Considerando que a taxa social de mais-valia pode ser definida como a razão entre o tempo médio de vida laboral da classe trabalhadora subtraído pelo tempo médio de escolaridade dessa mesma classe e o próprio tempo médio de escolaridade — isto é:
TSMV = (TVL - TE) / TE
onde TSMV representa a Taxa Social de Mais-Valia, TVL o Tempo de Vida Laboral médio, e TE o Tempo de Escolaridade médio — e assumindo, por hipótese, que a taxa de mais-valia do capital individual é idêntica à taxa social de mais-valia, então depreende-se uma contradição estrutural no interior do modo capitalista de produção.
Tal contradição se torna manifesta sobretudo no setor educacional. À medida que o tempo médio de escolaridade da classe trabalhadora se eleva — o que, do ponto de vista do capital social total, tende a diminuir a TSMV —, reduz-se a parcela do tempo de vida dos trabalhadores disponível para a produção direta de mais-valia. Em outros termos, a escolarização representa um intervalo de não-valorização do capital, uma suspensão temporária da produção de valor, retardando a entrada do trabalhador no circuito produtivo.
Dessa maneira, o capital individual investido na educação encontra-se diante de uma disjuntiva insolúvel: enquanto contribui para a formação da força de trabalho e para a reprodução ampliada das condições sociais de produção, ele, paradoxalmente, atua contra a própria lógica da valorização do capital, ao reduzir a taxa média de extração de mais-valia.
Essa dinâmica evidencia o caráter antagônico do capitalismo diante das necessidades sociais ampliadas. O investimento em educação, embora socialmente necessário, torna-se economicamente disfuncional sob a lógica do capital, ao afetar negativamente a lucratividade do capital individual que o realiza. Trata-se, pois, de uma contradição imanente, que não pode ser resolvida dentro dos marcos da racionalidade capitalista.
Assim, o paradoxo da educação no capitalismo revela um limite interno da forma-valor: quanto mais a sociedade exige qualificação e complexidade intelectual da força de trabalho, menos rentável se torna sua formação para o capital individual. Esta aporia aponta, finalmente, para a necessidade histórica de superação do próprio modo de produção capitalista.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
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