segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Software e criptomoedas

 Faz-se mister enfatizar que, afora o dinheiro, que das moedas metálicas chegou a manifestar-se como criptomoedas ou moedas digitais, as demais mercadorias também perderam materialidade:


Das máquinas têxteis e vestuário da primeira revolução industrial, passando pelos bens de consumo duráveis da segunda revolução industrial, chegamos ao hardware e software da atual revolução microeletrônica.


Tais movimentos históricos estão, evidentemente, associados.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Conjectura sobre rotação de capital.

 Quer me parecer que quanto maior o tempo de rotação de capital, maior o valor do dinheiro e menor o das mercadorias, considerando uma determinação do valor em duas etapas:


1. No processo de produção de capital, onde incide a lei marxista do valor;


2. No processo de circulação de capital, onde incide a teoria marginalista.


Conjectura a conferir.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Conjectura sobre uma contradição do capital.

 CONTRADIÇÃO ENTRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO E O PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DE CAPITAL


Penso que em um mundo ideal para o capital, o tempo de circulação seria igual a zero, de tal sorte que a realização da mais-valia exibir-se-ia instantânea, vale dizer, o tempo para venda das mercadorias também seria nulo.

Todavia, o aumento da força produtiva do trabalho tende a aumentar o tempo de circulação do capital em razão do aumento do volume de mercadorias a serem vendidas, afora fazer a taxa de lucro decrescer de forma tendencial.

É por isso que as revoluções tecnológicas que vingam afetam a um só tempo os processos de produção e de circulação de capital, aumentando a força produtiva do trabalho e diminuindo o tempo de realização da mais-valia pela venda das mercadorias.


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Décimo quinto aforismo

 No curso da história, o dinheiro perdeu sua materialidade em reação ao processo inflacionário decorrente do declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.


Sim, pois aquilo que não é fruto do trabalho humano não poderia, a rigor, perder valor, pois não o encerra.


Mas na verdade, mesmo as moedas digitais são fruto do trabalho humano.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo quarto aforismo

 Os economistas burgueses cingem-se ao processo de circulação de capital, desconsiderando a unidade entre os processos de produção e de circulação de capital, descoberta por Marx, e por isso tudo lhes parece um problema de oferta e demanda, inclusive a inflação, que na verdade é provocada pelo declínio tendencial da taxa de lucro do capital industrial.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Juros: um prelúdio.

 O capital é um sistema de contradições:


Sua acumulação conduz à queda tendencial da taxa de lucro que, por seu turno, provoca inflação, de tal sorte que o dinheiro que se valoriza (conceito de capital) acaba por se transfigurar em dinheiro que se desvaloriza.


O aumento dos juros é medida artificial e antediluviana, circunscrita ao âmbito da circulação de mercadorias, para tentar preservar o dinheiro que se valoriza, mas que produz enfim declínio mais severo da taxa de lucro do capital industrial.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Ad perpetuam rei memoriam

 A primeira revolução industrial no final do século XVIIl acelerou o processo de produção de capital.


A segunda revolução industrial no final do século XIX acelerou tanto o processo de produção quanto o de circulação de capital.


A atual terceira revolução industrial acelerou o processo de circulação de capital.


Todas aceleraram, portanto, a rotação de capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo terceiro aforismo

 O declínio tendencial da taxa de lucro do capital conduz diretamente à inflação e, indiretamente, à perda paulatina das funções do dinheiro pela perda de seu suporte material decorrente da necessária aceleração da rotação desse capital como forma de contraposição a tal declínio.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Décimo segundo aforismo

 O desenvolvimento histórico do capitalismo conduz à aceleração da circulação de capital e, quanto menor o tempo de sua rotação, menos atrelado a um suporte material revela-se o dinheiro, que de moeda metálica adquiriu hodiernamente um jaez virtual com as atuais moedas eletrônicas.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

PARABÉNS PRESIDENTE LULA!

 Parabéns grande presidente Lula pelos seus setenta e oito anos de uma vida heróica dedicada ao povo brasileiro!

Longa vida ao nosso insigne e colendo presidente!

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cinema: Michelangelo Antonioni

A DEPRESSÃO MEDICADA DE MICHELANGELO ANTONIONI


Em determinada cena de seu filme “O deserto vermelho”, Michelangelo Antonioni alude ao giroscópio, artifício que permite às embarcações e aeronaves uma navegação linear e equilibrada em meio às oscilações e turbulências do meio circundante. À serotonina cumpre função análoga nos humanos, afastando a bipolaridade maníaco-depressiva que obsta a consecução de uma vida linear e equilibrada diante de padrões socialmente aceitos: à sua disfunção, contudo, a medicina opôs os artifícios psicotrópicos antidepressivos ou moderadores de humor.

Mas a depressão consiste em fenômeno bioquímico ou social? Ou ambos? Antonioni propõe questões desse jaez na película já mencionada, um filme predominantemente cinzento e frugalmente aspergido de cores artificialmente vivas, em que a protagonista luta entre momentos de relativo equilíbrio psíquico em meio ao predomínio do estado depressivo, logo após ter emergido de uma crise pontuada de tentativa de suicídio. A narrativa da obra, desprovida de linearidade, segue curso cambaleante entre diálogos ora profundos e plenos de significados, ora ostensivamente banais e desconexos.

Ora, se parece procedente que o indivíduo deprimido tende a enxergar a realidade sob prisma patologicamente cinzento e destituído de interesse e cores, não se exibe menos verdadeiro que a realidade pode ostentar de fato tal aspecto, fomentando a depressão ou a bipolaridade onde ela se apresenta potencial ou incubada.

Exímio cineasta que é, Antonioni provoca-nos ao mostrar em seu filme uma realidade filtrada por lentes deprimidas conquanto medicadas, mas tal realidade existe de fato.

Por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Algozes do romantismo

 A produção e reprodução material da vida humana bifurca-se em dois vértices fundamentais:


1. O âmbito da reprodução sexuada;


2. O âmbito do trabalho.


A literatura de alta indagação reflete, grosso modo, tal bifurcação, sendo certo que, no caso do âmbito da reprodução sexuada, os escritores, durante muito tempo, edulcoraram e suavizaram tal universo desde uma perspectiva do amor romântico e sentimental, de certa forma fantasioso por ter como fulcro certa liberdade de escolha individual, com desconsiderar as ingerências de jaez fisiológico, social e psicológico que concorrem nessa espécie de reprodução e que sobrepujam o suposto livre arbítrio do indivíduo humano.


Gustave Flaubert revelou-se decerto um dos precursores da crítica do amor romântico com sua obra intitulada Madame Bovary, que lhe custou inclusive um processo judicial, em que a protagonista Emma desfaz abruptamente todas as veleidades burguesas e todas as fantasiosas esperanças associadas a esse amor romântico.


Franz Kafka, por seu turno, não se debruçou sobre o tema da reprodução sexuada, mas aniquilou todas as esperanças atreladas ao âmbito do trabalho: seus protagonistas são, de fato, trabalhadores como o caixeiro-viajante Gregor Samsa, o bancário Josef K. e o agrimensor K.


Muita tinta já foi dispendida para tratar do tema da alienação do trabalho sob a égide do capital, mas talvez seja de interesse, aqui, discorrer um pouco mais a propósito.


É precisamente o trabalho abstrato, que determina o valor econômico das mercadorias, o responsável por tornar a vida do trabalhador um vácuo existencial, um vazio de conteúdo e esperança cujo curso do tempo conduz ao nada.


Kafka delineou artisticamente tal falta de esperança em romances como O processo e O castelo, mas foi na novela intitulada A metamorfose que a levou às últimas consequências:


Como já antecipamos algures, a transfiguração do caixeiro viajante Gregor Samsa em inseto monstruoso proclama a falência da noção burguesa de indivíduo, identificando tal suposta realidade como um absurdo típico das contradições inerentes ao modo capitalista de produção.


Flaubert e Kafka são, definitivamente, algozes eficientes do romantismo literário.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O tempo, objeto de investigação dos historiadores.

 O tempo abstrato corresponde àquele do relógio, que serve para determinar o valor econômico de dada mercadoria, e que determina também o vazio existencial do indivíduo humano sob a égide do capital.


Já o tempo concreto coincide com aquele da teoria da relatividade geral, vale dizer, o espaço-tempo, pleno de significado e conteúdo porquanto determinado pelo movimento relativo dos corpos.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Um clássico!

 Desta vez, a Academia Sueca revelou-se sábia e certeira ao atribuir o prêmio Nobel do ano corrente ao escritor norueguês Jon Fosse, um mestre da literatura hodierna, incontornável, que encerra todos os ingredientes para se tornar um clássico universal.


Leio neste momento sua obra Septologia, na versão em idioma inglês, e digo humildemente, sem rebuços: cuida-se de autor que emula a gigantesca dimensão e importância de predecessores da mesma linhagem como Kafka, Beckett, Camus, entre outros clássicos modernos, com resgatar e aprofundar temas que lhes são caros e que tangenciam a crítica da noção de indivíduo, notadamente em questões como as de identidade e de tempo.


Formidável!


Em breve, mais a propósito…




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Décimo primeiro aforismo

 O absurdo corresponde à segunda fase do movimento dialético do tempo histórico descrito por Hegel, isto é, ele representa a antítese que sucede a tese e antecede a síntese, ou seja, ele é a negação da evidência empírica.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Modernismo

 A transfiguração de Gregor Samsa em inseto monstruoso, na novela A metamorfose de Franz Kafka, de certa forma rompe abruptamente com o realismo literário e inaugura o modernismo em sua vertente mais radical, que subverte aquilo que habitualmente acontece e crava uma realidade aparentemente absurda.


Kafka nos adverte, assim, que a própria ideia do indivíduo isolado, abstrato, essa “Robinsonada” à moda de Defoe, como sugeria Karl Marx, essa ideia é que configura uma teratologia, uma monstruosidade, enfim, um absurdo!


O modernismo kafkiano, destarte, exibe-nos a possibilidade de uma nova realidade, em que a ideia de indivíduo cede lugar a novas formas de existência e de sociabilidade, uma sociabilidade onde a solidão individual será uma afecção da alma etiologicamente curável.



Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 1 de outubro de 2023

Dialéticos

 Hegel foi o pioneiro a descortinar a lógica e a inteligibilidade do processo histórico, a saber, da história das civilizações, mas pecou por ser humano, demasiado humano.


Sim, pois expôs tal história como fruto da mente humana, identificada com o que denominou como Ideia, tanto que, para Hegel, Napoleão Bonaparte seria a Ideia montada a cavalo!


Marx adotou de certa forma o esquema lógico dialético de Hegel para compreender a história das civilizações, mas deslocou a mente humana e o desenvolvimento da Ideia de seu centro: para o Mouro de Trier tal história corresponde ao desenvolvimento autônomo das relações de produção que os seres humanos contraem entre si de forma involuntária, independentemente de sua volição, e portanto também de maneira reificada.


Para Marx, a história somente adquirirá jaez humano com a superação das dissociações de classe e de Estados nações entre os integrantes da espécie Homo sapiens.


O próprio Marx também explicou, involuntariamente, a dissociação entre corpo e mente encontradiça nos filósofos dialéticos que o precederam: ela deriva da oposição entre os aspectos concreto (valor de uso) e abstrato (valor de troca) da mercadoria, essa forma mais elementar e antiga de relação de produção, sendo certo que a centralidade da mente entre tais pensadores decorre do predomínio do valor de troca sobre o valor de uso.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.