Homenagem ao camarada Heitor, militante do PCB e do PT, membro do Núcleo de Estudos d'O Capital, que nos deixou neste mês de outubro de 2016. Texto publicado na Mouro - Revista Marxista, nº 6, 2012. HEITOR SANDALO: PRESENTE!
Militante Operário: Heitor Sandalo
Lincoln Secco
Karl Marx situou o trabalho produtivo como o cerne da
mudança revolucionária. O Movimento Comunista Internacional
apregoou a centralidade operária. Mesmo assim, a militância
operária sempre teve um reconhecimento historiográfico menor
face aos dirigentes, intelectuais e generais revolucionários. É que
a militância operária se combina à militância socialista, mas ambas
são diferentes.
Heitor nasceu na Rua Trancoso, numero dois, bairro paulistano
do Brás, em 6 de abril de 1929, filho de Aurélio Sandalo, pintor
de parede e de Ines Sandalo, tecelã da Juta Santana. Como seu
pai era comunista e membro do Sindicato da Construção Civil, o
ingresso de Heitor no PCB foi “natural”. Ele começou a trabalhar
aos 14 anos de idade como ajudante de mecânica na Laminação
Nacional de Metais. Também trabalhou na Juta Santana, na Singer,
na Pancostura e na Estrela (dentre outras empresas).
Sempre no trabalho miúdo da militância comunista, afirmava
ter ajudado secretamente as bases de apoio da ALN, já que admirava
Marighela desde a adolescência quando ele dormiu uma noite na
casa do seu pai. De toda maneira, Heitor continuou no PCB. Em
22 de fevereiro de 1984 ele foi à União Soviética com uma delegação
comunista. Voltou em fevereiro do ano seguinte. Encontrou um PCB
por demais reformista para seus velhos ideais, especialmente quando
o velho partidão resolveu apoiar o empresário Antonio Ermirio de
Moraes ao governo do estado de São Paulo.
Lembro-me quando ele apareceu em minha casa anunciando a
mudança de linha do partido determinada pela cúpula.
Heitor foi comigo à Praça da Sé e num comício petista
perguntou a esmo onde estavam os comunistas do PT. Topou com
José Genoino e o puxou para que o deputado petista me estendesse
a mão, afinal, um simples menino da Zona Leste merecia aquele
cumprimento, dizia ele. Acabou ingressando no PRC – Partido
Revolucionário Comunista. Refundou o Núcleo do PT no bairro do
Cangaíba, participou do Movimento por uma Tendência Marxista
(MTM) e militou no Núcleo de estudos de O Capital.
Hoje, considera o Governo Lula a expressão de uma mudança
estrutural no Brasil, mas ainda distante dos sonhos de um velho
revolucionário.
Heitor Sandalo foi um militante operário. Sua vida foi
reconhecida somente pelos seus amigos e familiares e, infelizmente,
pela polícia. Seu nome não estará na história oficial e sua obra
militante permanecerá obscura para os estudiosos acadêmicos. Mas
quando a história oficial for rasgada e a história marxista se tornar
patrimônio do povo, a memória buscará Heitor em sua casa humilde
num bairro da periferia de São Paulo.