sábado, 22 de janeiro de 2022

BREVE ESCRITO EXPERIMENTAL

Assim como a teoria da evolução das espécies, esgrimida por Charles Darwin, opõe-se diretamente ao criacionismo de matriz religiosa judaico-cristã, a crítica da economia política postulada por Karl Marx opõe-se diretamente aos economistas liberais clássicos caudatários de Adam Smith: se estes divisam capital em todas as sociedades ao longo da história, desde tempos primordiais, a tradição criacionista vislumbra o homo sapiens desde o início do Universo. 

Por isso Marx, na crítica da economia política, adota uma linguagem evolucionista para sintetizar o seu método materialista histórico, aduzindo concisamente que "a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco". 

Nesse diapasão, observa-se que no primeiro livro de sua obra magna, O Capital, Marx opera uma exposição em ordem diacrônica, histórica, das principais categorias econômicas, encetando tal exposição pela mercadoria, passando então pelo dinheiro e chegando enfim no capital, com demonstrar dialeticamente como cada categoria supera e incorpora historicamente a precedente. 

Também para Marx, o concreto é "síntese de múltiplas determinações, unidade do diverso", e podemos acrescentar, com lastro no que já foi ventilado, que tal síntese não é apenas lógico-dialética, mas também diacrônico-histórica, vale dizer, a síntese é um processo histórico, cronológico, que é apreendido pelo conhecimento científico mediante a lógica dialética. 

Por isso, as categorias econômicas, para Marx, não são apenas históricas, como diria Edward Palmer Thompson, nem meramente lógicas, como postularia Louis Althusser, mas sim concretas, refletindo o empírico pensado, dialeticamente raciocinado. 

Demais disso, a categoria de capital supera e incorpora historicamente as categorias de mercadoria e de dinheiro, com se exibir mais concreta, no exato sentido de se mostrar uma unidade mais diversa do que as categorias que lhe são historicamente precedentes e, portanto, mais abstratas, isto é, menos diversas. 

Logo, o movimento histórico do conhecimento científico, que ascende do abstrato ao concreto, reproduz, no pensamento, um movimento histórico-diacrônico real e empiricamente constatável. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)

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