terça-feira, 22 de setembro de 2015

Análise:

As Aporias da Ortodoxia Econômica





Tornou-se lugar comum, no âmbito da ortodoxia econômica, culpar certo “populismo do PT” pela atual crise por que passa o Brasil, de tal sorte que, segundo tal tese, a trajetória de crescimento da dívida pública acima do crescimento do PIB seria a causa da recessão em que nos enredamos hodiernamente.

Ouçamos, a propósito, o atual presidente do Insper, e outrora secretário de política econômica do governo Lula, Marcos Lisboa, em entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, aos 20 de setembro de 2015: “As despesas no Brasil crescem por dois motivos principais. Primeiro, por causa das regras de vinculação da despesa pública. À medida que o país cresce, aumentam as despesas com educação, saúde e vários outros programas. Quando o país para de crescer, não é possível reduzir essa despesa. Na média, portanto, essas despesas crescem acima do PIB.”

À primeira vista brilhantemente sintética e esclarecedora, tal explicação, no entanto, enveredou por uma aporia, ou seja, uma contradição lógica sem solução, senão vejamos.

De fato, o que o nobre economista Marcos Lisboa explica é na verdade o efeito da recessão, e não sua causa, pois quando há redução do crescimento do PIB e as despesas públicas, por causa da vinculação precedente, permanecem inalteradas, ocorre, com efeito, um aumento da dívida pública em relação ao PIB, o que esclarece porque essa dívida pública cresce sob ponto de vista de percentual do PIB, mas isso nada diz a propósito das causas da própria redução do crescimento do mesmo PIB, ou seja, isso nada elucida em relação à própria recessão, de tal sorte que aquilo que era para ser explicado, ou seja, a causa da recessão, remanesce incógnito.

A aporia ortodoxa parece-nos sintomática de um equívoco muito comum nessa vertente da teoria econômica, qual seja, o consistente em examinar a crise do capitalismo, como sistema mundial, sob prisma meramente nacional, o que conduz à esterilidade desse tipo de estudo e de suas recomendações de política econômica.

Cabe, pois, retomar o exame da crise do capitalismo sob viés mundial, máxime à luz do marxismo, seja em seu aspecto subconsumista, seja em seu aspecto cíclico. O certo, no entanto, é que o capitalismo mundial, além de socialmente injusto, por engendrar desigualdades injustificáveis, apresenta-se, acima de tudo, economicamente ineficiente, com seu desenvolvimento errático e caótico.

Por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Lançamento: Frente Nacional na Colômbia (1958-1974)







Lançamento livro: A Frente Nacional na Colômbia (1958-1974): a ditadura democrática das classes dominantes

Neste livro, o leitor terá em mãos uma instigante análise histórico-política sobre o período da Frente Nacional na Colômbia, a forma de domínio implementada pelas classes proprietárias na Colômbia num período de intensificação da luta de
classes, cuja repressão exercida no âmbito de uma democracia restringida teve como resposta extrema a organização armada de camponeses e vários grupos de esquerda.
Trata-se de um período crucial para se entender os atuais impasses em que se encontram as forças políticas e sociais na Colômbia.
O livro também conta com um importante Prefácio escrito por Carlos Lozano, jornalista, dirigente do Partido Comunista Colombiano e uma das principais lideranças no país identificadas à luta pela paz, a democracia e o socialismo .

Sinopse do livro:
“A resistência armada nem sempre é uma escolha.
A Colômbia é o exemplo mais patente de um processo de repressão sem-fim de adversários políticos sob instituições aparentemente livres. A violência institucional e extralegal das classes dominantes condicionou o modelo organizativo da esquerda colombiana e a conduziu a uma situação histórica crucial em que só podia reagir pela luta armada ou perecer.
Mais do que se imagina, a “Democracia Restringida” não é uma peculiaridade colombiana, e sim uma característica permanente da América Latina, embora Ana Carolina Ramos revele as singularidades do processo histórico de um país dependente e de enorme diversidade geográfica e cultural.
Este livro nos ensina que a Democracia plena e participativa está no futuro e não no passado”.

Lincoln Secco
Professor Livre-Docente de História Contemporânea na Universidade de São Paulo (USP).