Por CIRO SEIJI, do Núcleo de Estudos d´O Capital do Partido dos Trabalhadores
Hoje fui ver a despedida do Cloves. Foi velado numa fábrica no bairro Serraria em Diadema, nem me pergunte como algo tão adequando encontrou seu caminho. Era quase uma multidão que convergiu para aquela quebrada para cantar a Internacional, e jovens e velhos militantes se revezaram para tecer uma impressionante colcha de retalhos, cada pedaço com uma riqueza de cor e textura, como preciosas frestas da história classe operária, só que por ela mesma; ouro puro: ...Ele quase escapou antes de ser baleado! Dizia um, ...prometi naquela tarde no Anhangabaú que não desistiria!, dizia uma companheira lembrando companheiros presos, ...meu pai ficou furioso comigo porque coloquei a faixa do Boulos no muro de casa.. dizia Thiago não contendo as lágrimas.” Era um militante disciplinado! cumpria as tarefas! no PCB, na ALN, na Oposição Sindical, no PT, na AE...” disse Adriano Diogo tentando pescar lacunas na memória. O gigante negro Miltão Barbosa eu nem ouvi, começou rindo e terminou chorando debaixo de por um monte de outros abraços negros. E vinham mais outros retalhos desta história mililtante : sobrinha acolhida como filha, filhos companheiros, companheiros irmão de luta, e não dava para escutar a todos porque de vez em quando passava um caminhão com caçambas de cavaco – vocês nem sabem o que é isto... quem acha que a classe operária acabou não viu aquelas fábricas e favelas se espalhando dali até o pé da serra do mar, onde a água da represa conteve este formigueiro de gente e cimento. E ao fundo ainda a cadência das prensas Shuller tremendo o chão, sério, não é poesia não - é um baque surdo... a gente sente no coração. Valter Pomar termina a homenagem tão forte quanto afetuosamente: “viveu e morreu como um proletário”. E ainda desafiou a nossa burocracia que rifou a militância do combate do dia 15, e disse que a vida do Cloves serve para lembrar como é lutar sem se perder pelo caminho. Fui embora pensando na minha morte solitária. Fui embora pensando na minha morte provavelmente solitária, e que inveja poder morrer abraçado por tantos!