sábado, 21 de junho de 2025

OS GIGANTES DA LÓGICA: MARX DIANTE DE HEGEL E GÖDEL.

A teoria do valor de Karl Marx, pilar da crítica da economia política, parece inicialmente oferecer um arcabouço conceitual coerente e sistemático: o valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. No entanto, quando Marx analisa a força de trabalho como mercadoria, ocorre uma inflexão conceitual crítica que dá margem a uma aporia lógica: seu valor é definido não por esse tempo diretamente, mas pelos meios de subsistência necessários à sua reprodução. Essa mudança, aparentemente sutil, instaura uma tensão interna que pode ser lida como tautológica, quando considerada sob um crivo lógico-filosófico. 

Destarte, ao definir o valor da força de trabalho como o valor dos meios de subsistência necessários à sua reprodução, Marx parece romper com a definição geral de valor baseada no tempo de trabalho. Isso leva a uma circularidade: o valor da força de trabalho é o valor daquilo que permite que ela continue existindo, isto é, o valor daquilo que tem valor. Em termos formais, temos uma tautologia: uma proposição em que o termo a ser explicado é redefinido pelo próprio sistema conceitual ao qual pertence. 

Observe-se, no entanto, que a lógica dialética de Hegel parte da premissa de que todo conceito ou sistema conceitual carrega em si uma contradição interna que o impele à sua superação, conduzindo o real ao devir histórico diacrônico. A aparente tautologia na obra de Marx não é erro, mas sintoma de uma verdade mais profunda: a contradição real do capitalismo. Marx, herdeiro crítico de Hegel, não esconde a contradição; ao contrário, expõe-na como núcleo da crítica.

Nesse diapasão, a força de trabalho deve ser considerada como a antítese do capital, a saber, sua negação, de tal sorte que a determinação de seu valor acaba por contradizer o próprio âmago da teoria marxista do valor, engendrando uma aporia que, por seu turno, desdobra-se em tautologia.    

Já o teorema da incompletude de Gödel demonstra que todo sistema formal suficientemente complexo para abarcar a aritmética é incapaz de provar, por seus próprios meios, todas as verdades que pode expressar. Há sempre proposições verdadeiras que não podem ser demonstradas dentro do próprio sistema. A analogia com a teoria do valor é poderosa: o sistema conceitual marxista, ao atingir a força de trabalho, revela um ponto de ruptura interna, um limite de formalização. Assim como em Gödel, há uma verdade que só pode ser expressa por uma crítica que transcende os limites do sistema formal.

Hipóteses sub judice. 





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA historiador.  


2 comentários:

  1. Sou analfabeto em lógica e conheço Gödel de ouvir falar, mas parece que faz sentido sua comparação e a conclusão genial sobre a lógica intrinsecamente contraditória do capital

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    1. Valeu Serginho meu amigo, grande abraço fraterno!

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