Lincoln Secco
Seja l’ a
taxa de lucro, m’ a taxa de mais valia (ou de
exploração) e Q a relação entre o capital
constante e o variável (composição orgânica do Capital). Podemos
apresentar uma variante da fórmula de Marx assim:
Não
é pacífica qualquer mensuração da taxa média de lucro. Não
houve consenso sobre como encontrar categorias como mais valia e taxa
de exploração na contabilidade prática dos capitalistas, mesmo
mediante aproximações.
Somem-se
a isso as tentativas de desagregar os dados empíricos e agregar
novamente para atender as exigências teóricas; há ainda a questão
de lidar com o câmbio, o número de rotações das diferentes formas
do capital ou os diversos sistemas estatísticos de cada país. Outra
dificuldade é que do ponto de vista de Marx o correto seria calcular
uma taxa média de lucro mundial ou ao menos das maiores economias do
planeta em conjunto.
Josseph
M. Gillman, por exemplo, constatou que até 1919 houve queda da taxa
de lucro, estabilização da taxa de mais valia e aumento da
composição orgânica do capital nos EUA. Daquele ano até 1939
ocorreu o contrário. Aquilo o intrigou e ele reformulou a fórmula
marxiana em função da passagem do capitalismo concorrencial ao
monopolistai.
Gillman levou em conta os gastos improdutivos: os faux
frais (falsos custos) de Marx. Diante dos altos custos para
a realização da mais valia, ou seja, a circulação das
mercadorias, introduziu no numerador da fórmula original de Marx a
dedução dos gastos com salários de serviços improdutivos como
gestão, vendas, publicidade e impostos. A própria produção exige
serviços improdutivos também, como a segurança, vigilância,
gerência etc. Assim, o numerador da taxa de lucro seria a mais valia
líquida e não a bruta. Sendo m (mais valia), c (capital constante),
v (capital variável) e i (despesas improdutivas):
Ainda
que equivocado na opinião de vários marxistas (entre eles Paul
Mattick), Gillman tratou de um problema real do capitalismo. Vários
levantamentos posteriores apoiaram a ideia de que a percentagem do
trabalho improdutivo cresceu nos EUAii.
Ainda assim, quando Mylène Gaulard calculou a taxa de lucro média
na China “capitalista”, ela considerou difícil distinguir
trabalho produtivo e improdutivo e supôs que subtrair os
trabalhadores improdutivos da massa salarial não afetaria muito o
cálculo da taxa de lucroiii.
De
qualquer modo, a história econômica do século XX comprovou Marx,
ainda que não tenhamos uma medida exata. A taxa de lucro caiu e suas
fases de recuperação foram curtas e abaixo dos níveis de
rentabilidade anterioresiv.
Mesmo na China, a economia se submeteu aos imperativos da lei de
Marx. Desde 1978, quando o país iniciou sua transformação
institucional de mercado, até 2002 a taxa média de lucro caiu de
47% a 32% e a composição orgânica do capital aumentou 50%v.
Mylène Gaulard constatou a queda da taxa de lucro de 1989 a 2012.
O desvio de recursos para a valorização fictícia também tem sido vital para uma economia cujo patrimônio real cresce numa proporção insuficiente em relação à riqueza financeira. Denunciar a financeirização é inútil porque ela existe em função da queda da taxa de lucro e da necessidade de encontrar novas formas de valorização do valor. Também o mercado de arte, terrenos de golf, comércio de seres humanos, especulação imobiliária cumprem o mesmo papel. Mas o capital só se valoriza realmente no terreno produtivo e, por isso, as condições de exploração da força de trabalho continuam sendo essenciais para os capitalistas.
Apesar
das divergências metodológicas, todos os estudos marxistas do tema
mostram por aproximação que a lucratividade do capital em seu
conjunto se torna cada vez mais inviável.
i Gillman,
J. M. La baisse du taux de profit. Paris, EDI, 1980.
ii Harman,
C. The rate of profit and the world today, International Socialism,
n. 115, July 2007.
iii Gaulard,
Mylène. Karl Marx à Pekin. Paris, Demopolis, 2014, p.147. Para
ela, a mais valia corresponde ao PIB menos a massa salarial. No que
tange ao capital constante, ela subtraiu o investimento residencial
da formação bruta de capital fixo.
iv Vide,
por exemplo: Maito, Esteban. La transitoriedad histórica del
capital. La tendencia descendente de la tasa de ganancia desde el
siglo XIX. Razón y Revolución, Buenos Aires, 2013, pp. 129-159.
v O’Hara,
P. A chinese social structure of accumulation for capitalist
long-wave upswuing? Review of radical political economics, summer
2006.