domingo, 1 de dezembro de 2024

AINDA SOBRE ESTATISMO E LIBERALISMO

1. Mercantilismo e keynesianismo, isto é, o intervencionismo estatal para aumentar a demanda econômica interna, decorre da necessidade de  extração de lucros predominantemente no âmbito do processo de circulação de capital, mediante elevação de preços de valores de uso inauditos e de alto valor econômico. 

2. O liberalismo, por seu turno, predominante no século XIX e na época hodierna, decorre da necessidade de extração de lucros eminentemente no âmbito do processo de produção de capital, mediante maximização da mais-valia absoluta e relativa, bem assim da consequente desregulamentação da compra e venda da força de trabalho. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

sábado, 30 de novembro de 2024

ESTATISMO E LIBERALISMO

 Durante o período histórico da subsunção meramente formal do trabalho no capital, ou seja, na época da manufatura anteriormente à revolução industrial inglesa do século XVIII, os lucros são auferidos basicamente no processo de circulação de mercadorias, e o protecionismo estatal exibe-se robusto.


Com a mencionada revolução industrial, os lucros passam a ser hauridos eminentemente no processo de produção de capital, com o consequente advento do liberalismo econômico, que predominou durante todo o século XIX.


No século XX, com a segunda revolução industrial que trouxe novos valores de uso consubstanciados nos bens de consumo duráveis produzidos pela indústria mecânica pesada, o liberalismo entra em fase de refluxo, sendo certo que os lucros passam a ser extraídos em grande medida no processo de circulação de capital.


A hodierna revolução digital revigorou o liberalismo, ao entronizar novas formas de produção e exploração do trabalho agora eminentemente intelectual, de tal sorte que os lucros voltaram a ser auferidos em maior escala no processo de produção de capital.


A alternância entre protecionismo e liberalismo parece, pois, derivar da forma predominante de obtenção e maximização dos lucros.


Conjectura sub judice.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMO CAPITAL FIXO

Já ventilamos aqui a hipótese de que o capitalismo hodierno, produtor de software como mercadoria de vanguarda por excelência, pressupõe a compra e venda da força de trabalho eminentemente intelectual, no que encetou uma profunda subversão na divisão do trabalho clássica entre trabalho manual (proletariado) e trabalho intelectual (capitalistas).

Todavia, esse capital moderno da atualidade, produtor de software, ainda não efetuou a subsunção real desse trabalho intelectual, quedando ainda em vigor a subsunção meramente formal do trabalho intelectual no capital, em evidente analogia com a época da manufatura (anterior à grande revolução industrial inglesa do século XVIII) em que o trabalho manual ainda não se subsumia no capital de forma real. 

A incipiente inteligência artificial de nossa época, entretanto, exibe a tendência, vale dizer, a possibilidade histórica de vindoura subsunção real do trabalho eminentemente intelectual no capital produtor de software, em evidente simetria com a maquinaria e grande indústria no que pertine ao trabalho eminentemente manual, de tal sorte que essa inteligência artificial poderia ser, no futuro, enquadrada conceitualmente como capital fixo, da mesma forma como a maquinaria também exibe o jaez de capital fixo. 

A viabilidade energética desse novo capital fixo consubstanciado na inteligência artificial, no entanto, vem sendo questionada, o que pode inverter a tendência histórica supracitada.

São hipóteses sub judice. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  





terça-feira, 26 de novembro de 2024

PRINCIPAL E ACESSÓRIO

Em sua obra intitulada "Sobre a contradição", o grande líder chinês Mao Tsé-Tung encetou uma fértil, fecunda e nada trivial distinção entre contradição principal e contradição secundária, ou acessória, cuja atualidade parece-me indiscutível. 

Sim, hodiernamente experimentamos não somente a velha contradição, vaticinada pelo socialismo científico, entre relações de produção e forças produtivas, consubstanciada nas recorrentes crises financeiras do modo capitalista de produção; mas também a contradição entre forças produtivas e equilíbrio ecológico, evidente na crise climática atual e urgente. 

Isto posto, indago-me: qual destas duas contradições é a principal, nos termos maoístas mencionados?

Colho do ensejo para destacar uma interessante opinião de alto executivo da empresa de tecnologia OpenAI, que afirma não haver sustentabilidade energética no mundo para a vindoura inteligência artificial que se insinua atualmente, malgrado essa tecnologia constitua a vanguarda das forças produtivas no capitalismo da época corrente. 

Nesse diapasão, quer me parecer que a contradição principal reside na oposição entre relações de produção e forças produtivas, pois o que fomenta o desenvolvimento inexorável e descontrolado destas últimas são as necessidades capitalistas, de tal sorte que a crise ecológica seria, nesse sentido, um epifenômeno desta contradição principal. 

São conjecturas incipientes para debate. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A DESCOBERTA DA MAIS-VALIA

 Adam Smith cingiu-se ao processo de produção de capital, enquanto os neoclássicos enfatizaram o processo de circulação de capital, mas nenhuma dessas correntes teóricas divisou em profundidade a compra e venda da força de trabalho.


Keynes vislumbrou tal compra e venda da força de trabalho, mas cingiu-se ao seu trato no âmbito do processo de circulação de capital, como ocorre com Arthur Cecil Pigou, o expoente neoclássico que ele se propôs a criticar; Keynes hauriu avanços em relação a Pigou, sem subvertê-lo completamente.


Karl Marx foi mais longe e desvelou a extração da mais-valia ao tratar a compra e venda da força de trabalho como momento do processo de produção de capital, deslocando-a do processo de circulação de capital, e nisso consiste o jaez radical e revolucionário de sua obra.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

domingo, 24 de novembro de 2024

VISIONÁRIOS E MALDITOS

 Os dois maiores economistas da história, Karl Marx e Nicholas Georgescu-Roegen, expuseram de forma sistemática os limites do modo capitalista de produção e, assim, malgrado visionários, tornaram-se malditos na academia, dominada pelos clássicos e neoclássicos liberais, os quais foram objeto de acerba crítica desses dois gigantes da ciência.


Argumentarão que olvidei o nome de John Maynard Keynes, outro gigante infenso ao mainstream econômico, mas o britânico cingiu-se aos parâmetros do processo de circulação de capital, encerrando-se nos limites clássicos da oferta e demanda econômicas, na exata medida em que se propunha, na verdade, a corrigir os rumos do capitalismo, mas não a transcendê-lo.


Marx, ao contrário, expôs radicalmente as contradições endógenas do capitalismo e seus limites intransponíveis, mostrando sua injustiça, nas desigualdades sociais, e sua ineficiência, nas crises periódicas, com preconizar sua substituição por um modo de produção superior, o comunismo.


Georgescu-Roegen também demonstrou, um século depois de Marx, em 1971, os limites biofísicos e termodinâmicos do capitalismo, antevendo a hodierna crise ecológica desse modo de produção, e preconizou o decrescimento como forma de a transcender.


Marx e Georgescu-Roegen posicionaram-se radicalmente infensos ao lucro capitalista, e por isso são malditos, algo que Keynes, de certa forma, não ousou combater, restando mais aceito no âmbito acadêmico.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

REVOLUÇÃO DIGITAL E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Destacamos, no texto imediatamente precedente, que a revolução industrial inglesa do século XVIII encetou a compra e venda em larga escala da força de trabalho eminentemente manual, inserindo o dinheiro no âmago do processo de produção de mercadorias, com a consequente subsunção real do trabalho eminentemente manual no capital, mediante sua direção pela maquinaria e grande indústria, sendo certo que engendrou, na orbe da política econômica, o movimento liberal. 

Pois bem:

De forma simétrica, a hodierna revolução digital encetou a compra e venda em larga escala da força de trabalho eminentemente intelectual na produção de software, com a consequente subsunção meramente formal do trabalho eminentemente intelectual no capital, com engendrar o movimento neoliberal de política econômica.

É de se esperar que a inteligência artificial passe, daqui a alguns anos, a dirigir a força de trabalho eminentemente intelectual, como a maquinaria e grande indústria dirige a força de trabalho eminentemente manual, com promover a subsunção real desse trabalho eminentemente intelectual no capital. 

São hipóteses sub judice.



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.