sábado, 9 de dezembro de 2023

Ainda sobre o ciclo canino do capital.

 Com altas taxas de ocupação da força de trabalho, o capital industrial não pode simplesmente reduzir salários para arrostar o declínio tendencial da taxa de lucro, portanto eleva os preços de seus produtos, com provocar inflação.


A inflação, todavia, também corrói os lucros ao diminuir o poder aquisitivo do dinheiro, de tal sorte que, então, os juros são dilatados para neutralizar essa corrosão.


Mas os juros elevados comprimem a economia produtiva em geral, pois também afetam negativamente os lucros do capital industrial, e portanto não podem permanecer assim por longo período, eis que a base de toda a economia radica no setor produtivo, de onde se extrai a mais-valia.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

União Soviética e Brasil: um paralelo.

 A ora extinta União Soviética exibiu um longo processo de industrialização durante o século passado, fundado na indústria pesada da segunda revolução industrial, mas não conseguiu dar continuidade a tal processo por não alcançar a revolução digital, entrando em colapso econômico no final da década de 1980.


O Brasil oferece história similar, com apresentar crise de hiperinflação na década de 1980, acompanhada por flagrante processo de desindustrialização que ainda perdura.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O número e a morte.

 O conceito de número pressupõe a elisão de todas as determinações concretas da coisa a que ele pode se referir, consistindo, portanto, na máxima abstração, ou seja, o número pode, por seu nível de abstração, referir-se a qualquer coisa.


Tal elisão acaba por suprimir, também, a dimensão temporal da coisa, eliminando a finitude da realidade e a morte, ensejando a noção de infinitude, algo que não existe na realidade, pois mesmo o Universo é finito, porquanto em permanente expansão.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Conjectura sobre emprego e inflação.

 Quando a taxa de ocupação da força de trabalho exibe-se alta, o capital industrial não pode simplesmente diminuir salários para se contrapor à queda tendencial da taxa de lucro, de tal sorte que a solução consiste em aumentar os preços dos seus produtos, provocando inflação.


É por isso, e não por causa da demanda, que o alto nível de emprego provoca inflação, ou seja, ele a provoca somente de forma indireta.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Ainda sobre inflação e declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial: o caso brasileiro.

 O caso brasileiro também parece corroborar o padrão de crescimento da inflação após um período relativamente longo de desenvolvimento industrial:


Com efeito, as décadas de 1950, 1960 e 1970 no Brasil exibiram-se como certo milagre econômico industrial fundado na indústria pesada de bens de consumo duráveis, máxime a automobilística, ao passo que a década de 1980 caracterizou-se pela inflação galopante que fulminou o ciclo político ditatorial de jaez militar.


Tal dado está em franca consonância com o ocorrido nos finais dos séculos XVIII e XIX na Europa, períodos de grande crescimento industrial que foram seguidos por dilatação inflacionária conforme demonstrou Nikolai Kondratiev.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Lançamento da revista Mouro: imperdível!

 No próximo sábado dia 25 de novembro, das 17 às 21 horas, na livraria do Espaço, na rua Augusta, 1475, em São Paulo, SP, ocorrerá o imperdível evento de lançamento das revistas Mouro números 14 e 15!


A revista marxista Mouro é uma publicação do Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores, fundada em 2009 como contribuição ao debate teórico de jaez marxista, que harmoniza o rigor intelectual à necessária irreverência da crítica do capitalismo com fundamento na tradição marxista!


Não percam!

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Salários e inflação

 Há um indício bastante evidente que desmonta os pressupostos da curva de Phillips:


A inflação atinge os preços de todas as mercadorias, salvo a mercadoria força de trabalho.


Decididamente, a inflação não decorre dos salários, mas do próprio capital que reage ao declínio dos lucros.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 18 de novembro de 2023

Aporia e ocaso da razão determinista.

 Como vimos, Marx e Freud decretaram a morte do sujeito humano na história, mas, aporeticamente, ainda acreditavam na razão determinista, a qual lhes permitira chegar a esse decreto.


Tal aporia foi desenvolvida por Werner Heisenberg, o qual, com seu princípio da incerteza, decretou o ocaso da razão determinista e entronizou a probabilidade no centro do conhecimento científico.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

A morte do sujeito humano na história.

 Marx demonstrou que os indivíduos humanos, na produção e reprodução de sua vida material mediante o trabalho, são governados pelo capital.


Freud, por seu turno, demonstrou que os indivíduos humanos, na produção e reprodução de sua vida material mediante a reprodução sexuada, são governados pelo inconsciente.


Eles decretaram, destarte, a morte do sujeito humano na história.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Liberais e marxistas

 Para os economistas liberais de extração burguesa, os indivíduos humanos são sujeitos de sua própria história econômica, ao passo que para os economistas marxistas, esses indivíduos são mero vetores de determinações estruturais do capital, verdadeiro sujeito da história econômica.


Logo, a relação de produção entre os indivíduos humanos, consubstanciada no capital, impõe-se sobre esses próprios indivíduos de forma alienada e reificada.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

O ciclo canino do capital

 Em contraposição à lei do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial, os capitalistas desse setor econômico aumentam os preços das mercadorias por eles produzidas e, assim, provocam inflação, a qual, por seu turno, corrói o poder de compra do capital na forma de dinheiro que reflui constantemente para as mãos do capitalista, o que é remediado com aumento dos juros.


O aumento dos juros, por seu turno, refreia a acumulação do capital industrial e comprime a atividade econômica produtiva em geral, até que o desemprego rebaixe os salários para um patamar que reerga as taxas de lucro, e o ciclo econômico retome seu curso normal.


Os ciclos capitalistas assemelham-se àquele cachorro que pretende insistentemente morder o próprio rabo.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

As premissas maduras do comunismo.

 As duas premissas do modo comunista de produção, a saber, a propriedade coletiva dos meios de produção e a planificação econômica mediante inteligência artificial que conectará produção e consumo, já exibem seus fundamentos econômicos em estágio maduro, eis que as duas primeiras revoluções industriais prepararam os meios de produção, enquanto a atual revolução microeletrônica ou digital preparou as bases da inteligência artificial.


Em tempo:


Está previsto para o início de 2025 o curso on-line do Núcleo de Estudos do Capital sobre a obra magna de Marx, O Capital, não percam!




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 12 de novembro de 2023

PT e PSOL

 Vou dar minha opinião sobre o PT e o PSOL:


O primeiro está associado à segunda revolução industrial, da indústria pesada e bens de consumo duráveis, enquanto o segundo é o partido da revolução microeletrônica ou digital, com seus engenheiros da informação.


Eu achava que a revolução digital traria uma vanguarda trabalhadora ligada à planificação econômica socialista mediante inteligência artificial, mas me enganei, são apenas empreendedores.


A vanguarda da classe trabalhadora ainda é o PT da segunda revolução industrial, dos metalúrgicos da indústria pesada!




Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 11 de novembro de 2023

A lei de Marx, ou o mundo de ponta cabeça

 Nós marxistas temos que colocar a ortodoxia econômica de ponta cabeça:


Não são os salários nem a demanda agregada que causam inflação, mas o próprio capital industrial ao reagir à lei de Marx, vale dizer, ao declínio tendencial da taxa de lucro!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Sobre a prova de redação do ENEM deste ano.

 Há uma aporia aparente na teoria marxista do valor consistente no fato de que a força de trabalho não é produto do trabalho assalariado, mas dos cuidados no âmbito familiar e doméstico, notadamente exercidos pela mulher neste núcleo familiar.


Isso é válido para a primeira revolução industrial, do século XVIII, que não exigia qualificação da força de trabalho industrial no âmbito escolar, vale dizer, fora do núcleo familiar.


Mas a atual revolução microeletrônica ou digital mostra que a força de trabalho deve cada vez mais exibir-se como produto da formação escolar extrafamiliar, pois a produção de software, atualmente vanguardeira na indústria, exige trabalho intelectual cada vez mais sofisticado.


Tal situação refuta a aparente aporia acima mencionada, mas o papel dos cuidados da mulher no núcleo familiar será sempre inafastável como fase inicial da produção da mercadoria consistente na força de trabalho.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 5 de novembro de 2023

Juros, inflação e lucro.

 O capital na forma de dinheiro reflui constantemente nas mãos do capitalista industrial através do processo de circulação de capital, como o demonstrou Karl Marx no livro segundo de sua obra magna.


Logo, o aumento dos juros constitui uma alternativa natural à inflação como dispositivo de contraposição à lei do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 4 de novembro de 2023

Capital, trabalho e economia política.

 A oposição entre capital e trabalho manifesta-se nos antagonismos ínsitos à Economia Política:


Os economistas liberais de extração burguesa cingem-se ao âmbito da circulação de capital e consumo, de sorte que todas as questões que se lhes apresentam são tratadas como problema de oferta e demanda, inclusive o fenômeno inflacionário.


Já os economistas marxistas divisam sempre o âmbito da produção de capital, de tal sorte que o fenômeno inflacionário é ou deveria ser tratado como resultado do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.


Cabe vislumbrar a unidade entre os processos de produção e de circulação de capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Escolas e professores

 Consoante já esgrimi algures, a produção de software, vanguardeira no capitalismo hodierno, aumentou a taxa de lucro do capital industrial ao diminuir o capital constante e aumentar o capital variável investidos, sendo certo que, no caso do capital variável, o trabalho eminentemente intelectual demanda maior tempo de formação da força de trabalho no âmbito escolar e, portanto, há um incremento do valor da força de trabalho, sendo certo também que quanto maior o valor da força de trabalho e do capital variável investido, maior a taxa de lucro do capital industrial produtor de software, eis que menor a composição orgânica desse capital.


Logo, é preciso que o Estado invista pesadamente no setor da Educação, não em “obras” genéricas, mas em escolas e professores.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

A curva de Phillips e Alice no país das maravilhas: Brasil!

 Na data de hoje, a Bolsa de Valores brasileira teve alta substancial e a quotação da moeda norte-americana ante o real sofreu depreciação em razão da divulgação de dados pouco alvissareiros sobre a taxa de emprego nos Estados Unidos!


Na esteira da já vetusta curva de Phillips, o desemprego é bom para o capital, pois mitiga os índices inflacionários: o capitalismo é tão nonsense quanto a obra de Lewis Carroll!


Na verdade, contudo, o que provoca inflação é o declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial, descrito por Karl Marx, e a curva de Phillips revela-se uma quimera!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Software e criptomoedas

 Faz-se mister enfatizar que, afora o dinheiro, que das moedas metálicas chegou a manifestar-se como criptomoedas ou moedas digitais, as demais mercadorias também perderam materialidade:


Das máquinas têxteis e vestuário da primeira revolução industrial, passando pelos bens de consumo duráveis da segunda revolução industrial, chegamos ao hardware e software da atual revolução microeletrônica.


Tais movimentos históricos estão, evidentemente, associados.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Conjectura sobre rotação de capital.

 Quer me parecer que quanto maior o tempo de rotação de capital, maior o valor do dinheiro e menor o das mercadorias, considerando uma determinação do valor em duas etapas:


1. No processo de produção de capital, onde incide a lei marxista do valor;


2. No processo de circulação de capital, onde incide a teoria marginalista.


Conjectura a conferir.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Conjectura sobre uma contradição do capital.

 CONTRADIÇÃO ENTRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO E O PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DE CAPITAL


Penso que em um mundo ideal para o capital, o tempo de circulação seria igual a zero, de tal sorte que a realização da mais-valia exibir-se-ia instantânea, vale dizer, o tempo para venda das mercadorias também seria nulo.

Todavia, o aumento da força produtiva do trabalho tende a aumentar o tempo de circulação do capital em razão do aumento do volume de mercadorias a serem vendidas, afora fazer a taxa de lucro decrescer de forma tendencial.

É por isso que as revoluções tecnológicas que vingam afetam a um só tempo os processos de produção e de circulação de capital, aumentando a força produtiva do trabalho e diminuindo o tempo de realização da mais-valia pela venda das mercadorias.


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Décimo quinto aforismo

 No curso da história, o dinheiro perdeu sua materialidade em reação ao processo inflacionário decorrente do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.


Sim, pois aquilo que não é fruto do trabalho humano não poderia, a rigor, perder valor, pois não o encerra.


Mas na verdade, mesmo as moedas digitais são fruto do trabalho humano.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo quarto aforismo

 Os economistas burgueses cingem-se ao processo de circulação de capital, desconsiderando a unidade entre os processos de produção e de circulação de capital, descoberta por Marx, e por isso tudo lhes parece um problema de oferta e demanda, inclusive a inflação, que na verdade é provocada pelo declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Juros: um prelúdio.

 O capital é um sistema de contradições:


Sua acumulação conduz à queda tendencial da taxa de lucro que, por seu turno, provoca inflação, de tal sorte que o dinheiro que se valoriza (conceito de capital) acaba por se transfigurar em dinheiro que se desvaloriza.


O aumento dos juros é medida artificial e antediluviana, circunscrita ao âmbito da circulação de mercadorias, para tentar preservar o dinheiro que se valoriza, mas que produz enfim declínio mais severo da taxa de lucro do capital industrial.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Ad perpetuam rei memoriam

 A primeira revolução industrial no final do século XVIIl acelerou o processo de produção de capital.


A segunda revolução industrial no final do século XIX acelerou tanto o processo de produção quanto o de circulação de capital.


A atual terceira revolução industrial acelerou o processo de circulação de capital.


Todas aceleraram, portanto, a rotação de capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo terceiro aforismo

 O declínio tendencial da taxa de lucro do capital conduz diretamente à inflação e, indiretamente, à perda paulatina das funções do dinheiro pela perda de seu suporte material decorrente da necessária aceleração da rotação desse capital como forma de contraposição a tal declínio.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo segundo aforismo

 O desenvolvimento histórico do capitalismo conduz à aceleração da circulação de capital e, quanto menor o tempo de sua rotação, menos atrelado a um suporte material revela-se o dinheiro, que de moeda metálica adquiriu hodiernamente um jaez virtual com as atuais moedas eletrônicas.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

PARABÉNS PRESIDENTE LULA!

 Parabéns grande presidente Lula pelos seus setenta e oito anos de uma vida heróica dedicada ao povo brasileiro!

Longa vida ao nosso insigne e colendo presidente!

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cinema: Michelangelo Antonioni

A DEPRESSÃO MEDICADA DE MICHELANGELO ANTONIONI


Em determinada cena de seu filme “O deserto vermelho”, Michelangelo Antonioni alude ao giroscópio, artifício que permite às embarcações e aeronaves uma navegação linear e equilibrada em meio às oscilações e turbulências do meio circundante. À serotonina cumpre função análoga nos humanos, afastando a bipolaridade maníaco-depressiva que obsta a consecução de uma vida linear e equilibrada diante de padrões socialmente aceitos: à sua disfunção, contudo, a medicina opôs os artifícios psicotrópicos antidepressivos ou moderadores de humor.

Mas a depressão consiste em fenômeno bioquímico ou social? Ou ambos? Antonioni propõe questões desse jaez na película já mencionada, um filme predominantemente cinzento e frugalmente aspergido de cores artificialmente vivas, em que a protagonista luta entre momentos de relativo equilíbrio psíquico em meio ao predomínio do estado depressivo, logo após ter emergido de uma crise pontuada de tentativa de suicídio. A narrativa da obra, desprovida de linearidade, segue curso cambaleante entre diálogos ora profundos e plenos de significados, ora ostensivamente banais e desconexos.

Ora, se parece procedente que o indivíduo deprimido tende a enxergar a realidade sob prisma patologicamente cinzento e destituído de interesse e cores, não se exibe menos verdadeiro que a realidade pode ostentar de fato tal aspecto, fomentando a depressão ou a bipolaridade onde ela se apresenta potencial ou incubada.

Exímio cineasta que é, Antonioni provoca-nos ao mostrar em seu filme uma realidade filtrada por lentes deprimidas conquanto medicadas, mas tal realidade existe de fato.

Por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Algozes do romantismo

 A produção e reprodução material da vida humana bifurca-se em dois vértices fundamentais:


1. O âmbito da reprodução sexuada;


2. O âmbito do trabalho.


A literatura de alta indagação reflete, grosso modo, tal bifurcação, sendo certo que, no caso do âmbito da reprodução sexuada, os escritores, durante muito tempo, edulcoraram e suavizaram tal universo desde uma perspectiva do amor romântico e sentimental, de certa forma fantasioso por ter como fulcro certa liberdade de escolha individual, com desconsiderar as ingerências de jaez fisiológico, social e psicológico que concorrem nessa espécie de reprodução e que sobrepujam o suposto livre arbítrio do indivíduo humano.


Gustave Flaubert revelou-se decerto um dos precursores da crítica do amor romântico com sua obra intitulada Madame Bovary, que lhe custou inclusive um processo judicial, em que a protagonista Emma desfaz abruptamente todas as veleidades burguesas e todas as fantasiosas esperanças associadas a esse amor romântico.


Franz Kafka, por seu turno, não se debruçou sobre o tema da reprodução sexuada, mas aniquilou todas as esperanças atreladas ao âmbito do trabalho: seus protagonistas são, de fato, trabalhadores como o caixeiro-viajante Gregor Samsa, o bancário Josef K. e o agrimensor K.


Muita tinta já foi dispendida para tratar do tema da alienação do trabalho sob a égide do capital, mas talvez seja de interesse, aqui, discorrer um pouco mais a propósito.


É precisamente o trabalho abstrato, que determina o valor econômico das mercadorias, o responsável por tornar a vida do trabalhador um vácuo existencial, um vazio de conteúdo e esperança cujo curso do tempo conduz ao nada.


Kafka delineou artisticamente tal falta de esperança em romances como O processo e O castelo, mas foi na novela intitulada A metamorfose que a levou às últimas consequências:


Como já antecipamos algures, a transfiguração do caixeiro viajante Gregor Samsa em inseto monstruoso proclama a falência da noção burguesa de indivíduo, identificando tal suposta realidade como um absurdo típico das contradições inerentes ao modo capitalista de produção.


Flaubert e Kafka são, definitivamente, algozes eficientes do romantismo literário.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O tempo, objeto de investigação dos historiadores.

 O tempo abstrato corresponde àquele do relógio, que serve para determinar o valor econômico de dada mercadoria, e que determina também o vazio existencial do indivíduo humano sob a égide do capital.


Já o tempo concreto coincide com aquele da teoria da relatividade geral, vale dizer, o espaço-tempo, pleno de significado e conteúdo porquanto determinado pelo movimento relativo dos corpos.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Um clássico!

 Desta vez, a Academia Sueca revelou-se sábia e certeira ao atribuir o prêmio Nobel do ano corrente ao escritor norueguês Jon Fosse, um mestre da literatura hodierna, incontornável, que encerra todos os ingredientes para se tornar um clássico universal.


Leio neste momento sua obra Septologia, na versão em idioma inglês, e digo humildemente, sem rebuços: cuida-se de autor que emula a gigantesca dimensão e importância de predecessores da mesma linhagem como Kafka, Beckett, Camus, entre outros clássicos modernos, com resgatar e aprofundar temas que lhes são caros e que tangenciam a crítica da noção de indivíduo, notadamente em questões como as de identidade e de tempo.


Formidável!


Em breve, mais a propósito…




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Décimo primeiro aforismo

 O absurdo corresponde à segunda fase do movimento dialético do tempo histórico descrito por Hegel, isto é, ele representa a antítese que sucede a tese e antecede a síntese, ou seja, ele é a negação da evidência empírica.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Modernismo

 A transfiguração de Gregor Samsa em inseto monstruoso, na novela A metamorfose de Franz Kafka, de certa forma rompe abruptamente com o realismo literário e inaugura o modernismo em sua vertente mais radical, que subverte aquilo que habitualmente acontece e crava uma realidade aparentemente absurda.


Kafka nos adverte, assim, que a própria ideia do indivíduo isolado, abstrato, essa “Robinsonada” à moda de Defoe, como sugeria Karl Marx, essa ideia é que configura uma teratologia, uma monstruosidade, enfim, um absurdo!


O modernismo kafkiano, destarte, exibe-nos a possibilidade de uma nova realidade, em que a ideia de indivíduo cede lugar a novas formas de existência e de sociabilidade, uma sociabilidade onde a solidão individual será uma afecção da alma etiologicamente curável.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 1 de outubro de 2023

Dialéticos

 Hegel foi o pioneiro a descortinar a lógica e a inteligibilidade do processo histórico, a saber, da história das civilizações, mas pecou por ser humano, demasiado humano.


Sim, pois expôs tal história como fruto da mente humana, identificada com o que denominou como Ideia, tanto que, para Hegel, Napoleão Bonaparte seria a Ideia montada a cavalo!


Marx adotou de certa forma o esquema lógico dialético de Hegel para compreender a história das civilizações, mas deslocou a mente humana e o desenvolvimento da Ideia de seu centro: para o Mouro de Trier tal história corresponde ao desenvolvimento autônomo das relações de produção que os seres humanos contraem entre si de forma involuntária, independentemente de sua volição, e portanto também de maneira reificada.


Para Marx, a história somente adquirirá jaez humano com a superação das dissociações de classe e de Estados nações entre os integrantes da espécie Homo sapiens.


O próprio Marx também explicou, involuntariamente, a dissociação entre corpo e mente encontradiça nos filósofos dialéticos que o precederam: ela deriva da oposição entre os aspectos concreto (valor de uso) e abstrato (valor de troca) da mercadoria, essa forma mais elementar e antiga de relação de produção, sendo certo que a centralidade da mente entre tais pensadores decorre do predomínio do valor de troca sobre o valor de uso.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Entrevista: Walcir Previtale Bruno, dirigente sindical.

 O Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores tem a grande honra e a grata satisfação de apresentar sua entrevista com o companheiro Walcir Previtale Bruno, dirigente sindical da CONTRAF da CUT e um de seus mais destacados militantes.

Sem mais delongas, vamos à entrevista:

NEC: Companheiro Walcir, discorra por gentileza sobre o início de sua militância no sindicato e no partido.

Walcir:

Início da militância: Partido 

Tudo começou em 1982, quando meus pais mudam de casa, deixando o antigo bairro da Penha (zona leste da capital paulista) e se fixando em um outro bairro, também na zona leste, chamado Engenheiro Goulart. Naquela época eu tinha 14 anos e foi nesse novo bairro que passei a conhecer os meus novos vizinhos e novas perspectivas. Alguns meses depois conheci um menino, um ano mais novo que eu, chamado Lincoln Secco que morava bem perto de casa. Lincoln era o nosso amigo dos livros, sempre com um livro em mãos e uma boa conversa. Também conheci outro camarada, o Carlos Santiago, que fez parte dessa trajetória militante, que morava na mesma rua que eu. Carlos era o amigo da tecnologia. Já naquela época ele queria estudar química. 

E foi por um convite do camarada Secco que participei, pela primeira vez, no bairro do Cangaíba, de uma reunião do PCB. Se eu não estiver enganado o ano era 1984. Lembro até hoje da sala onde, pela primeira vez, ouvi a palavra comunismo saída da boca do camarada Heitor Sândalo, um dirigente do PCB e morador do bairro. Heitor, uma figura histórica das lutas da classe trabalhadora, foi um dos precursores da minha militância partidária. Mas, a influência do camarada Secco foi decisiva para trilhar os caminhos da esquerda. Também em 1984, Secco aparece no bairro com um livrinho que acabou fazendo uma grande diferença a partir daquele momento. O livro nada mais era que o Manifesto Comunista, de Marx e Engels. 

Bom, depois do PCB e de inúmeras leituras e debates apaixonados, acabamos migrando para o PT. Iniciamos a militância participando das reuniões que aconteciam no diretório zonal (DZ) de Ermelino Matarazzo, um bairro operário da zona leste. Todos os domingos lá estavam os três jovens do Engenheiro Goulart para discutir política dentro de um também jovem partido, o PT, que tinha 6 anos de idade. Depois, veio a envolvente e apaixonante campanha Lula Presidente 89. Quase lá! Depois veio a filiação. Em 1992, veio o NEC, um núcleo de jovens do PT, com o objetivo central de ler e entender a brilhante obra de Karl Marx, O Capital. Do NEC veio a aproximação com o professor Florestan Fernandes, com Paul Singer. A história é longa. 

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Início da militância: Sindicato

A militância partidária se deu antes do engajamento sindical. 

Em abril de 1987, eu entrei para trabalhar no Banco Bradesco. Estava, então, com 19 anos. O Bradesco foi o primeiro emprego com carteira de trabalho assinada. A informalidade do mercado de trabalho já existia naquela época. Em julho de 1987 eu passo a ser um trabalhador sindicalizado. A partir dai começa também a militância sindical. Em 1991, participo da greve dos bancários e acabo sendo acusado pelo banco como líder de greve. Em 1994, passo a integrar a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, numa eleição muito disputada entre o bancário do Banco do Brasil, Ricardo Berzoini(chapa 1) e Mané Gabeira, do Unibanco, (chapa 2). A Chapa 1 foi vencedora e eu assumi o mandato sindical como diretor da regional Penha do sindicato. Foram 20 anos na direção do Sindicato dos Bancários. Em 2012, assumi um cargo sindical na Confederação dos Bancários da CUT (CONTRAF) onde permaneço até hoje. 

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N: Walcir, qual a relação entre a atual precarização da relação de emprego e a crise do sindicalismo?


W:

A precarização da relação de emprego é o principal problema que enfrentamos hoje, sobretudo a precariedade inicial, que é a forma de contratação da mão de obra do trabalhador. Temos um grande exército de trabalhadores chamados informais, sem registro em carteira, sem garantias mínimas previstos na CLT. Logo, tal precarização – que é projeto político – afeta em cheio o movimento sindical. A baixa taxa de sindicalização que temos hoje no Brasil é um dos termômetros que mede as dificuldades enfrentadas pelo movimento sindical. A precarização também afeta a organização sindical dos trabalhadores. O sindicato não sabe quem são esses trabalhadores/as. Como organizá-los? Qual estratégia?

Logo, as pautas do Partido dos Trabalhadores também são afetadas por essa dita precarização. Um projeto de lei, por exemplo que pretenda mudar algo na CLT – para melhor, é claro  não terá nenhuma repercussão para um trabalhador informal. E os trabalhadores/as de aplicativos? Uma legião de trabalhadores sem quaisquer direitos. E a seguridade social? Como fica? Como esses trabalhadores um dia poderão pensar em aposentadoria? 

Sem dúvidas, enormes desafios para o movimento sindical e para o Partido dos Trabalhadores. 

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N: Walcir, discorra por gentileza sobre a questão atual do imposto sindical.


W: Imposto Sindical: 

Sobre o imposto sindical é preciso destacar que a reforma trabalhista de Temer (2017) foi pensada quase que exclusivamente para acabar com o financiamento sindical. E teve sucesso!

Enquanto muitos sindicatos de trabalhadores fecharam as portas com o fim do imposto, as entidades patronais seguiram com muito dinheiro em caixa. A própria CUT, que, historicamente, nasceu questionando o sindicalismo oficial, passou a ainda passa por dificuldades para financiar as suas atividades sindicais. Acabou o imposto sindical e o que foi colocado no lugar? Nada! 

Restou foi muita polêmica em torno do assunto, porém, nenhuma forma de financiamento sindical foi colocada no lugar até então. Até o STF entrou na questão, reforçando a decisão do Congresso Nacional e tornando inconstitucional a cobrança de qualquer taxa sindical de trabalhador não sindicalizado. Recentemente, o STF mudou a sua posição permitindo o desconto da taxa negocial (que é diferente do imposto sindical) para trabalhadores não sindicalizados. 

Restou para parte do movimento sindical – como os bancários – a negociação coletiva direta com o setor patronal para estabelecer alguma contribuição do trabalhador quando da celebração de um acordo coletivo de trabalho, a chamada taxa negocial. Essa taxa negocial só teria efeito se aprovada em assembleia convocada pelo sindicato. Foi uma estratégia política acertada até o momento e que tem garantido a sobrevivência dos sindicatos, das federações e da confederação.

Entretanto, esse debate ainda vai se alongar no tempo, uma vez que o Senado Federal pretende recolocar o debate do imposto sindical, questionando a recente decisão do STF, favorável ao movimento sindical. 

Não temos dúvidas. Há um esforço imenso do Governo Lula 3 para garantir o papel político e constitucional do movimento sindical. Mas, também, reconhecemos que do outro lado, há um forte movimento para impedir esse avanço. Temer deu um passo importante na tentativa de destruir o movimento sindical. Nos últimos quatro anos o movimento sindical ficou na defensiva. O caminho foiresistir. Agora, o momento é de renascer e reconstruir o Brasil! 

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N: Como tem sido a evolução das medidas patronais e governamentais para evitar acidentes e doenças ocupacionais? 


W: 

4.1) Medidas patronais: 

O campo político da saúde do trabalhador – é assim que os militantes da área compreendem – é um importante espaço da luta que acontece na relação capital e trabalho. A saúde é do trabalhador e não do patrão. O trabalhador é o protagonista central para defender a sua saúde no ambiente de trabalho e não somente o empregador. Hoje, o que acontece é que a saúde do trabalhador foi delegada para as mãos das empresas. Quantas vezes já ouvimos os termos “médico do trabalho”, “enfermeiro do trabalho”. Temos também até “dentista do trabalho”. Quantas empresas possuem departamento de “saúde e segurança do trabalho”? Muitas. E todos esses departamentos são coordenados por um médico especializado em medicina do trabalho. O problema maior não está na denominação desses profissionais e sim no papel político que desempenham a mando das empresas. O setor patronal está muito mais preocupado em reduzir custos, em alçar a saúde do trabalhador ao mundo dos negócios (hoje o mundo corporativo fala em “gestão em saúde e segurança no trabalho) do que, de fato, em implementar, com a participação ativa dos trabalhadores e de seus representantes, uma política de prevenção e redução de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. 

Ou seja, podemos afirmar, sem medo de errar, que no campo da saúde dos trabalhadores, as medidas patronais não visam a melhoria das condições de trabalho e nem a redução de acidentes e doenças. preocupados maior é com a redução de custos. Se o trabalhador adoece? Na maioria das vezes são demitidos. Um trabalhador acidentado? É comum, depois de retornar da licença médica, ser mandado embora.

4.2) Medidas governamentais: 

O Brasil é um dos países que mais tem regramentos legais na área da saúde do trabalhador. São mais de 30 normas regulamentadoras – NR’s -, debatidas, elaboradas e publicadas pelo Ministério do Trabalho, o Brasil é signatário de várias convenções da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que versam sobre saúde do trabalhador, a saúde do trabalhador está contida na lei orgânica da saúde, a lei 8080 de 1990, a lei que estabelece o SUS. A saúde do trabalhador é interministerial, ou seja, o assunto é pauta dos ministérios da saúde, do trabalho e da previdência social. No Conselho Nacional de Saúde - CNS existe a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – CISTT, uma das mais importantes e disputadas comissões orgânica do CNS. 

É preciso registrar que foram nos governos Lula e Dilma que tivemos alguns avanços no campo da saúde do trabalhador. Em 2011, a Presidente Dilma assinou o decreto 7.602, dispondo sobre a “Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho” - PNSST. Fruto de negociação tripartite (Bancadas de governo, patronal e dos trabalhadores) a política tinha como escopo a “promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes”. Um dos objetivos era que a PNSST saísse dos gabinetes em Brasília e chegasse aos estados e municípios, ou seja, chegar até o chão da fábrica, chegar no comércio, nos bancos, no campo, envolvendo trabalhadores públicos e empregados das empresas privadas. 

Participei de vários debates e reuniões tripartites em Brasília sobre a PNSST. Representava a CUT na bancada dos trabalhadores que era formada por sindicalistas de outras centrais. Foram nesses espaços de “dialogo social” que percebi a enorme força da bancada patronal, representada, sobretudo pela Confederação Nacional da Indústria – CNI e pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras – CNF. A todo momento a bancada patronal freava qualquer possibilidade de avanços na implementação da PNSST. 

Em outubro de 2015 participei da última reunião, em Brasília, da comissão que discutia a política nacional de saúde do trabalhador. Estávamos na véspera do golpe que derrubou a Presidente Dilma Rousseff. 

Com o golpe de 2016 e a posterior eleição de Bolsonaro, a PNSST foi totalmente esvaziada, inclusive com decreto publicado pelo governo de Bolsonaro extinguindo as comissões que tinham o objetivo de implementar a política de saúde do trabalhador em nosso país. 

Como estamos hoje: como dissemos, temos muitas leis, muitas regras que tratam da saúde dos trabalhadores. Porém, os trabalhadores seguem excluídos de qualquer espaço democrático para debater a sua própria saúde. E para debater a questão da saúde no local de trabalho o empregado, necessariamente, tem que debater o trabalho, debater a organização e o processo de trabalho, ter acesso às informações. O conhecimento do trabalhador tem que ser lavado em consideração. O trabalhador tem que ter em mãos o poder de decidir. Do outro lado, o setor patronal nega todas essas possibilidades e assim seguimos defendendo a democracia que nunca chegou aos locais de trabalho. 

Do ponto de vista de políticas governamentais o momento é de retomada. Porém, é verdade que há uma timidez sobre os assuntos que dizem respeito ao “mundo do trabalho”. O tão esperado “revogaço” não veio da forma como achávamos que viesse. Ainda convivemos com o entulho bolsonarista na área da saúde do trabalhador. Muitas normas foram mudadas – para pior – e agora, o espaço para, pelo menos voltar ao que era, está muito estreito. Via congresso nacional as chances são remotas. Pelo tripartismo – que já está bastante desgastado – a bancada patronal ainda possui forte hegemonia para frear avanços. Podemos concluir que boa parte da classe trabalhadora está adoecida ou em processo de adoecimento por conta do trabalho extenuante, do trabalho super controlado, de cobranças cotidianas, assédio moral, sexual e por aí vai. 

Nesse momento, sem deixar de lado o espaço institucional, um caminho possível e já conhecido pelo movimento sindical é a organização dos trabalhadores para travar a devida luta em defesa da sua saúde. É perseguir o lema do Modelo Operário Italiano – MOI que dizia: “A saúde não se vende, nem se delega, se defende”!

 

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N: A CUT surgiu criticando a CLT e o imposto sindical. Mas depois de várias reformas neoliberais que afetaram o sindicalismo, como você encara a necessidade de defesa da CLT hoje?  


W: 

Bom, depois de tanto retrocesso social patrocinado por reformas neoliberais, que prometiam o paraíso para a classe trabalhadora, defender a CLT hoje é algo necessário e um caminho a ser seguido. É claro que a CLT não consegue dar todas as respostas para o que acontece no mundo do trabalho. Entretanto, sem ela as coisas seriam piores. Acho que além de defendermos a CLT, temos também que criar movimentos para fortalecer e pavimentar caminhos para que a CLT se ramifique no nosso imenso Brasil, que chegue aos locais mais distantes do nosso país. Em um país que convive com trabalho análogo a escravidão a CLT se faz necessária. Em um país, cujo parlamento nacional, aprovou lei liberando a total terceirização da mão de obra, a CLT se torna um instrumento fundamental. No setor financeiro a categoria dos bancários por exemplo, possui muitos direitos sociais amparados na CLT. É na CLT que encontramos a proibição da abertura das agências bancárias aos sábados. Um direito regulado pelo Estado e que muito tem incomodado os banqueiros, apesar do avanço do banco pelo celular.

Logo, defender a CLT nesse momento é uma estratégia para se garantir um mínimo de direitos para a classe trabalhadora. Agora, somente defender não é suficiente. É preciso mais ousadia e organização do movimento sindical. Precisamos de um sindicalismo forte, representativo, combativo, com sustentação financeira e que, ao mesmo tempo, tenha capacidade de negociação.Resgatar experiências passadas, como a organização por local de trabalho, a OLT, o sistema de democratização das relações de trabalho defendido pela CUT, a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e pensarmos, coletivamente, em novos mecanismos de organização e participação de uma classe trabalhadora fragmentada, informalizada, terceirizada e “uberizada”. E também desempregada. 

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N: Os bancários, os metalúrgicos e os professores foram grandes categorias da CUT. A automação bancária, o home office e a terceirização abalaram o sindicalismo bancário. No entanto, há milhares de trabalhadores em casas lotéricas e em outros ambientes cumprindo funções de bancário. Como o sindicato pode representá-los?


W:

Essa é uma pergunta que nos remete aos enormes desafios colocados para o movimento sindical bancário. Como representar milhares de trabalhadores que cumprem função de bancário, que fornecem crédito, que lidam com valores, que recebem contas de consumo, que recebem impostos, que operam no mercado financeiro e não são bancários? E a resposta? Infelizmente, não temos uma resposta pronta e acabada. 

Hoje, somos aproximadamente, 450 mil bancários e bancárias, empregados diretamente pelos bancos. Nesse contingente está incluído os trabalhadores dos bancos públicos e dos bancos privados. Já o ramo financeiro, que congrega todas as empresas que prestam serviços bancários, como as casas lotéricas, os correspondentes bancários, lojas, as cooperativas de crédito e muitos bancos digitais, reúne atualmente mais de 1,5 milhão de trabalhadores. A cada pesquisa realizada pelo DIEESE sobre o emprego bancário, a constatação é a diminuição do emprego bancário formal e o aumento da mão de obra no ramo financeiro, que, em sua grande maioria não possui qualquer representação sindical. Já constatamos empresas que prestam serviços bancários e registram os empregados como comerciários, como promotores de venda, amparados na alteração da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, uma decisão empresarial no mínimo suspeita. 

Organização desses trabalhadores. Algumas possibilidades: 

A CONTRAF – Confederação dos Trabalhadores/as do Ramo Financeiro – foi pensada e fundada exatamente com o propósito de organizar e representar esses trabalhadores. Percebendo a fragmentação da base formalmente bancária,com o surgimento e avanço da terceirização e dos correspondentes bancários, o sindicalismo bancário cutista, que antes se juntava nacionalmente na CNB – Confederação Nacional dos Bancários - sentiu a necessidade de ampliar os horizontes, sobretudo o horizonte da representação sindical e rumou para a formação e fundação da CONTRAF. A intenção era avançar para além do conceito de categoria profissional e partir para a construção do ramo financeiro. A ideia era boa, porém, não tínhamos a noção exata das gigantescas dificuldades dessa empreitada. Tanto é que as dificuldades permanecem até hoje e o ramo financeiro ainda é uma ideia em construção. 

Pouco se avançou na representação sindical desde a fundação da CONTRAF. 

Ainda focamos muito a ação sindical na categoria bancária. Chamamos nossa campanha salarial de “Campanha Nacional dos Bancários”. A comissão que negocia com o setor patronal (FENABAN) é conhecida como “Comando Nacional dos Bancários”. A Convenção Coletiva de Trabalho – CCT é um documento, fruto de negociação coletiva, que tem sua abrangência exclusiva para os trabalhadores de bancos. 

Temos um vasto campo para o crescimento do movimento sindical bancário. Representar essa imensidão de trabalhadores e trabalhadoras ainda é um longo e árduo caminho a ser percorrido. E um dos o principais entravesreside no próprio movimento sindical que perdeu muito da sua capacidade de organização e de atratividade. O trabalhador, cuja preocupação central é enfrentar a labuta, pensa, pragmaticamente, sobre qual vantagem em ter um sindicato, em ser sindicalizado. É a disputa diária que o movimento sindical tem que fazer. É a disputa pela formação política do trabalhador. E isso o movimento sindical não pode abrir mão sob pena de quase desaparecer, sobretudo para aqueles trabalhadores que contam apenas consigo próprio.  


N: Muito obrigado camarada Walcir!

 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

História econômica, sim!

 Mercadoria, dinheiro, capital industrial, capital comercial, renda fundiária, capital financeiro: as diversas categorias econômicas que se sucedem dialeticamente, de forma a um só tempo lógica e cronológica, representam as variegadas relações de produção que os seres humanos contraem involuntariamente no curso da história, em que os indivíduos somente importam como vetores de tais relações.


Eis a obra magna de Karl Marx, O Capital, modelo universal de história econômica como exposição da essência de tal história e, sim, revelação do caráter reificado das relações entre os seres humanos, porquanto involuntárias tais relações: por isso, o Homo sapiens faz sua própria história, mas não de acordo com a sua vontade.


Mas olhem:


A história de nossa espécie somente sobrepujará esse jaez reificado quando a humanidade deixar o estágio de conceito abstrato e, superando as dissociações de classe e Estados nacionais, alcançar uma realidade concreta.


Mas isso não será tarefa de indivíduos isolados, mas da classe trabalhadora que, desprovida dos meios de produção, exibe um caráter universal e revolucionário, o que lhe confere aptidão para unificar a espécie humana.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 23 de setembro de 2023

Ovos de serpente

 Há cem anos, em 1923, a hiperinflação assolava a Alemanha, que algum tempo depois gestou o movimento de extrema direita nazista, cujos desdobramentos são amplamente conhecidos.


Hodiernamente, em 2023, a Argentina padece do mesmo problema econômico, e observa a gestação de um movimento político de extrema direita que encerra semelhanças bastante evidentes com o fascismo!


O dinheiro é um dos fundamentos econômicos axiais do modo capitalista de produção, e quando sua existência está em risco em determinado Estado nacional, o nacionalismo de extrema direita política parece encontrar solo fértil para seu florescimento!


Como diria Karl Marx, a história se repete…





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Francisco

 São Francisco de Assis é uma figura histórica de dimensão e atualidade impressionantes:


Sua dedicação aos pobres é amplamente conhecida, mas ele também revelou-se um grande ecologista avant la lettre.


Sim, pois sua época também vivia uma crise ambiental de grande magnitude, com ampla devastação de florestas na Europa para expansão agropecuária!


Francisco combateu intensamente esse movimento de devastação ambiental na Idade Média.


Seu exemplo para nós marxistas é eloquente, em nossa época de emergência climática de potencial devastador.


Urge combinar hodiernamente, como o fez Francisco, a luta em favor dos pobres e a consciência ecológica!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Assim na terra como no céu

 Muitos afirmam convictamente que o marxismo é ateu de forma ostensiva e militante.


Não tenho tanta certeza assim, conquanto esteja ciente do aforismo marxista consoante o qual a religião é o ópio do povo.


O Cristo, diante de Pôncio Pilatos, assegurou que seu reino não é deste mundo, e eu diria hipotética e simetricamente que Marx, diante de Deus no Céu, diria mais ou menos a mesma coisa.


É que os fundadores do socialismo científico simplesmente não se debruçaram de forma importante e conclusiva sobre o fenômeno religioso, cingindo-se com mais afinco na crítica da economia política e seus desdobramentos, isto é, voltaram sua atenção a coisas mais terrenas e profanas, de tal sorte que considero leviano assegurar que Marx e Engels eram militantemente ateus.


Mas olhem:


O mesmo Cristo também exortou “assim na terra como no céu”, o que complica um pouco, ou muito, as coisas para seus seguidores.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador:

Lutas de classes e pautas identitárias

 No âmbito da esquerda política, parece que as lutas de classes sociais estão paulatinamente perdendo sua centralidade em favor das assim designadas pautas identitárias.


Tal fenômeno tornou-se agudo com o colapso da União Soviética e a atual emergência climática, que exibe um poder lesivo maior do que as crises financeiras cíclicas do capitalismo.


Nesse caso, fica evidente uma certa crise hodierna da tradição marxista!


Mas olhem:


Os fundadores do socialismo científico, pelo que me consta, não desaprovavam totalmente essas pautas identitárias, não negavam sua existência, mas enfatizavam o fato de que, em última instância, elas são epifenômenos das contradições do modo capitalista de produção e, nesse sentido, as pautas econômicas e as lutas de classes ainda encerram sua importância central.


Evidentemente, não constitui tarefa trivial coadunar e harmonizar politicamente as lutas de classes com as pautas identitárias, mas é preciso fazê-lo, sem olvidar o predomínio do âmbito econômico em última instância.


O grande e saudoso Professor Florestan Fernandes ensinou-nos a fazer isso com o problema racial no Brasil, cabe hoje fazer o mesmo com a emergência climática em orbe mundial.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

O discurso na ONU

 Os mais desavisados, provavelmente entorpecidos pelo esquerdismo pueril, talvez critiquem um suposto jaez social-democrata do discurso do presidente Lula proferido hoje na Assembleia Geral da ONU, com sua defesa do Estado do bem-estar social como forma de mitigar desigualdades sócio-econômicas.


Nada mais infenso à verdade.


O atual presidente do Brasil não se cingiu à crítica da injustiça neoliberal, que aprofunda desigualdades sociais, mas revelou-se radical no pensamento (no sentido de atingir a raiz do problema) ao criticar a ineficiência do capitalismo.


Sim, pois tal ineficiência não se exibe nas crises financeiras cíclicas tão somente, mas hodiernamente revela-se na forma de uma catastrófica emergência climática de poder destrutivo maior do que as aludidas crises financeiras, eis que não se cuida de destruição criadora, mas de destruição pura e simples, tão somente, ceifadora definitiva de vidas e forças produtivas.


Vida longa ao presidente Lula, filho legítimo e líder inconteste da classe trabalhadora mundial!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo aforismo

 A coleta do material empírico constitui, sem embargo, o primeiro estágio do conhecimento histórico, uma etapa incontornável, de fato.


Mas olhem:


A excessiva importância atribuída a esse estágio do método científico conduz invariavelmente ao detalhe narrativo e factual que pouco contribui à inteligibilidade histórica, conquanto possa encerrar interesse estético.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 16 de setembro de 2023

Hipóteses sobre acumulação primitiva de capital.

 1. Durante a Idade Moderna, os países ibéricos acumularam metais preciosos internamente e desenvolveram a manufatura em suas colônias ultramarinas, como a indústria açucareira com trabalho escravo no Brasil, cujos lucros, todavia, eram escoados para as respectivas metrópoles por intermédio do exclusivo colonial e do comércio de escravos;


2. No mesmo período, a Inglaterra, preterida na corrida colonialista, desenvolvia uma forte manufatura interna fundada no trabalho livre e observava a introdução do capital na produção agropecuária, com os correlatos cercamentos, bem assim acúmulo de metais preciosos mediante exportação de manufaturados para as nações predominantes do antigo sistema colonial;


3. A precoce introdução do capital no âmbito da produção, tanto agropecuária quanto manufatureira, bem assim o acúmulo de metais preciosos, atribuíram aos britânicos a dianteira no desenvolvimento das condições para a ulterior subsunção real do trabalho no capital com o advento da revolução industrial, esta precedida pela revolução puritana e também pela fundação do Banco da Inglaterra, já no século XVII.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Historiadores

 Karl Marx nutria admiração confessa por Charles Darwin, a ponto de fazer questão absoluta de encaminhar ao naturalista britânico um exemplar novo em folha de sua obra recém publicada à época, em 1867, o primeiro tomo de seu colossal projeto de crítica da economia política, a saber, O Capital.


Tal obra, juntamente com A evolução das espécies, constituem as duas mais importantes realizações no âmbito da historiografia mundial de todos os tempos:


Com efeito, Marx e Darwin não se contentam em exibir os acontecimentos que se sucedem no tempo, mas extraem a lógica subjacente a esta sucessão, o primeiro com relação à história humana, o segundo quanto à sucessão das espécies biológicas, vale dizer, a história natural.


Marx e Darwin são, definitivamente, os dois maiores historiadores de todos os tempos.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Um todo artístico

 Ápice da crítica da economia política, obra magna de Karl Marx, O Capital constitui também o ponto culminante da historiografia mundial, ao haurir a essência do evolver das civilizações com a exposição das sucessivas relações de produção contraídas involuntariamente pelos seres humanos.


Mas olhem:


Conquanto de grandes dimensões, tal obra seria apenas o primeiro livro de um total de seis planejados pelo respectivo autor, um projeto de arquitetura colossal que não foi concluído, lamentavelmente, por força do perfeccionismo do Mouro de Trier.


Marx denominou seu projeto de “um todo artístico”, muito embora esteja habitualmente inserido no elenco das obras de ciências econômicas.


Acontece que O Capital, consoante já antecipado acima, exibe-se obra típica de historiografia, e nesse sentido encerra também um jaez artístico, em consonância com a dualidade entre ciência e arte que caracteriza a disciplina da História.


Ora, se a ciência deve ser breve, a arte deve ser longa como a vida, daí a dimensão colossal do projeto marxiano, esse todo artístico que colima abroquelar todos os aspectos da produção e reprodução da vida material do Homo sapiens.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Alvíssaras, alvíssaras!

 Foi com grata satisfação e enorme entusiasmo que recebi hoje, pelo camarada Lincoln Secco, a alvissareira notícia de que a Ubu Editora publicará no próximo ano a obra magna de Karl Marx, O Capital, na íntegra e em três volumes, na exímia tradução de Régis Barbosa e Flávio R. Kothe.


Cuida-se de monumento à ciência e à ação transformadora, que sobrepaira, sobranceira, no panteão inconteste das maiores obras já elaboradas pelo gênio humano.


Síntese genial da história econômica do Homo sapiens, apresenta a evolução a um só tempo lógica e cronológica de suas relações de produção, em que os indivíduos somente são chamados à colação enquanto representantes de tais relações, que arrostam constantemente as forças produtivas por elas mesmas liberadas, em movimento dialeticamente contraditório que insinua a necessidade histórica de superação do capital, objeto de investigação dessa obra de arte legada pelo grandíloquo Mouro de Trier.


Serão meses de grande expectativa.


Evoé!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Um gigante da historiografia

 Faz-se mister solenidade, austeridade e recato para homenagear gigantes do pensamento, e este singelo espaço revela-se evidentemente demasiado modesto para entoar todos os encômios merecidos por um gênio do porte do professor Wilson do Nascimento Barbosa, mas ainda assim ousarei dizer breves locuções acerca desta imponente figura da historiografia brasileira.


Fui seu aluno nos pródromos da década de 1990, na disciplina de história moderna na Universidade de São Paulo, e logo na primeira aula de tal curso fui atingido por uma verdadeira martelada contra a vaga anticientífica que de certa forma se insinuava nos corredores do respectivo departamento e que me seduziu por um lapso temporal:


Ao tratar da Reforma Protestante, o professor Wilson estabeleceu uma relação intrínseca entre tal movimento histórico e a nova divisão do trabalho que se difundia na Europa com o advento da subsunção formal do trabalho no capital ensejada pelo advento da manufatura, com a respectiva ascensão da classe social da burguesia fabril que posteriormente lideraria a revolução industrial do século XVIII.


O professor Wilson ensina, destarte, a pensar em profundidade sobre o evento histórico, com a radicalidade necessária ao seu desvendamento científico, isto é, um pensamento que alcança a raiz dos acontecimentos empiricamente observáveis.


Lição indelével!


Muito obrigado, professor Wilson!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira.

Bosquejo acerca de economia e psicanálise.

 Os dois vértices da produção e reprodução material da vida humana neste planeta consistem em:


1. A produção econômica;


2. A reprodução sexuada.


O primeiro vértice foi investigado em profundidade e radicalidade pelos fundadores do socialismo científico, pioneiros do materialismo histórico, Marx e Engels, que descortinaram a lógica materialista e dialética da história das civilizações, sobrepujando destarte a história do indivíduo, o qual somente se manifesta na obra de tais autores enquanto representante de relações de produção.


O segundo vértice foi investigado pioneiramente por Sigmund Freud, o qual, todavia, cingiu-se à história do indivíduo e suas manifestações de jaez mais propriamente mental, sem, contudo, alcançar as repercussões demográficas desse vértice, sendo certo que, enquanto neurologista, teria contribuído mais eficientemente à ciência caso tivesse se debruçado nas interações entre o cérebro e a fisiologia dos demais órgãos humanos.


Cabe, pois, revisitar o segundo vértice a partir de prisma demográfico.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

PRÁXIS

 1. Quando mencionamos a prática política, no texto imediatamente precedente, referimo-nos àquilo que a tradição marxista costumeiramente denomina práxis, conceito que abroquela tanto a ação pura, por vezes heróica, quanto a formulação puramente teórica, desde que inclinada verdadeiramente à superação do modo capitalista de produção;


2. Essa tradição marxista também alude à contradição entre as relações de produção e as forças produtivas como indicativo de esgotamento dos sucessivos modos de produção no curso da história, mas não há nela parâmetros definidos para o momento exato desse esgotamento, de tal sorte que as crises cíclicas do capitalismo revelam-se típicas dessa contradição, mas não se sabe ao certo se haverá uma crise definitiva desse modo de produção, sendo certo, portanto, que à vanguarda proletária cabe esgrimir a práxis revolucionária desde sempre, ainda que tenhamos que aguardar muitos séculos de sobrevida desse sistema econômico ineficiente e injusto.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 10 de setembro de 2023

Pobre de direita

 Cada época da história propõe a si própria os problemas que pode resolver e cujas tarefas cabem a seus contemporâneos, mas nem todos os contemporâneos propõem a si próprios a prática para resolver tais problemas.


Assim que, nada obstante a necessidade de sobrepujar o modo capitalista de produção e fundar uma nova ordem social desprovida de fraturas provocadas pelas lutas de classes, nem todos agem consoante tal necessidade, nem mesmo entre os mais interessados na superação do capitalismo, vale dizer, o proletariado.


Há pobres de direita pois, conquanto todos possam ter acesso à mencionada necessidade histórica, cada indivíduo ainda encerra o livre arbítrio de agir como bem lhe aprouver, até mesmo contra seus interesses, ou os interesses da respectiva classe social.


Mas olhem:


Não é a consciência de classe que determina se alguém é de direita ou esquerda no âmbito político, mas sua efetiva prática diante da época em que vive.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Marx, ética e estética.

 Alfred North Whitehead revelou-se sábio ao postular que toda a filosofia ocidental resume-se a glosas marginais à obra de Platão, o fundador do pensamento dialético.


Como epígono platônico, Karl Marx buscou a essência da história humana, conduzindo a dialética a suas últimas consequências, ao mostrar o evolver lógico e cronológico das relações de produção da vida material humana, máxime em sua obra magna O Capital, que bem poderia intitular-se Ética!


Mas olhem:


Esta Ética de Marx colima a Estética, vale dizer, a fruição e gozo pleno, por todos, das possibilidades que a vida humana encerra, em uma vindoura sociedade despojada das fraturas de classes sociais!



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Os despojos da morte

 Na belíssima película cinematográfica intitulada “A escavação”, exibe-se a teoria de que a morte não encerra relevância social, mas tão somente individual, porquanto a história prossegue inexorável e inabalável diante do ocaso do indivíduo, sendo certo que ao arqueólogo cabe revolver os vestígios fúnebres da impassível deusa Clio.


Na reprodução sexuada, cada indivíduo aspira à imortalidade da espécie, ciente, todavia, de que não participará de suas glórias vindouras.


Mas olhem:


Essa espécie também experimentará seu crepúsculo, de tal sorte que, mais uma vez, postulo que a ontogênese recapitula a filogênese, eis que a morte das civilizações simula aquela dos indivíduos.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Nono aforismo

 Lênin postulava a supremacia da política sobre a economia, o que parece contradizer um certo viés de determinismo econômico encontradiço na tradição marxista.


Mas Lênin estava correto, pois a política revela-se como o meio por excelência apto a sobrepujar o fenômeno da alienação, resultante das determinações estruturais do capital sobre os seres humanos.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Oitavo aforismo

 Conquanto aparentemente abstrata, a matemática exibe-se como a mais objetiva das ciências, na qual a teoria importa mais que a respectiva autoria, ao contrário das ciências assim designadas “humanas”, máxime no direito, onde o argumento de autoridade ainda hoje é adotado em determinadas circunstâncias.


Observe-se, por oportuno, que o nascedouro dos números coincide com o advento da relação de produção consubstanciada na mercadoria, cujo valor determina-se pelo tempo de trabalho abstrato necessário à sua produção.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Partido e classe, segunda parte.

 Com o advento da revolução microeletrônica e da economia digital a partir do último quartel do século passado, o proletariado internacional sofreu uma cisão bastante profunda e desagregadora, dividindo-se entre trabalhadores predominantemente manuais e trabalhadores eminentemente intelectuais, sendo certo que, até o presente momento, nenhum partido realmente inserido no espectro político de esquerda logrou êxito em rarefazer tal cisão, eis que os trabalhadores que produzem software e derivados permanecem atrelados, pelo estilo de vida e de trabalho, política e socialmente à classe dos patrões capitalistas, especialmente mediante a assim designada ideologia do empreendedorismo.


Mas a vindoura organização de uma planificação econômica socialista fundada na tecnologia de dados e inteligência artificial depende muito deste fragmento mais intelectualizado do proletariado, razão pela qual um dos maiores desafios dos partidos dos trabalhadores ao redor do mundo consiste em resgatar a unidade perdida, com a revolução microeletrônica ou digital, do proletariado mundial.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

ENTREVISTA: AGNALDO DOS SANTOS

O Núcleo de Estudos do Capital do Partido dos Trabalhadores tem a grande honra e a grata satisfação de trazer aos seus leitores uma entrevista com um de seus mais destacados intelectuais e militantes, o professor Agnaldo dos Santos, Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, Professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e pesquisador do Grupo de Pesquisa e Estudos da Globalização (GPEG) da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, e do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), autor dos livros JUVENTUDE METALÚRGICA E SINDICATO - ABC PAULISTA, 1999-2001 (Agbook - Edição do Autor, 2010) e ENTRE O CERCAMENTO E A DÁDIVA - INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E ABORDAGEM ABERTA EM BIOTECNOLOGIA (Blucher Acadêmico, 2017, 2ª edição), que nos concedeu gentilmente esta conversa, conduzida por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, por meio de aplicativo de mensagens, aos cinco de agosto do corrente ano. Vamos à entrevista, sem mais delongas:

NEC: Camarada Agnaldo, discorra por gentileza sobre sua militância política prévia à adesão ao NEC-PT. 

Agnaldo: Camarada, como muitos brasileiros, venho de uma família católica. Desde criança, acompanhava meus pais às celebrações dominicais, às quermesses juninas e demais festas religiosas. Contudo, durante minha infância, era um contato com o lado mais tradicional do catolicismo. Em meados dos anos 1980, minha família muda-se para Sapopemba, um bairro periférico de São Paulo. Lá, a atuação da Igreja era distinta da que eu tinha conhecido quando menino: os padres e religiosas estimulavam debates sobre nossa situação socioeconômica, à luz da Teologia da Libertação. Logo, além de frequentar missas, comecei a participar da Pastoral da Juventude. Foi nesse momento que comecei a me interessar por história e filosofia. Já no ensino médio, ajudei a fundar e fui o primeiro presidente do grêmio estudantil da minha escola. E comecei a participar das reuniões do núcleo de base do PT em meu bairro. Em 1988 e 1989, participei ativamente das campanhas de Luiza Erundina à prefeitura e de Lula à presidência, quando tirei meu título e votei pela primeira vez. Como fiz serviço militar obrigatório entre 1991 e 1992, fiquei um pouco afastado da militância. Mas em 1992 ingressei (ainda no serviço militar) no curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André, onde fiquei por dois anos até minha transferência para a USP. Foi nesse momento, iniciando meu curso de graduação, que participei de uma festa de candidatura à deputado federal do companheiro José Martins, alinhado a grupos mais à esquerda do PT, que conheci o companheiro Luís Fernando (à época, respondia pelo sobrenome Franco), que me convidou a participar das reuniões do Núcleo de Estudos de O Capital, em 1994. 

N: Seu contato com a obra de Marx aconteceu inicialmente pela via da teologia da libertação, então?

A: Exatamente, quando ainda terminava o ensino fundamental e ingressava no ensino médio, minha participação na Pastoral da Juventude me levou a conversar com seminaristas, padres, irmãs e colegas que já estavam na universidade, e que falavam muito da importância de estudar autores clássicos, Marx entre eles. Na ocasião, não me preocupava muito o fato de que o marxismo era uma filosofia materialista, nesse sentido antagônica à abordagem religiosa. A teologia da libertação não focava nisso, mas na necessidade dos cuidados com a alma serem os mesmos com o corpo, logo viver bem e em fraternidade era sua máxima. Mas, aos poucos, comecei a ter os primeiros textos de Marx em mãos, e alguns questionamentos começaram a surgir, claro. Como muitos, comecei lendo o Manifesto do Partido Comunista, fragmentos de A ideologia alemã, o 18 Brumário. Foi nesse momento que percebi que a crença no transcendental era incompatível com uma filosofia materialista. Mas mantive minha amizade com os companheiros da igreja, e falo com alguns deles até hoje. Respeito-os, mas não compartilho mais da visão religiosa. Já na universidade, começo a ler de forma sistemática outros textos de Marx, e meu primeiro contato com O Capital. 

N: No início você combinava militância no núcleo de bairro e no núcleo temático do NEC?

A: Sim, mas não durou muito tempo, pois comecei a participar do NEC em 1994, e nesse período o partido começava um processo de reestruturação interna que esvaziava os núcleos de base, em favor dos diretórios zonais. Isso daria uma conversa à parte, que nosso camarada Lincoln descreve bem em seu História do PT, mas as mudanças no mercado de trabalho, quedas nas taxas de sindicalização, contraofensiva do Vaticano sobre a teologia da libertação etc. esvaziou as organizações de bairro do partido. Assim, gradativamente, e concomitantemente com minha vivência na USP, fui me afastando do partido na região e aumentando minha presença nas reuniões do NEC, que naquele momento ocorriam no prédio da FATEC, onde estudavam ou haviam estudado outros camaradas do núcleo, como Ciro Seiji, Carlos Punk, Flávio Perez e outros.

N: Esse estiolamento dos núcleos de base teve repercussão na democracia interna do partido?

A: Na minha opinião, foi uma convergência entre mudanças estruturais na sociedade brasileira e decisões equivocadas da cúpula do partido. Então, muitas dessas mudanças foram fruto das mudanças que citei acima, a avalanche neoliberal dos anos 1990, o fim da União Soviética (que, em termos simbólicos, afetou a esquerda no mundo todo, mesmo a não comunista) etc. Mas seria possível ter preservado as instâncias democráticas do início do partido? Talvez, mas a análise precisa ser vista sempre em perspectiva histórica. O PT é o partido mais bem sucedido dos últimos 40 anos, vencendo cinco eleições presidenciais. Por outro lado, batemos em um teto no parlamento, elegemos deputados e senadores em quantidade insuficiente às necessidades de uma agenda de esquerda. Em grande parte, devido ao esvaziamento das instâncias decisórias internas, que criaram estruturas de poder em torno dos mandatos parlamentares, impedindo o surgimento de mais lideranças. Repetimos as mazelas da democracia burguesa. Por outro lado, o sucesso eleitoral em disputas majoritárias, muito em função da figura ímpar de Lula, torna muito difícil o questionamento dessa estrutura. 

N: Desculpe minha insistência camarada, mas esse "centralismo interno" do partido não foi eficiente na vitória eleitoral de 2002?

A: Como mencionei, em termos eleitorais essas mudanças internas parecem ter sido providenciais. Mas o questionamento não é tanto em termos de eficiência eleitoral, mas de agenda estratégica. O NEC surgiu exatamente porque entendia naquele momento que a formação política deixava a desejar, e que seria preciso disputar a agenda do partido, para além da democracia formal burguesa. Claro que sempre fomos orientados pelas reflexões de Florestan Fernandes, que insistia no fato de que reformas tímidas em um país atrasado como o Brasil poderiam adquirir contornos revolucionários. E isso se confirmou, dada a reação dos endinheirados contra Lula e Dilma. Mas ainda falta ao partido maior "ousadia" em defender bandeiras claramente de esquerda, romper com uma falsa "realpolitik" que nos deixa reféns da Faria Lima. Vitórias  eleitorais da esquerda precisam ser pedagógicas para a classe trabalhadora, não mero meio de carreira política tradicional. 

N: Como o NEC desempenha esse papel de contribuição para a estratégia revolucionária e difusão do marxismo?

A: Inicialmente, usávamos as reuniões de leitura de O Capital, dos clássicos do marxismo e eventos com sumidades da esquerda brasileira, como Jacob Gorender e Paul Singer, para atrair militantes e simpatizantes petistas. Depois, começamos a editar pequenos jornais em formato de fanzine, para distribuir nos encontros partidários. Chegamos e enviar delegados com direito a voto nos congressos do partido, para defender nossas pautas. Mas creio que o meio mais longevo e eficaz dessa ação foi a criação da Mouro - Revista Marxista, que existe desde 2009. 

N: Qual é a atual linha editorial da revista e como ela se sustenta financeiramente?

A: A revista Mouro, menção ao apelido familiar de Marx, segue nossa premissa de fundação do NEC: os marxistas não formam um partido à parte da classe trabalhadora, mas deve atuar onde ela está. Por isso, procuramos usar a revista para resgatar temas clássicos do marxismo e da história socialista, questões contemporâneas que desafiam o legado marxista e temas de interesse da classe trabalhadora. Assim, mesmo com a presença de militantes e intelectuais petistas, a revista publica também contribuições de companheiros de fora do partido. Isso é possível porque mantemos a revista por meio da contribuição financeira dos membros do NEC. Ela não está subordinada a nenhuma instância burocrática partidária. Isso confere liberdade editorial e política para fazer a disputa dentro e fora do PT. 

N: Como você avalia a atuação do NEC diante da nova conjuntura política que se estabeleceu, ao que parece, a partir do ovo da serpente das jornadas de junho de 2013?

A: Naquela ocasião, no calor dos acontecimentos, fizemos uma análise que, modéstia à parte, mostrou-se correta: os movimentos iniciais foram puxados pelos "filhos de petistas", uma geração que era bebê ou não havia nascido em meados da década de 1990. Defendiam a tarifa zero, bandeira do próprio PT na gestão Erundina na prefeitura paulistana. Houve erros tanto do PT (que não entendeu isso, e poderia ter atendido parte dessa reivindicação, mesmo que fosse derrotada no parlamento) quanto da turma do MPL, que não esperava que a extrema direita tomaria as ruas em seu lugar. Houve muita ingenuidade do partido em acreditar nas "instituições republicanas", que levou à perseguição dos quadros petistas no chamado Mensalão e depois na operação Lava Jato. Se os dirigentes petistas levassem a sério a premissa de que o Estado é, no limite, o gabinete executivo da burguesia, poderia ter se antecipado a muitos dos movimentos dos endinheirados. Poderíamos ter evitado o impeachment e a eleição de Bolsonaro? Não se faz análise política na base do "se", mas talvez as dores do processo tivessem sido menores. Creio que a esquerda e o país tiveram muita sorte de contar com a figura do Lula nesse contexto. O processo de corrosão social poderia ter sido muito maior sem a presença do PT e de seu carismático líder. 

N: Como o NEC tem avaliado esses primeiros meses do terceiro mandato de Lula?

A: Qualquer analista atento sabia que um governo de coalizão, como o que venceu em 2022, teria muitas limitações. A situação em 2023 é pior do que aquela de 2003, que já não era fácil. Considerando tudo, o início de governo não é ruim, pelo contrário. Mas não significa que não será necessário romper com as limitações desse semi presidencialismo disfarçado, que dificulta muitas ações do Executivo, e que levam a formar maiorias na base das coalizões ao gosto do sistema multipartidário do país. O maior desafio nos próximos anos será conter a onda fascista, e só conseguirá com algum sucesso no campo econômico. Os endinheirados sabem disso, daí a dificuldade imposta pelas ações do Banco Central erroneamente chamado de independente, pelas sabotagens na dinâmica parlamentar etc. Como disse Paulo Arantes, se Lula e a esquerda conseguirem evitar a desagregação social, já será uma vitória civilizatória. Cabe aos marxistas puxar a agenda mais à esquerda, em um contexto mundial de crise permanente do capitalismo, que não pode oferecer mais nada para a humanidade neste século. 

N: Muito obrigado, camarada Agnaldo. 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Pequena glosa marginal ao Dezoito Brumário de Luís Bonaparte

 Na obra em testilha, Karl Marx revela-se um notável autor trágico típico do classicismo greco-romano, em que os indivíduos nada podem contra o inescapável destino.


Nada mais infenso ao livre arbítrio e o dilema moral de jaez notadamente cristão, e nesse sentido o ulterior estruturalismo de Althusser mostrou-se apropriadamente correto.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Pequena enquete

 Grosso modo, é possível apontar duas grandes falhas no modo de produção capitalista:


1. Sua ineficiência, sujeito que está a crises cíclicas;


2. Sua injustiça, pelas desigualdades geográficas e de classe que reproduz indefinidamente.


As soluções seriam:


a. No caso de 1, a planificação econômica;


b. No caso de 2, a coletivização dos meios de produção.


Parece que tais discriminações exibem teorias econômicas correspondentes:


No caso de 1, economistas de inclinação estruturalista, que não consideram a história econômica e divisam capitalismo em todas as épocas do evolver das civilizações; no caso de 2, historiadores econômicos que se inclinam a decretar o fim do capitalismo como inevitável e desejável.


Qual a inclinação dos eventuais leitores?




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 27 de agosto de 2023

Sétimo aforismo

 Os liberais atribuem, em geral, a causa da inflação ao mercado de trabalho aquecido, mas combatem essa inflação em nome da preservação do poder aquisitivo dos salários.


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 26 de agosto de 2023

Uma sórdida crítica melancólica!

O capitalismo é como aquele cidadão que retarda o clímax no onanismo:


Ele aspira ao crescimento, mas como o crescimento provoca inflação, ele retarda esse crescimento com aumento de juros!


Parece a crítica de Nietzsche a Brahms:


“Ele tem a melancolia da impotência: anseia pela plenitude, mas não produz quando a atinge”


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

O buraco de Jackson

 Em Jackson Hole, Jerome Powell recicla o desgastado discurso de que os salários são os vilões culpados pela inflação!


Na verdade, a culpa recai no declínio tendencial da taxa de lucro, como descrito por Karl Marx em sua obra magna!


Pois ainda vigora o império do capital sobre o trabalho, e não o contrário!


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 20 de agosto de 2023

Extrato de história do dinheiro e da moeda: terceira parte.

 Faz-se mister investigar, portanto, as conexões entre dois fenômenos históricos coevos e combinados, a saber:


1. A penetração do capital no âmbito da produção agrícola e decorrente movimento dos cercamentos, na assim designada acumulação primitiva de capital;


2. A acumulação primitiva de ouro e prata pelos ascendentes Estados mercantilistas, pressuposto da ulterior emissão de moeda fiduciária.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.