Ciente do jaez complexo e controverso do tema em testilha, não posso esquivar-me, todavia, de tecer alguns comentários bastante incipientes a propósito.
A exímia estudiosa Shoshana Zuboff recentemente cunhou o conceito de capitalismo de vigilância para denominar o que entende representar uma nova etapa no modo capitalista de produção, caracterizado por utilização de dados para dirigir o comportamento dos cidadãos nas variegadas esferas de sua vida, tanto políticas quanto econômicas.
Honestamente, não sei se logrei compreender bem tal categoria, mas quer me parecer que se nota uma certa influência do conceito de poder esgrimido por Michel Foucault, em que a política predomina sobre a economia.
Entendo, entretanto, que enquanto o problema da produção e reprodução da vida material humana em sociedade não for devidamente resolvido, a questão da distribuição do produto econômico entre as distintas classes sociais remanescerá predominante, de tal sorte que a economia continuará prevalecendo sobre a política, cabendo destacar que a obtenção do lucro permanecerá dirigindo eventual tentativa de determinação do comportamento individual.
Nada obstante, a controvérsia segue complexa, pois o próprio Lênin argumentava que a política é mais importante do que a economia, mas, nota bene, este dirigente político liderava um partido proletário em processo revolucionário, e sabemos que o proletariado constitui a única classe social apta a resolver aquele problema da produção e distribuição material da sociedade, acima aludido, isto é, a única força social e histórica hábil a limpar "toda a velha merda", na locução sardônica do próprio Karl Marx.
Enfim, um bom e necessário debate.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.