segunda-feira, 7 de novembro de 2016


Homenagem ao camarada Heitor, militante do PCB e do PT, membro do Núcleo de Estudos d'O Capital, que nos deixou neste mês de outubro de 2016. Texto publicado na Mouro - Revista Marxista, nº 6,  2012. HEITOR SANDALO: PRESENTE!



Militante Operário: Heitor Sandalo



Lincoln Secco


Karl Marx situou o trabalho produtivo como o cerne da mudança revolucionária. O Movimento Comunista Internacional apregoou a centralidade operária. Mesmo assim, a militância operária sempre teve um reconhecimento historiográfico menor face aos dirigentes, intelectuais e generais revolucionários. É que a militância operária se combina à militância socialista, mas ambas são diferentes.

Heitor nasceu na Rua Trancoso, numero dois, bairro paulistano do Brás, em 6 de abril de 1929, filho de Aurélio Sandalo, pintor de parede e de Ines Sandalo, tecelã da Juta Santana. Como seu pai era comunista e membro do Sindicato da Construção Civil, o ingresso de Heitor no PCB foi “natural”. Ele começou a trabalhar aos 14 anos de idade como ajudante de mecânica na Laminação Nacional de Metais. Também trabalhou na Juta Santana, na Singer, na Pancostura e na Estrela (dentre outras empresas).

Sempre no trabalho miúdo da militância comunista, afirmava ter ajudado secretamente as bases de apoio da ALN, já que admirava Marighela desde a adolescência quando ele dormiu uma noite na casa do seu pai. De toda maneira, Heitor continuou no PCB. Em 22 de fevereiro de 1984 ele foi à União Soviética com uma delegação comunista. Voltou em fevereiro do ano seguinte. Encontrou um PCB por demais reformista para seus velhos ideais, especialmente quando o velho partidão resolveu apoiar o empresário Antonio Ermirio de Moraes ao governo do estado de São Paulo.

Lembro-me quando ele apareceu em minha casa anunciando a mudança de linha do partido determinada pela cúpula.

Heitor foi comigo à Praça da Sé e num comício petista perguntou a esmo onde estavam os comunistas do PT. Topou com José Genoino e o puxou para que o deputado petista me estendesse a mão, afinal, um simples menino da Zona Leste merecia aquele cumprimento, dizia ele. Acabou ingressando no PRC – Partido Revolucionário Comunista. Refundou o Núcleo do PT no bairro do Cangaíba, participou do Movimento por uma Tendência Marxista (MTM) e militou no Núcleo de estudos de O Capital. 

Hoje, considera o Governo Lula a expressão de uma mudança estrutural no Brasil, mas ainda distante dos sonhos de um velho revolucionário. Heitor Sandalo foi um militante operário. Sua vida foi reconhecida somente pelos seus amigos e familiares e, infelizmente, pela polícia. Seu nome não estará na história oficial e sua obra militante permanecerá obscura para os estudiosos acadêmicos. Mas quando a história oficial for rasgada e a história marxista se tornar patrimônio do povo, a memória buscará Heitor em sua casa humilde num bairro da periferia de São Paulo.