karl Marx.


O partido herdeiro dessa tradição social democrata no Brasil, o PSDB está em vias de extinção, deixando um vácuo político em vias de ocupação pela extrema direita de matiz bolsonarista.


Mas a social democracia do bem estar social foi uma experiência conjuntural derivada de um período de relativa bonança ensejada pela segunda revolução industrial da indústria pesada, bem assim da guerra fria.


Daí a brevidade da experiência política consubstanciada no PSDB no Brasil, um partido conjuntural.


Já o Partido dos Trabalhadores finca raízes mais profundas e estruturais, conquanto também seja fruto da segunda revolução industrial da indústria pesada, pois está alicerçado na classe trabalhadora, que se nos antolha ínsita à própria essência do modo capitalista de produção.


A existência do PT, portanto, deve ser mais longeva do que a do PSDB, mas a dificuldade de renovação dos quadros petistas reflete precisamente sua origem na indústria pesada.


A hodierna revolução digital impõe desafios ao PT em razão das alterações e vicissitudes da classe trabalhadora e do trabalho intelectual na produção do software como mercadoria, mas a existência desse partido pode ser prolongada e relevante se ele souber adaptar-se às novas injunções da história econômica.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 10 de março de 2025

MARXISTAS E BURGUESES NA ECONOMIA

 Os economistas burgueses, tanto liberais quanto keynesianos, enfatizam o processo de circulação de capital, eis que o processo de produção de capital revela a exploração da força de trabalho na extração da mais-valia: seu universo científico circunscreve-se, portanto, à oferta e à demanda econômicas, mas a planificação da economia não se situa em seu escopo.


Já os economistas marxistas enfatizam o processo de produção de capital, a saber, a extração da mais-valia, mas descuram, em certa medida, do processo de circulação de capital: isso se deve à obra magna O Capital, de Karl Marx, que investigou principalmente a mais valia e o processo de produção de capital da primeira revolução industrial, a inglesa do século XVIII, a qual não afetou o processo de circulação de capital com inovações nos valores de uso, ao contrário das revoluções industriais ulteriores.


Sintomaticamente, a extinta URSS revolucionou radicalmente as relações de produção ou propriedade, colimando erradicar a mais-valia, mas malogrou no processo de planificação econômica, em que a circulação e distribuição de bens exibe-se preponderante.







Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

MARX E A UNIÃO SOVIÉTICA

 A União Soviética, como parece cediço, exibiu altas taxas de crescimento econômico desde sua fundação até os estertores da década de 1970, quando sua economia começou a declinar, ou seja, seu milagre econômico corresponde precisamente ao período da assim designada segunda revolução industrial, caracterizada pela ascensão da indústria pesada de bens de consumo duráveis, máxime o automóvel.


Quer me parecer, portanto, que a planificação econômica centralizada soviética logrou sucesso quanto a tal revolução industrial, mais circunscrita ao processo de produção de capital, mas malogrou quanto à subsequente revolução digital, a qual promoveu reviravolta no processo de circulação de capital, com novos valores de uso vinculados a tal processo.


Parece certo, outrossim, que a crítica da economia política de Karl Marx privilegiou, em alguma medida,  a investigação do processo de produção de capital em detrimento do processo de circulação de capital, talvez pela limitação imposta pelo seu estado de saúde.


Seria urgente, nesse caso, uma revisão da crítica da economia politica voltada ao processo de circulação de capital, talvez seu aprofundamento?


Hipóteses sub judice.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

INDENIZAÇÃO?

 Já esgrimi neste portal eletrônico a indenização da classe capitalista pela expropriação de seus meios de produção em eventual revolução política de jaez anticapitalista, para evitar os custos de uma guerra civil, lastreado no exemplo histórico da Revolução Inglesa do século XVII, em que ocorreu uma acomodação política entre aristocracia e burguesia por intermédio do instituto da renda da terra.


Sucede, todavia, que esta acomodação política foi estabelecida entre classes sociais dominantes que vivem do trabalho alheio, e encerrava como objetivo evitar um levante das classes trabalhadoras que poderia ser radicalmente subversivo.


No caso de uma revolução proletária, trata-se de erradicar qualquer forma de exploração do trabalho alheio, portanto parece descabida, em exame perfunctório, a indenização pela expropriação dos meios de produção.


Remanesce a vetusta questão:


O que fazer?






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

RUMO ÀS ESTRELAS

 Rumo às Estrelas

 

Gostei da argumentação do último artigo do Luís Fernando, Superata Tellus, Sidera Donat, tanto que até fui pesquisar o significado título, que pode ser traduzido como A Terrasuperada, dá as estrelas. A frase é de Boécio, que pelo que entendi, é um filósofo medieval, mas minha pesquisa sobre o título foi só até aí.

Eu me mexi para escrever porque o assunto abordado no artigo é algo que sempre me vem à mente, como aficionado da conquista espacial e inconformado com a finitude da humanidade, uma vez que nosso planeta inevitavelmente deixará de existir quando o sol se tornar uma gigante vermelha e seu raio se expandir até (ou além, não sei ao certo) órbita de Marte, engolindo os planetas interiores. Obviamente, a vida neste planeta terá se extinguido muito antes disso. Esse evento, o fim da Terra, inclusive é tema do primeiro episódio da primeira temporada da retomada da clássica série britânica Dr. Who.

Em outras palavras, se a humanidade quiser sobreviver ao nosso planeta, terá que deixá-lo em algum momento e aí reside o grande problema. Viagens interestelares são absurdamente custosas, ao ponto de torná-las praticamente inviáveis para uma criatura viva, devido principalmente a dois fatores: as distâncias gigantescas ambiente extremamente inóspito do espaço. Por mais que eu me divirta com as histórias de ficção científica, em que as pessoas viajam de um planeta a outro como se fossem visitar um amigo em outra cidade, isso é pura fantasia, um conto de fadas tanto quanto as aventuras de espada e feitiçariacom ogros, dragões e meio humanos com orelhas e rabo de gato.

A menos que surja uma descoberta que revolucione completamente a física, mudando tudo o que entendemos do mundo até agora, o que não é totalmente impossível, mas bastante improvável, não há como superar a velocidade da luz. Mesmo para que um objeto massivo atinja essa velocidade seria necessária uma quantidade infinita de energia, literalmente, salvo engando da minha parte, já que escrevo isto de memória. A alternativa de dobrar o espaço, encurtando asdistâncias entre a origem e o destino também é inviável, pois seria necessário criar campos gravitacionais gigantescos, o que até o momento parece impossível.Também me parece que tais campos esmagariam ou a abalariam tudo que estivesse por perto, o que não seria tão perto assim em termos astronômicos.Considerando que a estrela mais próxima de nós, Alfa Centauro, está a quatro anos luz de distância, isto é, levaria quatro anos viajando à velocidade da luz para chegar até elacomeçamos a ter uma ideia dos tempos necessários para essas viagens.

Para contornar problema do tempo a solução que alguns propõem é a das chamadas naves geracionais: uma enorme nave espacial, contendo um meio ambiente auto sustentável e uma tripulação constituída por uma pequena sociedade extremamente estável em que as inúmeras gerações se sucederiam até a chegada ao destino. Uma abordagem ficcional desse conceito pode ser vista no episódio For the World Is Hollow and I Have Touched the Sky da terceira temporada da série original de Star Trek. Além dos enormes problemas técnicos envolvidos em criar sustentar esse ambiente artificial, o fato dessa sociedade tripulação ser obrigada a manter um status imutável ao longo dos séculos de duração da viagem até outra estrela me parece a fórmula perfeita para criar um inferno autoritário onde qualquer manifestação de criatividade ou insatisfação ameaçaria a estabilidade absolutamente necessária para a sobrevivência de todos até o destino. Um controle rígido da natalidade também seria absolutamente necessário, o que, me parece, geraria conflitos constantes, por ir contra a natureza humana.

Porém, além do tempo, há o problema do quanto o espaço fora da Terra é inóspito à vida. Dentro do sistema solar o viajante espacial estaria exposto àsviolentas descargas de radiação emitidas pelo Sol e quando se afastasse o suficiente para se distanciar da influência do Sol, então estaria exposto ao frio extremo, próximo do zero absoluto, do espaço interestelar. Nesse vácuo gelado, também haveria uma completa ausência de recursos energéticos e materiais para manter a vida e o ambiente que sustentaria a vida. É aqui que entra a ideia sugerida pelo artigo supra citado e que há muito atrai o meu pensamento. Quem percorrerá o espaço preservando o nosso legado e o levando a outros mundos serão os nossos herdeiros, mas não de nossos corpos, mas de nossas mentes. Máquinas, androides ou não, dotadas de cérebros artificiais, inteligentes, conscientes e desprovidas das fragilidades da nossa carne, mas imbuídas de nossa razão e de nossas emoções. Emoções essas, espero, menos selvagens que as nossas, mas inevitáveis para dar a essas criaturas motivação, propósito e ímpeto de auto preservação. Esses nossos herdeiros, resistentes às agruras doespaço sideral, talhados para sobreviver ao tempo e ao isolamento em pequenos grupos sociais, viajariam ao longo de milênios, de planeta em planeta, talvez até levando a semente da vida terrestre, o DNA de nossas plantas e animais e até o nosso próprio, para povoar ou terraformar (transformar para que fiquem como aTerra) outros planetas.

Para citar novamente a ficção, um dos inimigos recorrentes do protagonista da série britânica Dr. Who são os Cybermen, uma civilização de autômatos, que por mais que tente, o doutor não consegue destruir, pois mesmo quando ele consegue exterminá-los completamente, no que talvez seja um verdadeiro genocídio, eles reaparecem, evoluindo de outra espécie, em outro planeta, pois substituir seus corpos e mentes por equivalentes artificiais seria o caminho natural para algumas espécies inteligentes. O problema desses Cybermen é o mau hábito de invadir os planetas alheios e impor os seus modos à força.

Espero que, quando atingirmos esse estágio da nossa evolução, a inteligência artificial predominante não tenha sido a desenvolvida por estadunidenses e europeus, notórios pelo imperialismo.



Por PEDRO CREM ALVES PORTO

sábado, 22 de fevereiro de 2025

"SUPERATA TELLUS, SIDERA DONAT"

O monólito que aparece na película cinematográfica intitulada "2001: uma odisseia no espaço" representa, na verdade, uma antiga civilização alienígena que, muito evoluída, superou a matéria bruta do próprio corpo, derrotando a morte. 

Já o computador de inteligência artificial HAL9000, ou algoritmo heurístico, representa por seu turno uma primeira etapa no processo de desvencilhar o pensamento do corpo humano, ou seja, traduz o primeiro movimento, o ensaio inicial de superação da matéria do corpo humano para derrotar a morte.

Seria isto, de fato, a inteligência artificial?

Isto é, uma busca, ainda que inconsciente, de superar a morte?

Não sei ao certo, mas o filme aludido mostra que tal busca não está isenta de contradições e paradoxos, como tudo neste mundo. 





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

CONJECTURAS SOBRE A PACIÊNCIA CHINESA

O texto imediatamente precedente conduz-nos a algumas reflexões inafastáveis, senão vejamos:

1. Por que a China, desde Deng Xiaoping, teria adotado uma economia de mercado capitalista para desenvolver suas forças produtivas, considerando que a lei do declínio tendencial da taxa de lucro funciona como um freio do célere desenvolvimento tecnológico no âmbito do processo de produção de capital, tendo inclusive ensejado a elaboração do controverso teorema de Okishio?

2. Uma das formas de contraposição a tal lei econômica, no meu humilde modo de entender, seria a contínua revolução no processo de circulação de capital, mediante desenvolvimento de novos valores de uso, e não apenas de novos processos produtivos, algo que, no entanto, também encontra seu entrave na tendência inexorável à centralização de capital e consequente formação de monopólios que estiolam a concorrência.

3. Uma economia totalmente estatizada e planificada não poderia induzir ao desenvolvimento mais célere das forças produtivas, malgrado a necessária adoção de computação de altíssima performance, talvez quântica, para o funcionamento de tal planificação?

São conjecturas sub judice. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

PACIÊNCIA CHINESA

 Em interessante artigo publicado pelo jornal britânico Financial Times e republicado pela Folha de São Paulo, enaltece-se a paciência da empresa Microsoft, que levou vinte anos para lograr a façanha de obter um microprocessador quântico lastreado em férmions e batizado pelo epíteto Majorana 1, em homenagem justa ao célebre e misterioso físico italiano.


A extinta União Soviética, como já ventilei aqui, entrou em colapso pela contradição entre suas avançadas relações de produção ou propriedade e as incipientes forças produtivas, nomeadamente sua fragilidade em computação e, portanto, em termos de computação quântica, única capaz de processar trilhões de dados de produção e consumo de todos os agentes econômicos para fins de planificação econômica socialista.


Mas a paciência da Microsoft é tímida em cotejo com a paciência do Partido Comunista Chinês, que desde a década de 1970 está em compasso de espera do desenvolvimento de suas forças produtivas, máxime da computação quântica, para adotar relações de produção realmente socialistas e uma planificação econômica digna dessas relações de produção.


Michelangelo tinha mesmo razão:


Genialidade é paciência, algo que os chineses têm de sobra.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

PSICANÁLISE E EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

 Na sua epistemologia genética, Jean Piaget descreve o desenvolvimento cognitivo individual como um movimento de progressiva descentração, vale dizer, o autoconhecimento parece ser uma premissa do assim denominado espírito científico.


Com efeito, a dúvida sistemática cartesiana acerca de si mesmo constitui um dos pilares da ciência, e isso vale não apenas para o indivíduo humano, mas para a humanidade em seu evolver histórico, em consonância com o bordão de que a ontogênese recapitula a filogênese.


Portanto, a psicanálise de Sigmund Freud pode ser uma grande aliada não apenas no tratamento psicológico, mas também no desenvolvimento científico, na medida em que promove o autoconhecimento de forma enfática.


Isso porque o indivíduo também pode ser considerado um microcosmo da humanidade, na exata medida em que é fruto da sociedade atual e das gerações passadas.


O aspecto afetivo de Freud e o aspecto cognitivo de Piaget são, sem embargo, indissociáveis.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

A PAIXÃO SEGUNDO NIETZSCHE

 Jesus Cristo e Sócrates foram ambos condenados à morte, o primeiro por exaltar o amor, o outro por enaltecer a razão, mas esta dicotomia está profundamente radicada no duplo caráter das relações de produção consubstanciadas na categoria econômica da mercadoria enquanto valor de uso e valor de troca, seus aspectos respectivamente concreto e abstrato.


Friedrich Nietzsche colimou encetar a crítica desta dicotomia na denúncia tanto da religião quanto da razão, ao preconizar uma nova ética consubstanciada na acepção do sobre humano.


Mas sua crítica é apenas teórica e não prevê as condições práticas para o advento desta nova ética!


Quem propugna com fundamento as condições práticas para a superação de dita dicotomia é Karl Marx, em sua crítica da mercadoria e seu desdobramento no capital.


Seriam Marx e Nietzsche filósofos mutuamente complementares sob prisma teórico e prático?


Voltaremos a esse assunto!




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

FORÇAS PRODUTIVAS E GEOPOLÍTICA

 Na busca hodierna pela superação do capitalismo por um modo de produção superior, de jaez socialista, a China desempenha um papel geopolítico axial, senão vejamos:


A derrocada da União Soviética foi promovida precisamente por aquilo que Marx previra como contradição entre relações de produção e forças produtivas, mas de maneira invertida: sem embargo, as avançadas relações de propriedade da antiga URSS foram arrostadas e anuladas pelo caráter incipiente das suas forças produtivas, eis que a planificação econômica soviética não dispunha dos meios tecnológicos para lograr êxito.


Supondo que a planificação econômica demande um certo nível mínimo de desenvolvimento tecnológico que envolva internet, big data, algoritmos de inteligência artificial e mesmo computação quântica, consoante temos proposto neste portal eletrônico, parece lícito ventilar que a política desenvolvimentista do partido comunista chinês está correta, pois de nada adianta a instituição de relações de produção avançadas sem a correspondente excelência das forças produtivas, como o demonstra o desaparecimento da União Soviética.


A China moderna já alcançou um bom patamar na questão da assim designada inteligência artificial, mas precisa desenvolver com urgência a tecnologia da computação quântica, única forma de processar bilhões ou trilhões de dados econômicos de produção e consumo a nível mundial para fins de planificação econômica socialista.


Sem tal amadurecimento das forças produtivas, o socialismo remanescerá inviável.


Daí o papel geopolítico axial da hodierna China.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

ECONOMIA SOLIDARIAMENTE PLANIFICADA: UMA HOMENAGEM A PAUL SINGER

Tenho acalentado neste portal eletrônico a defesa da planificação econômica descentralizada mediante adoção de relatórios de produção e consumo individuais enviados pela internet em tempo real a um algoritmo central de inteligência artificial incumbido de coadunar oferta e demanda econômicas de toda a sociedade, com atender as necessidades e capacidades da cada indivíduo. 

Faz-se mister avançar um pouco nesta ainda incipiente proposta.

Nesse diapasão, aventaria que a economia solidária preconizada por Paul Singer já efetua esta coordenação de oferta e demanda econômicas em âmbito local e restrito às cooperativas, colimando atender às necessidades e capacidades dos indivíduos cooperados.

Logo, os relatórios de produção e consumo, a serem encaminhados ao algoritmo central, seriam confeccionados não pelos indivíduos cooperados, mas pelas próprias cooperativas.

Elas funcionariam, por assim dizer, como neurônios encarregados de enviar informações ao cérebro do algoritmo de planificação econômica.   

Em homenagem ao nosso grande incentivador e inspirador, o saudoso economista Paul Singer, denominaria tal sistema como ECONOMIA SOLIDARIAMENTE PLANIFICADA. 





POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.