sábado, 8 de julho de 2017

BREVES CONJECTURAS SOBRE INDÚSTRIA 4.0 E DEMANDA EFETIVA.

1. De forma ainda bastante incipiente, penso que a assim designada indústria 4.0, ou quarta revolução industrial, consiste em esforço para aumentar a velocidade de circulação de capital mediante certa adequação entre demanda e produção, inclusive com a possibilidade de customização do produto final. 

2. Ocorre que, sob a égide do sistema capitalista, oferta e demanda são antípodas, porquanto o processo de produção do capital colima tão somente a obtenção de mais-valia e lucro, sem qualquer consideração com a demanda, de que resultam crises de superprodução decorrentes do princípio da demanda efetiva descortinado por autores como Luxemburgo, Kalecki e Keynes. 

3. De 1 e 2 dessume-se que a indústria 4.0 está em contradição com o próprio sistema capitalista, conquanto, em um primeiro momento, sirva para diminuir os custos de circulação de capital e assim arrostar a queda tendencial da taxa de lucro. Evidentemente, isto apenas confirma as previsões de Marx e Engels de que o desenvolvimento das forças produtivas deve necessariamente entrar em contradição com as relações de produção.  

4. Penso ainda que, com a supressão da propriedade privada dos meios de produção sob o pálio do comunismo, em que a demanda é que deve determinar a produção, e não o contrário, a indústria 4.0 poderá assumir diversas funções da planificação econômica, favorecendo-a ao torná-la mais automática e menos dependente de funções burocráticas. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador e membro do NEC-PT) 

                  

quarta-feira, 5 de julho de 2017

CONJECTURAS SOBRE CAPITAL, OBSOLESCÊNCIA E UNIVERSALIDADE.

1. O livro primeiro de “O Capital” de Karl Marx é lastreado na primeira revolução tecnológica, a saber, aquela do século XVIII na Inglaterra, a qual transformou radicalmente o processo de produção sem, no entanto, criar novos valores-de-uso, ou novas necessidades humanas, quedando adstrita basicamente à indústria têxtil, o que somente foi possível em razão da reduzida composição orgânica do capital verificada anteriormente a tal revolução industrial.

2. As revoluções tecnológicas ulteriores, ao contrário, partindo de uma composição orgânica do capital já quantitativamente importante, transformaram não apenas o processo de produção, mas também o de circulação de capital, criando novos valores-de-uso, a saber, novas necessidades humanas.

3. A necessidade de revolucionar também o processo de circulação de capital advém da necessidade de se arrostar e contrapor à queda tendencial da respectiva taxa de lucro, verificada com o aumento de sua composição orgânica.

4. Tal contraposição à lei de tendência de baixa da taxa de lucro realiza-se por: 4.1. Maior velocidade de circulação de capital, com decorrente aumento da massa de mais-valia no mesmo lapso temporal e diminuição dos custos de circulação; 4.2. Contínua obsolescência dos valores-de-uso já estabelecidos e criação também contínua de novos valores-de-uso, com abertura de novos mercados para novos produtos.

5. Em relação a 4.2, as inovações tecnológicas dos valores-de-uso devem exibir o atributo da universalidade, pois o capital necessita de uma expansão tendencialmente infinita dos mercados de novos produtos, como forma de realização da mais-valia relativa, consoante preconizado no capítulo X do livro primeiro de “O Capital”.

6. Os novos valores-de-uso devem atender aos critérios de: 6.1. criar novas necessidades humanas universais e, portanto, abrir novos mercados para novos produtos, tornando obsoletos antigos produtos; 6.2. aumentar a velocidade de circulação do capital.

7. Os critérios de 6 restringem cada vez mais as possibilidades de renovação do capital, de que resulta que o sistema capitalista como um todo vai paulatinamente esgotando suas alternativas de reprodução, gerando crises.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador formado pela USP e membro fundador do NEC do Partido dos Trabalhadores)