Luiz Eduardo Simões de Souza*
Celebrar
a história das lutas do Prof. Singer é importante e é muito bom que isso esteja
sendo feito. Trata-se da memória de um guerreiro pacífico, mas firme em seu
propósito de um mundo menos desigual e injusto.
Mas
quero baixar um pouco a luz e o tom de voz, chamando a atenção para mais
perto.
Uma
primeira história vem do prosaico livro "Aprender Economia", que me
veio às mãos no começo dos anos 90, no meio do curso de História. Nele,
vi não apenas o que era a Economia, mas o que ela deveria ser. Aprender
Economia me fez ter vontade de... aprender economia! Obrigado, Professor!
Um
segundo episódio aconteceu nos sebos da rua Aurora, no centro de São Paulo,
quando nos pegamos dividindo a mesma estante. O professor Singer olhava os
livros, segurava e folheava alguns, parando em um ou outro para tecer um
comentário. Parei de olhar a estante para prestar atenção e aprender. Quando
fomos tomar um café em frente ao sebo, ele perguntou por que eu me interessava
pelo assunto, em "livros tão velhos". Contei a ele que estava me
formando em História, e pensava em cursar Economia depois, para me tornar
historiador econômico. Sua resposta foi entusiástica e estimulante, apesar de
ter me dito que não era "necessário", que existiam muitos
historiadores econômicos excelentes que não eram historiadores ou mesmo
economistas, que eu "fizesse economia para me tornar economista", mas
disse, sorrindo, que invejava a aventura que eu estava prestes a vivenciar.
Ali, a vontade de ser historiador econômico foi suplantada pela de ser também
economista. Mais uma vez, obrigado, Professor.
Um
terceiro evento ocorreu quando já cursava Economia, na USP. Participava
ativamente da revista acadêmica discente, e recorríamos a ele para conselhos e
logística. Naquela ocasião, ele estava lecionando Moedas e Bancos - uma
disciplina extremamente "técnica" - aparentemente deslocada de sua
atuação como economista político. Ao conversarmos sobre isso, surgiu a
pergunta. Ele pediu licença, e voltou depois de alguns minutos com alguns maços
de folhas impressas, distribuindo - os generosamente entre nós. Era "O
Mistério da Moeda", um livro que estava escrevendo e "testando"
em sua disciplina com os alunos. Entusiasmado, contou do plano e motivação da
obra. Saí de lá pensando em fazer isso mais tarde. Como um plano deliberado de
viver pelo conhecimento, aprendido e difundido. Ainda mais uma vez, obrigado,
Professor Singer! Parafraseando sua linda introdução aos Princípios de Ricardo,
nos Economistas, é o senhor quem vai, ainda moço e inquieto demais, em meio a
tanta conformidade. Que suas ideias acendam outras consciências mais, por anos
e anos. Um abraço deste seu aluno.
* Historiador e Economista