John
Kennedy Ferreira*
No
início de maio de 2013, o governo petista mostrava-se forte, robusto e a
militância governista esnobava seus adversários. A aprovação da presidenta alcançava índice superior a 70%. Três anos depois, é “impichada” com
uma aprovação de 10%.
O
governo caiu sem luta, sem conseguir esboçar uma resistência real que fosse
além das redes sociais e de manifestações das vanguardas de Esquerda.
O que
ocorreu, entre 2013 a 2016, que permitiu que o
projeto lulopetista fosse a nocaute? O que fez com que a base de apoio do
"maior partido de Esquerda do Ocidente" abandonasse seu comando e
ficasse apática e distante de seus líderes???
NARRATIVA
Em
2013, o pequeno Movimento Passe Livre -- com a pauta
focada na má qualidade do Transporte público brasileiro -- chama Manifestações
contra o aumento das passagens em São Paulo. Ao contrário dos anos anteriores,
as manifestações foram fortes, a repressão falhou e a movimentação tomou proporções inesperadas conjuminando em um amontoado de bandeiras
de luta que iam contra o aumento do transporte em R$ 0,20 (vinte centavos)
passando ao preço do "litrão", chegando a várias demandas nacionais
como as questões tributárias, educacionais e políticas.
Essencialmente,
a Juventude mostrava seu descontentamento com a falta de perspectiva
apresentada pelos diplomas em instituições de Ensino de qualidade duvidosa,
empregos precários, a superexploração do trabalho, excesso de horas no trânsito
caótico, frente ao constante endividamento pelo universo consumista de
Classe Média... Ou seja, o protesto não era apenas por vinte centavos; foi uma
crítica espontânea e subjetiva de massas que a objetividade política das
agremiações, à Esquerda, não soube responder e organizar, abrindo
margem para ação da Direita.
Em
meados de junho, os jornais e tevês inicialmente contrários ao movimento mudam
repentinamente de lado. Foi a senha mostrando que algo além de aviões de
carreira estava no ar. Então, palavras de ordem contra os sindicatos,
carros de som, contra a cor vermelha, as bandeiras das organizações sociais e
partidos de Esquerda passaram a dominar as passeatas. O auge e principal teste
deu-se na passeata da Av. Paulista (21/06/2013) quando milhares de militantes de Esquerda foram expulsos a tapa da manifestação e, alguns
dias depois, o comandante da truculenta polícia paulista sentou-se no chão
junto com manifestantes em apoio as demandas genéricas da Juventude sob
aplausos entusiásticos de mais de 100 mil pessoas.
A
resposta governista propondo uma reforma política ficou aquém da ansiedade
subjetiva das multidões. A crítica emocional contra a corrupção brasileira
crescia entre os setores descontentes da Classe Média e no Proletariado
identificando no governo Dilma e nas Esquerdas os
responsáveis pelo suposto caos nacional.
Conforme
as Esquerdas e os Movimentos Sociais começam a retomar a iniciativa -- a partir
da imensa greve dos professores cariocas --, a repressão volta pesada
desmobilizando a greve e as manifestações de apoio.
Nesse
mesmo período, os grupos mais radicais do Movimento são desmantelados com a
morte das lideranças Black Bloc de São Paulo e a criminalização de ativistas
cariocas pela morte de um jornalista da Band alvejado por um rojão de vara sem vara (sic!!!).
Entramos
em 2014 com os principais veículos de comunicação colocando no ar articulistas
alinhados à oposição de Direita. Assim temos a aparição na CBN, Globo, Veja,
OESP, Folha, Band, Época, Isto É... de figuras como Reinaldo Azevedo, Constantino, Merval, Villa, Jabor, Gentili... que durante todo o ano
eleitoral bombardearam sem parar o governo tendo como tecla a corrupção petista
e a explosão do déficit público.
A
escolha da candidatura Aécio Neves (PSDB), um excelente orador, além de político astuto e agressivo, mostrou a disposição da Direita
neoliberal em sair do corner e partir para o ataque. A campanha aprofundou a
tática de José Serra (PSDB), desenvolvida no Segundo Turno de 2010, pela newcon
Soninha Francine (PPS) onde toda a sorte de preconceito e críticas
conservadoras foram apresentadas, de forma direta e indireta à Sociedade.
Os
veículos de comunicação bombardeavam dia e noite a questão da corrupção do
governo e as prisões sem provas (Ação Penal 470) -- através do "domínio dos fatos" -- de José Dirceu, José Genoíno e outros membros da
cúpula petista; davam, assim, a cara de uma Campanha Eleitoral onde a única
coisa que restava ao PT era a derrota.
Mesmo
com todo ataque midiático e jurídico, mesmo com a união de todas as candidaturas derrotadas, no Primeiro Turno, em torno da candidatura Aécio,
Dilma Roussef é reeleita por pequena margem de votos.
Dois
dias depois a presidenta e o ex-presidente Lula sobem o Alvorada vestidos de
branco, simbolicamente demonstrando que estavam dispostos
a negociar.
O
programa neodesenvolvimentista propagandeado na campanha é trocado pelo
receituário marginalista neoliberal de Joaquim Levy como meio de acalmar o
Mercado. Mesmo assim, a ofensiva da Direita não para; o PSDB pede recontagem
das Eleições alegando fraude, grupos
anticomunistas fanáticos como Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua e Revoltados
On Line declaram ilegítimo o governo e chamam uma gigante manifestação
antidilma e anticorrupção para 15 de março de 2015.
A
QUEDA
Esses
atos foram financiados, por baixo do pano, por
partidos de Direita (PSDB, DEM, e mesmo o PMDB) e por grupos estrangeiros.
Também foram apoiados de maneira explícita por grandes órgãos de imprensa que
na data suspenderam a programação normal para mostrar a indignação dos setores médios contra o governo e a corrupção.
Ao
mesmo tempo, o Parlamento eleito, o mais conservador desde 1964, dominado pela
Bancadas da Bíblia, Agronegócio, Bancada da seguranca (bancada da Bíblia, Boi e Bala) agiu de modo a bloquear a
agenda do governo e fortalecer os movimentos de rua e a Operação Lava a Jato promoveu ações jurídicas; sempre dentro do "domínios dos
fatos” apontando supostos envolvimentos de petistas em crimes sem
evidências; notícias que foram (e são) espetacularizadas pela midia.
O
Judiciário foi, então, crescendo como um Leviatã contra os direitos dos
envolvidos, que sofrem linchamento midiáticos constantes sem a menor
possibilidade de efetiva defesa.
A
base de sustentação do governo Dilma (Burguesia interna, parte da Burocracia técnica civil-militar) é criminalizada e vários empresários e quadros da tecnocracia do Estado são
detidos. Isso tudo é veiculado com estardalhaço e como condenação do “governo corrupto”.
Os
atos e agressões contra ex-ministros, candidatos do PT, membros
de sindicatos, artistas, intelectuais -- ligados ou simpáticos ao PT -- ou de
meros militantes e mesmo transeuntes trajando vermelho (e às Esquerdas) crescem
exponencialmente em todo país tornando-se uma febre em estados mais
conservadores como Paraná, Rio de Janeiro e
principalmente São Paulo.
As
medidas do governo, longe de enfrentar a crise a aprofundam. O governo Dilma
apresentou a Agenda Brasil, como forma de acalmar o Mercado principalmente as
frações rentistas da Burguesia, da Pequena Burguesia e
da Classe Média, mas não obteve sucesso!!! Joaquim Levy leva o país de uma
crise fiscal a uma recessão e no fim do ano de 2015, em meio a toda trapalhada
feita, anuncia sua demissão, denotando que o setor rentista abandonava o
governo.
A
contraofensiva governista objetivou o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha do PMDB, suposto aliado que agia como Cavalo de Troia no
centro da crise. Ele é denunciado por várias ações ilegais na Suíça; o que
motiva o Congresso a pedir seu afastamento. No mesmo dia, Cunha passa o troco e aceita o pedido de impeachement da presidenta. Nesse
momento o Brasil é cindido em dois campos claros: o da Legalidade e o do
Golpe.
A
campanha mediática, atos pró-impeachment, agressões físicas, as ações jurídicas
crescem e ganham a forma de espetáculos diários. No
Parlamento toda a iniciativa do governo é bloqueada e sua base parlamentar vai
se esfacelando com a debandada de setores do PMDB, PTB, PP... A ofensiva chega
ao auge com a tentativa de prisão de Lula em março de 2016; o governo busca retomar o ataque com as nomeações do neodesenvolvimentista Nelson
Barbosa, Eugênio Aragão na Justiça e Lula para a Casa Civil e a promessa de
aumento do Salário Mínimo.
Lula
ainda buscou rearticular a base governista e negociar com setores do Congresso e das classes dominantes anunciando medidas de apaziguamento do
Mercado acenando com Henrique Meireles. No entanto, já era tarde. O governo
desmoralizado marchou, em flagelos, ao cadafalso onde os deputados justificaram
o voto no Impeachment da presidenta em nome da família, mulher, filhos
e de seus negócios privados etc. e em seguida as votações no Senado selaram o
fim de 13 anos de lulopetismo.
A
Classe Média radicalizada nas ruas bateu panelas, tirou selfies de casamento
junto ao pato da Fiesp e confiou que haveria uma retomada do
crescimento do país e a corrupção superada. Ledo engano, o governo Michel Temer
sofre várias acusações de cleptocrático e plutocrático, produtor de uma
austeridade econômica contra os setores médios e populares como atestam o rol de Medidas Provisórias expressas em todas as áreas; ou seja, a
Classe Média está descobrindo - que ela -
pagará o pato.
ESTRATÉGIA
e TÁTICA
A
ação das Classes dominantes teve como objetivo a conquista do Estado e o
deslocamento de um projeto que -- mesmo burguês -- não atendia o
interesse dos principais grupos dos capitais associados. Dessa forma foi
preciso antes de tudo derrotar o governo e condenar os setores das Classes
dominantes vinculados a um projeto timidamente neodesenvolvimentista.
A
partir da trama golpista de 1964, bem detalhada
no estudo de René Armand Dreifuss, “1964: A CONQUISTA DO ESTADO, Ação Política,
Poder e Golpe de Estado” pode-se entender que o Golpe teve um comando central
que articulou todas as iniciativas; das agressões de rua, às passeatas, os panelaços, o bloqueio parlamentar, a ação da midia
tradicional e de redes sociais que dominaram com êxito a informação e
contrainformação.
Essa
ação de Inteligência possuía propósitos definidos; desmoralizar o governo,
inviabilizar sua capacidade de reação e bloquear a
comunicação com sua base. O resultado foi exitoso em todos os ângulos. O Golpe
transcorreu com os ritos de “normalidade”, o bloco dominante conseguiu
demonizar as agremiações à Esquerda, tendo ainda a capacidade de legitimar sua hegemonia nas eleições de 2016 com o PSDB, PMDB e demais partidos
de Direita e Centro-Direita surgindo como grandes vitoriosos. Os partidos de
Esquerda PT e PCdoB, marginalizados, vencendo em apenas duas capitais (Rio
Branco e Aracajú) e os partidos de Centro-Esquerda (Rede, PDT) em
outras três capitais. Todas eleições ganhas em Estados de menor envergadura no
cenário político nacional. O PSOL obteve um crescimento pequeno, muito aquém do
esperado, elegendo uma pequena bancada ligada aos Movimentos identitários.
O
centro da ação golpista teve como fim a construção de uma nova plataforma
política veiculada ao modelo neoliberal de desenvolvimento econômico associado
com a reestruturação produtiva promovida pela Quarta Revolução Industrial (4
RI) e a necessária reestruturação do Estado e de sua
Constituição Federal.
O QUE
ESTÁ em JOGO?
Com
crise da Nasdaq (2000) em que os EUA (e também a UE) mergulharam numa
desaceleração econômica e as saídas, como as Guerras do Iraque e Afeganistão,
não surtiram efeitos esperados; o colapso, longe de
acalmar, explodiu na bolha especulativa de 2008.
Ao
mesmo tempo, a China e a Rússia adotaram outra forma de desenvolvimento e
acumulação, centrada na ação do Estado que se tornou modelo a países como o
Brasil, Argentina, Venezuela e outros Estados que vinham
sendo devastados pelas políticas neoliberais das décadas de 1980 e 1990. Ou
seja, temos dois grandes modelos de desenvolvimento capitalista em disputa; um
centrado nas políticas neoliberais orquestradas em benefício das grandes
transnacionais e outro modelo, baseado na ação desenvolvimentista do Estado.
A
saída neoliberal jogou para uma desorganização da soberania de todos os países
que tinham
(e
tem) posição autônoma e/ou crítica em relação às políticas neoliberais. Assim,
a série de Golpes de Estado como o do Paraguai, Honduras, Brasil ao lado
das Primaveras (regime change) do Egito, Líbia, Ucrânia etc., estão de um modo
ou outro vinculados à solução da crise neoliberal e a Segunda Guerra Fria como
observa Moniz Bandeira.
Na Opera Mundi, as relações imperialistas exigem
que as dinâmicas sejam alinhadas a um modelo de desenvolvimento capitaneados
por cerca de 600 corporações transnacionais, onde os direitos civis e
trabalhistas e a soberania dos Estados secundadas às normatizações privadas expressas em tratados recém-assinados como os Tratados
Transatlântico e Transpacífico.
Por
essa lógica, há um processo de apropriação privado do público que envolve desde
ativos até cidades como um todo. Isso define o discurso antipolítica e o enaltecimento exagerado ao administrativismo como parte de todo um
mecanismo onde os governos se subordinam às regras do Mercado e, dessa forma,
(governos) apenas administram a execução dos interesses privados.
E é
só nesse contexto, de desregulamentação do Estado -- provedor brasileiro
(e de outros países) -- que podemos compreender as ações nefastas e o Golpe
sofrido pelo governo de Dilma Rousseff.
CONTRADIÇÕES
Três
fatores relativamente recentes podem ter consequências profundas no
realinhamento político global. Primeiro; a saída da
Inglaterra da União Europeia (UE) cria um grande empecilho para que a UE se apresente como uma opção à crise do
imperialismo estadunidense e fragiliza ainda mais sua consolidação (UE).
Segundo; a eleição do protecionista Donald Trump que mesmo de modo
conservador coloca em xeque as principais teorias e saídas apresentadas pelos
teóricos neoliberais. E o terceiro e último fator importante; a vitória do
Exército sírio sobre os grupos opositores que aponta para a consolidação de uma aliança sólida, além de econômica e militar, entre Rússia e
China.
CENÁRIOS
A
operação (Lava Jato) conta com o apoio militante de amplos setores da alta
Classe Média, em especial no Judiciário. Cabe ressaltar que foi através desse
núcleo que foram aprisionados políticos, burocratas,
técnicos e dirigentes de uma parcela da Burguesia interna. Também serviu de
instrumento para intimidar e forçar a capitulação de outros setores como a
Fiesp que somente em dezembro de 2015 bandeou de lado.
A
agenda, então, passa por diminuir o tamanho do Estado
privatizando/ desnacionalizando áreas produtivas e reduzindo a intervenção
promovida durante o período lulopetista. Aqui se observa a tensão entre o grupo
do PMDB -- que acabou por herdar apoio significativo da burguesia interno -- e os setores do PSDB/DEM. O fato é que uma
desregulamentação total da estrutura de Estado abala seriamente núcleos
burgueses locais inviabilizando o próprio funcionamento da Economia e da
Sociedade, como ficou claro na Carta dos Governadores do
Nordeste sobre o ajuste fiscal e, também, em setembro de 2016, os reclamos dos
governadores do Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
A
exigência por uma desregulamentação plena da Economia é o fulcro da tensão e da
Luta de Classes entre a fração interna da Burguesia, a fração externa associada e a parcelas de Classe Média neoliberais.
Há um
acordo tácito entre as frações burguesas sobre as alterações exigidas pela
restruturação produtiva internacional. Com isso, a necessidade de mudanças
dramáticas nas leis trabalhistas, reforma da Previdência
e mesmo o fim da CLT; pontos fortes que fazem eco e cimentam a unidade de todos
os setores burgueses.
O
tamanho do Estado é um ponto de tensáo entre os interesses das empresas
nacionais-- que necessitam para o seu dinamismo de relações e proteção
do Estado -- e o Capital externo -- que exige sua desregulamentação para
otimizar a veiculação de seus produtos.
O
Estado mínimo é visto por setores da Burguesia Interna como dobre de finados da
indústria nacional; hoje com ínfima participação de um pouco
mais de 10% no PIB brasileiro (já foi próximo a 25% na década de 1980). Isso é
notório nas queixas contra o aumento de impostos e a volta da CPMF, como se viu
em notas, manifestações e entrevistas de membros da Fiesp e outras federações industriais.
Isso
tem desnudado o choque entre os grupos golpistas ligados à Burguesia interna
(que tem dado trêmulo apoio a Michel Temer) e o setor do Capital associado
hegemônico. Parece que a modernização conservadora do aparato do Estado, e a sua redução, encontra resistência em setores do PMDB e nos seus
núcleos regionais. Em outro caminho, setores ligados ao Agronegócio exportador
e ao Capital externo financeiro (DEM e PSDB) são favoráveis a maior abertura
comercial e a diminuição do Estado; o que coloca em xeque o
próprio governo Temer.
A
continuidade da Agenda de Compromisso com a desregulamentação da Estrutura é o
cerne por onde passa o avanço das negociações em cima da deposição (ou não) de
Temer e a indicação pelo atual Parlamento de um presidente que cumpriria as
exigências internacionais, além suspender as eleições de 2018 – uma
possibilidade não descartada.
O
cenário também apresenta a necessidade de um novo pacto de governo, pois a
atual Constituição encontra-se praticamente destruída
e as PEC’s (da Reforma da Previdência, Trabalhista e da Educação) deixam claro
aos setores golpistas a necessidade de repactuar as relações de funcionamento
do Estado. A questão de uma nova Constituição que incorpore a reestruturação
produtiva e a reestruturação do Estado já é claramente
defendida por vários setores golpistas. Estão em pauta propostas que vão de
transformar esse Parlamento em Constituinte ou até mudar o caráter do pleito de
2018 (ou 2020).
A
OPOSIÇÃO ao GOLPE
Fim
de um ciclo histórico
A
queda do governo Dilma Roussef e a retumbante derrota eleitoral do PT (e PCdoB)
dá sérios sinais que uma etapa histórica está se fechando. A Esquerda brasileira
viveu, desde a Proclamação da República, quatro ciclos históricos, a saber; o
anarcossindicalismo até 1922, o putschismo capitaneado pelo PCB até 1935,
ciclo reformista nacionalista até 1964 e de 1979 para cá, o ciclo petista.
A
constatação relevante é que não há o que substitua a fase que está se
esgotando; as plataformas cujo alicerce é o PCdoB reproduzem o ciclo
pré-1964 (nacional-reformista) e as propostas defendidas pelo Psol expressam a
mesma metodologia e mentis factus do PT. Portanto, a dificuldade em formar um
comando político capaz de fazer frente ao Golpe encontra-se na própria raiz dos agentes políticos em questão.
Salientamos
que o processo eleitoral mostrou esse embaraço; as forças progressistas e
populares tiveram desempenho fraco, repetindo o mesmo leque de alianças com
setores golpistas que levou o governo Dilma à derrota ou,
por outro lado, sectarizando setores de Esquerda e Centro-Esquerda, privando-se
de construir um polo alternativo mais amplo como foi a candidatura de Marcelo
Freixo, no Rio de Janeiro.
Tais
políticas equivocadas favoreceram enormemente as candidaturas de Direita e Centro-Direita que tiveram um desempenho espetacular nas
urnas. Deve-se lembrar de que o fato de o tempo da Propaganda Eleitoral ser
reduzido, atividades da Operação Lava Jato, combinadas ou não com a midia,
debilitaram a coesão eleitoral e possibilitaram a ação crescente da
Direita, em especial no triângulo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte;
cidades onde se encontram os principais núcleos do Proletariado e das Classes
populares brasileiras. Destaca-se também a abstenção de cerca de 40% nessa região (em outras também), o que denota uma resistência passiva
ou desencanto com o processo eleitoral.
A
LUTA DEMOCRÁTICA
O
povo brasileiro deve se preparar para um período de instabilidade política, fruto das contradições internas da
pauta conservadora da Burguesia. Isso significará, que
as contradições da agenda desnacionalizadora, antipopular, imposta pelo bloco
burguês hegemônico enfrentarão também uma crescente resistência dos
trabalhadores que já foi capaz de impor algumas derrotas; entre elas a volta atrás de agendas como Minha Casa, Minha Vida, do Minc e --
talvez a principal -- a desmoralização social do preposto golpista e de sua
base de sustentação.
Destacam-se
as manifestações culturais contra o obscurantismo, a luta dos profissionais ligados à saúde em defesa do SUS, a ocupação das escolas e faculdades
contra a PEC 55 e a contrarreforma do Ensino Médio, a importante (e heroica)
greve dos bancários, as manifestações dos professores universitários e, também,
as mobilizações de massas promovidas pelas Frentes Povo Sem Medo e
Brasil Popular.
É
preciso um salto de qualidade político na ação de resistência que passa
necessariamente por constituir uma plataforma de ação comum, com um comando
comum, único e centralizado, capaz de bloquear a ação conservadora.
Para tanto é urgente e necessário que as várias demandas locais sejam
unificadas e as mobilizações, informação e atuação de massas tenham uma só
diretriz.
As
manifestações tão somente ganharão vulto e terão capacidade de ampliar, se for
questionada a produção do valor e do lucro, setores como, professores e funcionários públicos não
produzem mais valia, entretanto a sua ação atinge a circulação e/ou a
ação/desempenho do Estado, todavia – como afirmado acima -- não afeta a produção e o lucro e o bloco golpista enquanto tal. O
bloco golpista só sentirá o limite quando a ação da resistência ganhar o
proletariado industrial e a produção de valor. A partir desse momento e perspectiva
será possível viabilizar uma Greve Geral antigolpista e pela Democracia sem adjetivos.
Até
lá se faz mister a propaganda de sua necessidade, contudo jogar o funcionalismo
público em seguidas greves contra um Estado neoliberal tem o mesmo efeito de
atacar os panzers alemães com a Cavalaria polaca.
Mais do que nunca os quadros públicos da resistência como Marcelo Freixo, Luiza Erundina,
Flávio Dino, Lula, Dilma Roussef, Ivam Valente, Ciro Gomes, Roberto Requião,
José Pedro Stedile, Gulherme Boulos e outros tantos, precisam constituir um
único palanque e uma agenda nacional, correndo as capitais e
principais cidades do país.
É
preciso que seja reaberto o diálogo com a população brasileira, apresentando
alternativas às políticas golpistas, formulando respostas capazes de superar o
Golpe e fazer avançar o nível de consciência dos explorados.
DUAS
FORMAS de CAPITULAÇÃO
Importante
é ter claro que há nesse atual momento político duas possibilidades claras de
capitulação. A primeira diz respeito a formular uma avaliação errada de que a
resistência significa avanço; há setores ultra-esquerdistas e sectários que
creem que o núcleo do problema é derrotar as forças democráticas e populares e
assim se construírem como nova direção política. Não raro, tais setores têm precipitado
ações isoladas de vanguarda, dividindo Atos Públicos com
palavras de ordem particulares como, por exemplo, “Fora Todos” o que facilita a ação da Direita. Esses
grupos apenas se somam à Direita e essa prática empurra-os ao gueto, isola-os
da população, fortalece – pelo lado negativo -- o
espírito de seita e de “convertidos” e enfraquece a
resistência ao Golpe como um todo.
A
outra possibilidade de capitulação é a de apostar todas as fichas no Processo
Eleitoral de 2018 e em um novo “sebastianismo” em volta da candidatura do
ex-presidente Lula. Nesse caso, abre-se mão da organização política
cotidiana, da organização das massas e subestimam-se a construção de novas lutas e conquistas e, também substimam a
capacidade de articulação e força dos golpistas.
A
ação da Direita não é ditada pelo respeito à construção democrática; é sim pautada pela destruição das conquistas populares e da
democracia. Crer que, após a farsa do impeachment, serão respeitadas as regras
do jogo é uma criminosa ingenuidade e pode constituir-se na pior capitulação política nessa conjuntura tão delicada.
(IN)
CONCLUSÕES
A
pauta regressiva imposta pelo Golpe -- em especial nas contrarreformas da
Previdência, nas contrarreformas Trabalhistas, no teto de Gastos etc., tende agravar as contradições sociais e
jogar o país numa avalanche de manifestações, em especial durante o período
de dissídio salarial, entre Maio e Julho. Se não houver uma agenda consistente,
com um comando consistente capaz de responder aos anseios sociais e à
Organização de Massas, se não existirem propostas capazes de atender todos os setores que tenham contradições à agenda neoliberal, a tendência
é esse anseio latente ser açambarcado pela onda conservadora como sucedeu nas
manifestações da Juventude em 2013 e tem ocorrido nas periferias com a
incorporação das vontades dos menos favorecidos à pauta regressiva e
reacionária de grupos paramilitares, de
alguns cultos conservadores e mesmo a grupos proto ou fascistas.
*Professor
da UFMA, Sociólogo, doutor em História Econômica USP, Pesquisador do
NEILS/PUC/SP
Militante da Refundação Comunista e Filiado ao Psol