O traço distintivo do modo capitalista de produção não é a produção de mercadorias, mas a produção de uma mercadoria específica, a saber, a força de trabalho, tanto que Karl Marx, em sua obra monumental intitulada O Capital, aduz que esta força de trabalho consiste em mercadoria especial cujo valor é determinado não pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la, como acontece com as demais mercadorias, mas pelo valor do conjunto dos meios mínimos de subsistência do respectivo trabalhador, asserção esta que se nos antolha aporética e tautológica, consoante já alertado por teóricos marxistas de nomeada, como Isaak Rubin.
No esforço de dirimir tal aporia tautológica, no entanto, ousamos postular que a força de trabalho enquanto mercadoria exibe-se especial pelo fato de seu valor ser determinado por dois fatores distintos, vale dizer, o trabalho e a violência, senão vejamos.
Sem embargo, a violência, monopolizada pelo Estado, preserva e mantém, pelas forças públicas, a dissociação histórica entre o trabalhador e seus meios de produção, comprimindo o valor da força de trabalho aos meios mínimos de subsistência do respectivo trabalhador, o que não difere substancialmente o proletariado capitalista dos escravos sob o escravismo colonial, verbi gratia.
Todavia, afora a violência, também o trabalho, por exemplo, dos professores (educação) e dos médicos (saúde) determina, de forma aditiva ao valor dos meios mínimos de subsistência do trabalhador, o valor total da força de trabalho, o que se exibe em perfeita consonância com a teoria marxista do valor das mercadorias.
Resta ainda obtemperar que a violência, em regime de monopólio estatal exercido pelas forças públicas, é completamente suportada pela carga tributária, enquanto educação e saúde podem ser oferecidas pelo capital privado, o que suscita o problema teórico da repercussão econômica dessa carga tributária.
Hipóteses sub judice.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.