quarta-feira, 29 de maio de 2024

AXIOMA

 O dinheiro consiste na forma autônoma do aspecto abstrato do trabalho humano subsumido no capital.


Quanto mais abstrato tal trabalho, em decorrência do aprofundamento da divisão do trabalho, mais independente de um suporte material exibe-se o dinheiro, que de moeda metálica passou, historicamente, à atual moeda digital.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

ACADEMIA

Alguns sustentam que a universidade reproduz o modelo medieval das corporações de ofício, com a divisão entre mestres e aprendizes nos programas de pesquisa científica. 

Na verdade, o modelo universitário remonta à academia platônica, sendo mais antigo portanto, com sua divisão entre projeto de pesquisa (hipótese) e pesquisa propriamente dita (tese), que por seu turno reflete a divisão social do trabalho entre atividade eminentemente intelectual (o dinheiro ou a circulação de mercadorias e, posteriormente, o capital) e atividade eminentemente manual (produção de mercadorias ou trabalho assalariado), a qual responde pelas dicotomias platônicas entre corpo e mente, empirismo e racionalismo etc.

Henri Poincaré aduzia que a descoberta científica pela intuição precede a demonstração científica pela lógica, cabendo destacar que tal precedência decorre precisamente da subsunção econômica do trabalho manual no trabalho intelectual, típica do capital e, anteriormente, da circulação simples de mercadorias no dinheiro. 

Mas a hodierna revolução digital, com sua produção capitalista de software, está a subverter a divisão social do trabalho acima aludida, eis que agora temos trabalho assalariado eminentemente intelectual, que poderá revolucionar a sociedade capitalista pela vindoura subsunção do capital no trabalho, ensejando o socialismo e, posteriormente, o comunismo mundial. 



POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

terça-feira, 28 de maio de 2024

A revolução industrial na União Soviética

 A Revolução Industrial na União Soviética

Lincoln Secco

Os comentários que se seguem foram feitos a partir da leitura de Farm to Factory: a Reinterpretation of the Soviet Industrial Revolution (Princeton, 2003). Mas não é uma resenha, pois não abordo a maioria dos temas da obra, tais como demografia, história populacional, desenvolvimento, história da Rússia anterior à Revolução etc. Além disso, faço comentários baseados em outros livros que li para escrever minha obra História da União Soviética (Maria Antônia, 2 ed, 2023).

Forma Socialista

Em outubro de 2017 os bolcheviques tinham vários desafios, dentre eles havia dois que nos interessam aqui: assumir o comando das fábricas e dos serviços públicos urbanos; e socializar a propriedade rural.

No primeiro caso, dois obstáculos se interpunham: a propriedade privada e o controle operário da produção. As empresas foram rapidamente estatizadas em 1918. Já os operários que assumiram o controle de algumas empresas opuseram uma resistência que só foi superada pela designação de gestores do partido. Segundo Robert Allen o decreto de 27 novembro 1917 deu aos conselhos de fábrica o controle das empresas, mas durante uma Guerra Civil a planificação era incompatível com a democracia de base. Em Junho de 1918 havia 487 firmas nacionalizadas e em setembro eram 4 mil.

Pode-se dizer, portanto, que exteriormente a forma socialista se estabeleceu, visto que o Estado era dirigido pelos comunistas; mas no interior da fábrica persistiu a divisão do trabalho e o despotismo da gerência. De acordo com Engels em seu texto “Da Autoridade” e também de acordo com as concepções de Lenin, a autogestão era incompatível com a planificação econômica, embora as ferrovias, por exemplo, tivessem sido autogeridas até março de 1918.

O Debate Econômico

Depois da Guerra Civil (1919-1921) o Partido lançou uma Nova Política Econômica que estabilizou o rublo, segundo Lenina Pomeranz em seu excelente livro Do Socialismo Soviético ao Capitalismo Russo (Ateliê, 2 ed, 2023).

Todavia, o debate estava aberto. A indústria estava socializada, mas a agricultura e grande parte do comércio eram privados e isso tinha repercussões no regime de classes sociais. Camponeses médios e ricos não tinham sido hostis ao processo revolucionário em grande medida porque haviam feito sua própria revolução no campo, redistribuindo propriedades e ignorando apelos à coletivização. Diante de tarefas mais urgentes os bolchheviques não tentaram coletivizar a terra. Na Guerra Civil os víveres foram obtidos mediante exação forçada, mas isso não podia continuar. Depois de 1921 o Exército Vermelho estava exausto e diminuiu seus efetivos. Soluções no interior da ecoomia de mercado foram testadas.

De acordo com Allen (pp. 54-5) o Estado soviético tinha grande poder de mercado, uma vez que era o principal fornecedor de bens de consumo produzidos em fábricas e um comprador de grãos. Era quase um oligopsônio. Preobajensky propôs que se aumentasse o preço dos bens de consumo e se diminuísse o preço pago pelos grãos, a fim de extrair o excedente agrícola e pagar o investimento industrial.

Bukharin defendeu o inverso. Estimular o campo aumentaria sua demanda por bens industriais. Medidas para aumento da produtividade rural seriam tomadas. Por exemplo: remover proibições ao uso de mão de obra contratada na agricultura para incentivar o investimento dos camponeses ricos. Sua palavra de ordem foi a de Guizot: “Enriquecei-vos”. Cooperativas seriam estimuladas em competição pacífica com o “agronegócio”.

Citando outros modelos explicativos Allen (p. 60) considerou que havia a possibilidade de uso da poupança camponesa. Ele distinguiu camponeses produtivos e improdutivos (primos, irmãos,


sobrinhos) que aumentavam o autoconumo das unidades agrícolas. Sem os improdutivos a poupança potencial se tornaria efetiva. A mão de obra liberada se tornaria produtiva em construção civil, irrigação, drenagens, fábricas etc.

Stalinismo

Stalin, depois de se aliar a Bukharin, adotou o programa da Esquerda do partido, obviamente com métodos coercitivos. Mas há que se indagar se o abandono da perspectiva de Bukharin podia ser feito de outro modo, pois quem escolhe os fins, escolhe os meios. O stalinismo produziu milhões de presos e 826 mil execuções. A fome foi produzida pela luta entre camponeses e Estado provocada pela verdadeira guerra civil do Partido contra o campo. Os camponeses abateram o gado em vez de entregá-lo ao Estado e diminuíram as plantações. No entanto, o Estado continuou a requisitar grãos para exportar (p. 136).

Allen (p. 186), no entanto, diz que a vantagem que a coletivização, especialmente a coletivização forçada, tinha sobre outras políticas era que maximizava a taxa de migração rural-urbana. Todavia, a NEP também era um sistema viável para o desenvolvimento econômico.

Em 1922 imposto único agricola foi instituído. Em 1926 a produção industrial voltou ao nível de 1913. A fonte de financiamento da industrialização proveio de uma série de fatores: troca desigual entre campo e cidade e eficiência do campo mediante máquinas agrícolas. A diminuição da mão de obra na agricultura mitigou o autoconsumo médio. Também houve maiores ganhos de produtividade na indústria e serviços com a maior disponibilidade de operários recém chegados às cidades. Mas ainda assim o padrão de vida urbano melhorou e os salários aumentaram, embora a jornada de trabalho tivesse aumentado também.

Há um debate sobre o cálculo da produtividade e das taxas de crescimento do PIB. O autor discute os índices Laspeyres e Paasche de preços e prefere o índice de Fisher (média geométrica dos outros dois). Esses índices estabelecem um ano base e permitem calcular a evolução real de preços, salários, padrão de consumo etc. O Índice de Laspeyres é uma média ponderada.

De qualquer ponto de vista ou com qualquer método estatístico, é bastante evidente que a União Soviética realizou uma Revolução Industrial no decênio de 1930 e que depois da II Guerra Mundial, o país atingiu níveis de vida inferiores aos padrões ocidentais, porém muito superiores aos países subdesenvolvidos. O consumo real per capita cresceu 3% ao ano entre 1950 e 1980. O número de máquinas de lavar por 100 lares ascendeu de 21 em 1965 a 75 em 1990. Apenas dois exemplos.

Base Social

Trabalhadores qualificados e com maior nível educacional propiciado pela Revolução foram a base de apoio do regime. Stalin usou o inverso de um teto de gastos, promovendo um limite orçamentário móvel. Assim, permitiu gastos com setores que não eram “eficientes”. Mas Allen é taxativo ao dizer que as “bárbaras políticas do stalinismo acrescentaram pouco à produção industrial” (p.171).

Mas neste caso recorre-se a uma regressão linear. Para a história concreta nem sempre é o melhor e pode levar a uma perspectiva contrafactual metafísica que pouco acrescenta ao debate. E se prevalecesse a política de Bukharin? Haveria crescimento mais lento, porém o resultado seria muito próximo dos índices stalinistas? Talvez. Mas esse raciocínio abstrai o que seria o regime de classes sociais sem coletivização, os efeitos políticos, o armamento para a Guerra etc. Impossível saber como seria a sociedade soviética.

O problema da Era Stalin é histórico e político. Era certo promover a industrialização ao custo da coletivização forçada? Repressão de milhões de pessoas, eliminação dos dirigentes da própria Revolução etc, como justificar isso? Por outro lado, e isso é do domínio da História, a União Soviética se industrializou, venceu o nazismo de maneira épica, tornou-se uma potência militar, aumentou o padrão de vida de sua população e infuenciou a constituição do Welfare State, as lutas anticoloniais e a industrialização da periferia mundial. O desafio soviético moderou o imperialismo. Isso foi obra de sua classe trabalhadora, mas grande parte dela também ofereceu apoio racional aos seus dirigentes, o que é algo desconcertante para muitos analistas.


Em outras notas para este blog pretendo tratar da posição de Trotsky e Lange sobre o debate econômico soviético.

domingo, 26 de maio de 2024

CAPITAL E INFORMAÇÃO.

Anteriormente ao advento do capital, a burguesia mercantil antediluviana, restrita ao processo de circulação de mercadorias, extrai mais-valia dos produtores dessas mercadorias por meio do dinheiro, comprando barato e vendendo caro, com beneficiar-se da precariedade histórica das comunicações e da circulação de informações. 

Com o advento do capital, a saber, a inserção do dinheiro no processo de produção de mercadorias, a compra e venda da mercadoria consubstanciada na força de trabalho atribui um verniz de honestidade e normalidade que oculta a extração da mais-valia nesse processo de produção, mas a precariedade subsistente nas comunicações e circulação de informações, atrelada à propriedade privada dos meios de produção, determinam o caos no processo de circulação de capital, submetido a crises periódicas. 

A atual revolução digital, que, em curso, trouxe a circulação de informações e telecomunicações ao centro da produção capitalista, contém latente e embrionária a superação das crises econômicas periódicas aludidas acima, insertas no processo de circulação de capital. 

Resta, todavia, a abolição da propriedade privada dos meios de produção, latente no conflito entre capital e trabalho.




POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

sexta-feira, 24 de maio de 2024

O FALACIOSO EMPIRISMO DO DINHEIRO.

 O universo da circulação de capital, do dinheiro e dos preços, é empírica e imediatamente acessível aos sentidos humanos, malgrado seja falacioso ao ocultar o universo da exploração da mais-valia na produção de capital.


Esse segundo universo foi descortinado pioneiramente por Karl Marx em sua obra prima insuperável consubstanciada nos três livros de O Capital.


A circulação simples de mercadorias, anterior ao capital, também foi objeto de investigação nessa obra monumental, em seu livro primeiro.


Todavia, Marx deixou de revelar a extração de mais-valia nesta circulação simples de mercadorias, latente no dinheiro:


Com efeito, os mercadores e comerciantes da burguesia mercantil compravam barato e vendiam caro, extraindo sobreproduto dos produtores de mercadorias mediante tal expediente fraudulento e encoberto pelo dinheiro e pela precariedade das informações e comunicações disponíveis historicamente.


Ao inserir-se no processo de produção, o capital enceta um verniz de normalidade e honestidade na compra e venda da mercadoria força de trabalho, que oculta empiricamente a extração de mais-valia.


O estudioso marxista deve considerar tal fraude empírica ínsita no dinheiro e nos preços, essa superfície da circulação de capital que encobre a realidade econômica da exploração da mais-valia.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

TRÊS FORMAS HISTÓRICAS BÁSICAS DO DINHEIRO.

1. Moeda metálica: forma correspondente aos modos de produção onde predomina o artesanato ou a manufatura, quando ainda não se verifica a subsunção real do trabalho no capital;

2. Moeda fiduciária: forma correspondente ao modo capitalista de produção já amadurecido, com subsunção real do trabalho no capital;

3. Moeda digital: forma ainda embrionária e incipiente, correspondente ao advento do trabalho assalarariado predominantemente intelectual na produção capitalista de software, que subverte a precedente divisão do trabalho entre capital (atividade eminentemente intelectual) e trabalho assalariado (eminentemente manual).

Dessume-se do acima exposto que quanto mais intelectual o trabalho assalariado, mais virtual a forma histórica da moeda que o dinheiro assume.       




POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

quarta-feira, 22 de maio de 2024

PLATÃO E O DINHEIRO, OU HEDONISMO E ESTOICISMO.

Na oposição entre produção e circulação de mercadorias, latente no dinheiro, que historicamente desdobra-se  na oposição entre capital e trabalho, radica a oposição entre atividade eminentemente manual e atividade eminentemente intelectual, que deu origem às dicotomias platônicas entre corpo e mente, empírico e racional etc. 

A oposição entre hedonismo e estoicismo também participa de tal dualidade tipicamente platônica, de tal sorte que, grosso modo, o primeiro atrela-se aos prazeres do corpo e o outro às virtudes da mente.     




POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

domingo, 19 de maio de 2024

EISENSTEIN E EINSTEIN: HIPÓTESES SOBRE O TEMPO DO CINEMA.

André Bazin defendia o plano-sequência para captar o real com mais fidelidade nas artes cinematográficas, colimando simular o tempo vivido pelo indivíduo. 

Mas esse tempo vivido pelo indivíduo corresponde ao tempo linear e abstrato do relógio, que não retrata a realidade fielmente, eis que resulta das limitações da experiência e da memória de uma vida humana, vale dizer, cuida-se de um tempo derivado do acúmulo das memórias empíricas do indivíduo, um tempo anterior ao advento da teoria da relatividade. 

Já o espaço-tempo da relatividade de Albert Einstein, decorrente do movimento relativo dos corpos, que transcende o tempo abstrato e linear decorrente da experiência empírica individual, exibe-se mais próximo da montagem dialética postulada por Sergei Eisenstein, com sua justaposição de imagens para compor uma ideia no cérebro do respectivo espectador.

A montagem de Eisenstein retrata melhor o espaço-tempo da teoria da relatividade, inacessível à experiência empírica de uma vida individual, e se mostra mais consentâneo também com a história marxista das relações de produção ou dos modos de produção, de longa duração e que suplanta a duração de uma vida individual. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

sábado, 18 de maio de 2024

DIAS PERFEITOS

O filme intitulado Dias Perfeitos, de Wim Wenders, trata basicamente da questão da dignidade do trabalho humano. 

Recordo-me que um professor da faculdade de direito que eu frequentei certa feita asseverou:

"Não importa se a pessoa é presidente do Tribunal de Justiça ou faxineiro do tribunal, importa que cada um exerça sua profissão com dignidade"

Conheci na Austrália um faxineiro de hospital que vive numa casa bem melhor do que a minha, eu que exerço trabalho intelectual no Brasil. 

O protagonista do filme em testilha é um faxineiro de banheiros públicos em Tokyo que vive dignamente sua profissão e sua vida. 

O Japão e a Austrália são dois países muito civilizados com alto índice de desenvolvimento humano, mas ainda são países capitalistas, onde há, portanto, exploração do trabalho alheio, dos proletários que precisam vender sua força de trabalho para viver, pelos proprietários dos meios de produção, os capitalistas. 

A verdadeira dignidade do trabalho humano advirá quando tal forma de exploração do ser humano pelo seu semelhante desaparecer numa sociedade sem fraturas de classes sociais. 



POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

terça-feira, 14 de maio de 2024

CRIMES DO FUTURO (contém spoiler)

 A película Crimes do futuro apenas corrobora aquilo que eu já sabia: David Cronenberg, seu realizador, é um mestre incontestável da arte cinematográfica.


Sim, pois neste filme ele logra avanços significativos, sempre de maneira instigante e provocativa, em sua temática primordial, vale dizer, a relação entre natureza e sociedade, entre biologia e cultura.


Em Crimes do futuro, interessa este metabolismo particular entre seres humanos e a natureza por eles transformada, de extrema relevância em uma época de crise e catástrofe climática, de um lado, e consumo de alimentos ultraprocessados, de outro.


No enredo da película, Saul Tenser é o artista performático mutante capaz de digerir alimentos sintéticos, como plástico.


Entre outros temas relevantes, uma certa apologia da síntese evolutiva estendida, que recupera Lamarck contra Darwin ao postular a ingerência genética e evolutiva das caraterísticas adquiridas em vida.


Cronenberg é, definitivamente, um cineasta visceral que nos faz refletir sobre esse mundo misterioso e surpreendente.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 11 de maio de 2024

ABRANGENTE OU PROFUNDO?

Quer me parecer que o estudo científico, em geral, pode se apresentar de duas maneiras básicas: abrangente ou profundo, sendo rara a combinação harmônica das duas formas em uma única investigação. 

O estudo abrangente é aquele erudito, geralmente caudaloso, que no mais das vezes abroquela uma vasta base da dados empíricos, mas que não consegue suplantar a superficialidade dos elementos imediatamente acessíveis aos sentidos humanos.

Já o estudo profundo é aquele incisivo, geralmente sintético, que, sem abroquelar uma base de dados empírica muito ampla e vasta, elege um único ou poucos elementos para deles extrair o máximo em leis gerais de funcionamento do respectivo objeto investigado.

Nas ciências econômicas, em particular, o estudo abrangente conta habitualmente com uma ampla base de dados de preços das mercadorias, enquanto o estudo profundo logra atingir as relações de produção que explicam os movimentos dos preços.    

Tal dicotomia reflete, obviamente, a dualidade entre empirismo e racionalismo epistemológicos derivados da tradição filosófica platônica. 




por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.

domingo, 5 de maio de 2024

KARL MARX, PRESENTE!

Na publicação imediatamente precedente, postulei que uma biografia pode ser inútil para elucidar a obra de um grande cientista caso não abroquele o desenvolvimento histórico das relações de produção que a engendraram, nos termos do anti-humanismo teórico proposto por Louis Althusser. 

Ora, Karl Marx é um dos maiores, senão o maior, cientista social da história, podendo ser inserido em um panteão que abrange Isaac Newton, verbi gratia. 

Mas mesmo a obra de Newton foi em parte transcendida pela teoria da relatividade e pela mecânica quântica, o que não a desmerece em absolutamente nada. 

Sartre aduzia que o marxismo é insuperável, enquanto não forem superadas as condições que o engendraram. 

Ele estava correto, pois um dia a obra de Marx deverá ser ultrapassada, ainda que em  parte, por novas relações de produção que suplantarão as relações de produção capitalistas, objeto de sua investigação científica. 

A imponente figura de Karl Marx, todavia, jamais deixará de ser relevante, pois seu legado científico é atemporal.



POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA.   

sexta-feira, 3 de maio de 2024

CIÊNCIA E HISTORICISMO

Neste exato momento, estou na posse de uma biografia de Isaac Newton elaborada por James Gleick, mas, dominado pela dúvida, reluto em iniciar a leitura, pois uma indagação comove-me: qual seria a importância de uma biografia para elucidar a obra de um grande cientista?

Questão deveras complexa, devo admitir. 

Certa vertente historicista alegaria que o contexto ou a conjuntura histórica exibe-se inafastável para a devida intelecção da obra de um cidadão que tem significativa contribuição para a humanidade, como é o caso do cientista em testilha. Inclino-me a discordar. 

Ora, se a contribuição é de fato relevante, ela ultrapassa, em muito, a conjuntura e o contexto histórico que produziram o indivíduo, seja ele artista, cientista, ou seja lá o que for.

Socorro-me, neste caso, do anti-humanismo teórico postulado por Louis Althusser: importa somente o desenvolvimento histórico das relações de produção, mas não a história dos seres humanos que estabelecem involuntariamente tais relações entre si. 

Nesse caso, as biografias seriam inúteis. 

Moral da história: lerei detidamente a biografia de Isaac Newton, mas para puro deleite de fim-de-semana, sem pretensão de elucidar sua obra atemporal. 

Agora, se se tratasse de uma obra marxista de história das relações de produção para explicar a teoria newtoniana da gravidade, poderíamos até mesmo elucidar o pioneirismo britânico na Revolução Industrial do século XVIII, quem sabe?





Por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Divagação sobre capital fixo 4

 

CONJECTURA GEOMÉTRICA SOBRE CIRCULAÇÃO DE CAPITAL. 

A taxa de lucro do capital deve ser mensurada para cada rotação completa respectiva, pois as diferentes partes componentes do capital rotam com velocidades diferentes.

Destarte, numa conjectura geométrica, teríamos pelo menos três círculos concêntricos, de raios distintos, girando (circulando) com velocidades distintas, de tal sorte que:

1) O primeiro círculo, representando o capital circulante, gira com a maior velocidade;

2) O segundo círculo, representando o capital fixo de duração variável, gira com velocidade média;

3) O terceiro círculo, representando o capital fixo de duração constante, gira com a menor velocidade.

Por óbvio, tal conjectura geométrica deve ser matematicamente demonstrada e posta à prova.

por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA. 

Divagação sobre capital fixo 3

 

terça-feira, 7 de abril de 2015

ASPECTOS DA SEGUNDA LEI CONJECTURAL SOBRE CAPITAL FIXO. 

No que pertine à publicação precedente deste blog, concernente à segunda lei conjectural sobre capital fixo, esclareço que designo:

1) Capital fixo de duração variável;

2) Capital fixo de duração constante.

No caso de 1, a duração do capital fixo está relacionada com seu uso mais ou menos intenso, sendo certo que, quanto mais intenso o uso respectivo, menor sua duração, sendo certo também que tal capital está diretamente vinculado ao processo de produção de mercadorias, de tal sorte que, quanto mais intenso o seu uso, maior o número de mercadorias. Exemplo: máquinas, robôs, motores, etc.

No caso de 2, a duração do capital fixo não está relacionada ao seu uso mais ou menos intenso, exibindo-se constante, sendo certo também que tal capital não está diretamente associado ao processo de produção de mercadorias. Exemplo: prédios, iluminação, ar condicionado, etc.

No caso do capital fixo 2, quanto maior é a velocidade de rotação das demais partes componentes do capital, menor é o valor que tal capital transfere às mercadorias, pois sua duração é constante.

No caso do capital fixo 1, quanto maior é a velocidade de rotação do capital total (excluindo-se o capital 2), tanto maior é também o valor que ele transfere às mercadorias.

Tudo isto está a carecer de comprovação matemática e empírica.

POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA.

Divagação sobre capital fixo 2

 

SEGUNDA LEI CONJECTURAL SOBRE CAPITAL FIXO.

Há que se distinguir, no âmbito do capital fixo: 1) o capital fixo que transfere seu valor às respectivas mercadorias de acordo com o desgaste provocado pelo uso, como é o caso das máquinas; 2) o capital fixo que transfere seu valor às respectivas mercadorias de acordo com a mera passagem do tempo, como é o caso dos prédios, instalações, etc.

No caso de 1, para efeito de variação da taxa de lucro, é indiferente o número de rotações do capital circulante em determinado lapso temporal, a saber, a velocidade de circulação do capital.

No caso de 2, ao contrário, quanto maior o número de rotações do capital circulante em determinado lapso temporal, a saber, quanto maior a velocidade de circulação do capital, maior a taxa de lucro.

Mister observar que o capital fixo 1 pode sofrer desgaste natural pela passagem do tempo sem ser utilizado, o que também afeta negativamente a taxa de lucro.

Tal conjectura está sujeita a comprovação empírica e teórico-matemática.

(POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)

Divagação sobre capital fixo

 

LEI CONJECTURAL SOBRE CAPITAL FIXO.

Para que haja efetiva diminuição do valor individual da mercadoria mediante aumento da produtividade decorrente de investimento em capital fixo, o incremento da força produtiva do trabalho deve ser tal que compense o acréscimo de valor paulatinamente transferido aos produtos pela circulação de tal capital fixo. 

Tal lei consiste em conjectura sujeita a confirmação empírica e teórico-matemática.

Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.