sábado, 31 de agosto de 2024

POLARIZAÇÃO

 Quer me parecer que o Estado de bem-estar social, hoje em estiolamento, foi uma decorrência direta, nos países capitalistas, da ameaça política representada pela existência da União Soviética e dos países a ela alinhados, a saber, uma forma de mitigar as lutas de classes e afastar a ameaça socialista mediante uma distribuição de riqueza mais equilibrada no interior das balizas capitalistas.


O colapso soviético e o fim da guerra fria determinaram também uma crise no Estado do bem-estar social, favorecendo a ascensão das políticas neoliberais e seu paroxismo representado pelo fascismo, com decorrente deterioração das condições materiais da classe trabalhadora e o advento daquilo que a mídia burguesa costuma designar por “polarização política”, que nada mais é do que a volta das lutas de classes mais francas e renhidas.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

ELUCUBRAÇÕES ESPECULATIVAS, PARTE 2

 1. Os “vazios” e “buracos” ocupados e preenchidos pela expansão do universo provavelmente correspondem aos buracos negros descritos por Stephen Hawking.


2. Tampouco o tempo exibe-se linear, contínuo e desprovido de lacunas, pois, como demonstrado pela teoria da relatividade, ele deve ser perscrutado nos movimentos relativos dos corpos, eis que inexistente uma suposta entidade ou lugar transcendente a partir do qual se possa observar o universo de fora dele.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A ECONOMIA DE LONGO PRAZO

 A economia comportamental investiga a atuação dos indivíduos diante das circunstâncias econômicas, o que exibe lá sua validade, pois é sabido que as relações de produção, malgrado sua vontade própria e independente dos indivíduos, são mediadas por estes últimos.


Nesse diapasão, a economia comportamental parece efetiva no curto e médio prazo, mas no longo prazo é mister investigar as grandes tendências ditadas pela vontade própria das relações de produção, que radica nas razões e leis pelas quais a economia política é regida.


Assim, oscilações de curto e médio prazo na economia capturam essa mediação das relações de produção pelos agentes econômicos individuais, mas as leis mais profundas e gerais da economia somente se revelam em séries históricas de longo prazo, de onde se extrai a mais importante das leis da economia burguesa, a saber, a do declínio tendencial da taxa de lucro do capital.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

A OBJETIVIDADE NAS CIÊNCIAS HUMANAS

Como é cediço, os seres humanos contraem entre si relações de produção, ou de propriedade, que escapam ou são francamente infensas à sua volição e que os dominam, de tal sorte que os indivíduos atuam na história como meros vetores de determinações estruturais de tais relações, as quais devem ser tomadas, portanto, como objeto por excelência das investigações das ciências denominadas "humanas", máxime no âmbito das ciências econômicas. 

A subjetividade individual, nestes termos, somente interessa como inconsciente coletivo, consoante descrito pela psicologia analítica e, assim mesmo, somente como reflexo mediato ou imediato das relações de produção ou de propriedade. 




POR LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

domingo, 25 de agosto de 2024

O dinheiro sujo segundo Alfred Hitchcock.

 Na obra prima clássica de Alfred Hitchcock intitulada Vertigo, de 1958, a transformação de Judy Barton em Madeleine Elster, e vice-versa, representa evidentemente uma metáfora cinematográfica do âmago das artes cênicas, vale dizer, da convolação dos atores em personagens.


Mas esta mutação é deflagrada pela ganância desmedida de Gavin Elster, que colima a extinção de sua esposa Madeleine para arrebatar-lhe a fortuna, vale dizer, trata-se de uma mutação provocada pelo dinheiro, em analogia à função deste como cerne da circulação de mercadorias, isto é, do intercâmbio e equivalência entre as mercadorias.


Enfim, cuida-se de uma película que explora, entre outras coisas, sobretudo a capacidade do dinheiro de transmutar a realidade, inclusive quando este dinheiro serve à produção cinematográfica, uma arte poderosamente mimética do real.


Mas cuidado, o dinheiro é sempre sujo, e exibe grande afinidade com o mundo do crime.


Alfred Hitchcock, um gigante nos 125 anos de seu nascimento!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sábado, 24 de agosto de 2024

DINHEIRO SUJO

 O dinheiro é sujo por definição, sempre foi assim e sempre será.


Ele corresponde à circulação de mercadorias, que, na origem histórica, antes do advento do capital, servia aos mercadores para extrair mais-valia dos produtores mediante as diferenças de preços, vendendo caro e comprando barato, como no antigo sistema colonial descrito por Fernando Novais.


Com o advento do capital, o dinheiro extrai mais-valia diretamente da força de trabalho, mediante o engodo do pagamento de salário.


Dinheiro sujo?


Sim, sempre foi e sempre será!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

PÓS-MODERNISMO

 Deparo-me com um curso sobre o pensamento de Michel Foucault e constato: estamos perdendo de vez, máxime nas ciências humanas, qualquer traço de objetividade: sim, um curso sobre a subjetividade individual de um autor determinado, não sobre um objeto independente do indivíduo!


Simetricamente, há uma sobrevalorização da metacognição ou da epistemologia: estudos sobre o sujeito do conhecimento, não sobre o objeto do conhecimento.


Alguns diriam que a culpa recai sobre os intelectuais franceses pós modernos.


Eu arriscaria que o pós modernismo consiste numa fase adiantada do capitalismo financeiro: o capital fictício predomina sobre a produção real de mercadorias, e a alienação, a saber, a distância entre os seres humanos e o controle sobre as relações de produção que eles contraem heteronomamente entre si, atinge graus inauditos.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 18 de agosto de 2024

ELUCUBRAÇÕES ESPECULATIVAS

1. A noção de número pressupõe uma delimitação e finitude que é incompatível com o conceito matemático de contínuo, o qual, por seu turno, pressupõe a ideia de infinito;

2. Tal conceito de contínuo atrela-se, na mecânica clássica, à ideia de tempo e espaço contínuos e infinitos, desprovidos de "buracos" ou "vazios";

3. A hipótese do universo em expansão, sustentada nas descobertas empíricas de Edwin Hubble, sugere, todavia, que o espaço não é infinito, pois sua expansão pressupõe "vazios" e "buracos" a serem preenchidos por esse movimento expansivo.



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

MARXISTAS E BURGUESES DIANTE DA INFLAÇÃO

Para os economistas de extração tipicamente burguesa, aí inclusos neoclássicos e keynesianos, a inflação decorre das disparidades entre oferta e demanda econômicas, isto é, constitui fenômeno matematicamente indeterminado, subjetivo, mediado pelos agentes econômicos envolvidos, quando na verdade é sabido que tais agentes agem como meros vetores de determinações estruturais do capital. 

Para os marxistas, ao contrário, a inflação decorre da lei do declínio tendencial das taxas de lucro do capital, sendo portanto matematicamente determinada, objetiva e imediata. 

A superioridade do exame marxista na abordagem da inflação reside precisamente no seu maior grau de objetividade em comparação com as investigações de jaez burguês. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

terça-feira, 6 de agosto de 2024

O TOMBO DAS BOLSAS DE VALORES

Como sói acontece, a grande mídia de extração burguesa internacional atribuiu, ontem, a forte queda generalizada dos índices das bolsas de valores, no mundo inteiro, à aversão ao risco decorrente de fatores como receio atrelado a possível recessão da economia estadunidense e à crise recente no Oriente Médio.

Tal atitude está arraigada na pseudociência da economia comportamental que coloca o ser humano no centro das decisões econômicas, quando é cediço que os capitalistas agem como meros vetores de determinações estruturais do capital, pois o capitalismo desenha-se a partir de relações de produção alheias à volição humana.  

Nesse diapasão, faz-se mister aduzir que, na verdade, o movimento das bolsas de valores é determinado, em última instância, pelas oscilações nas taxas de lucro do capital, máxime pela mais importante das leis da economia burguesa, a saber, aquela descrita por Marx como declínio tendencial das taxas de lucro do capital industrial.

É a partir dessa lei, e não na aversão ao risco, que é preciso investigar as razões profundas das oscilações do mercado acionário.



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.