quinta-feira, 19 de abril de 2018

Paul Singer em três instantâneos






Luiz Eduardo Simões de Souza*


Celebrar a história das lutas do Prof. Singer é importante e é muito bom que isso esteja sendo feito. Trata-se da memória de um guerreiro pacífico, mas firme em seu propósito de um mundo menos desigual e injusto. 

Mas quero baixar um pouco a luz e o tom de voz, chamando a atenção para mais perto. 

Uma primeira história vem do prosaico livro "Aprender Economia", que me veio às mãos no começo dos anos 90, no meio do curso de História.  Nele, vi não apenas o que era a Economia, mas o que ela deveria ser. Aprender Economia me fez ter vontade de... aprender economia! Obrigado, Professor! 

Um segundo episódio aconteceu nos sebos da rua Aurora, no centro de São Paulo, quando nos pegamos dividindo a mesma estante. O professor Singer olhava os livros, segurava e folheava alguns, parando em um ou outro para tecer um comentário. Parei de olhar a estante para prestar atenção e aprender. Quando fomos tomar um café em frente ao sebo, ele perguntou por que eu me interessava pelo assunto, em "livros tão velhos". Contei a ele que estava me formando em História, e pensava em cursar Economia depois, para me tornar historiador econômico. Sua resposta foi entusiástica e estimulante, apesar de ter me dito que não era "necessário", que existiam muitos historiadores econômicos excelentes que não eram historiadores ou mesmo economistas, que eu "fizesse economia para me tornar economista", mas disse, sorrindo, que invejava a aventura que eu estava prestes a vivenciar. Ali, a vontade de ser historiador econômico foi suplantada pela de ser também economista. Mais uma vez, obrigado, Professor.

Um terceiro evento ocorreu quando já cursava Economia, na USP. Participava ativamente da revista acadêmica discente, e recorríamos a ele para conselhos e logística. Naquela ocasião, ele estava lecionando Moedas e Bancos - uma disciplina extremamente "técnica" - aparentemente deslocada de sua atuação como economista político.  Ao conversarmos sobre isso, surgiu a pergunta. Ele pediu licença, e voltou depois de alguns minutos com alguns maços de folhas impressas, distribuindo - os generosamente entre nós. Era "O Mistério da Moeda", um livro que estava escrevendo e "testando" em sua disciplina com os alunos. Entusiasmado, contou do plano e motivação da obra. Saí de lá pensando em fazer isso mais tarde. Como um plano deliberado de viver pelo conhecimento, aprendido e difundido. Ainda mais uma vez, obrigado, Professor Singer! Parafraseando sua linda introdução aos Princípios de Ricardo, nos Economistas, é o senhor quem vai, ainda moço e inquieto demais, em meio a tanta conformidade. Que suas ideias acendam outras consciências mais, por anos e anos. Um abraço deste seu aluno.

Historiador e Economista