Como vimos no texto imediatamente precedente, publicado neste portal eletrônico, não existe ainda nenhum estudo sobre a produção capitalista da força de trabalho como mercadoria.
Em sua obra O Capital, Karl Marx define o valor de uma mercadoria como o tempo de trabalho humano socialmente necessário à sua produção, mas mais adiante assevera que o valor da força de trabalho como mercadoria consiste no valor dos meios de subsistência necessários à produção do trabalhador médio.
Bem, de proêmio, tal diferença conceitual configura uma aporia lógica, pois o valor da força de trabalho, se não é calculado pelo tempo de trabalho humano socialmente necessário, contradiz o cerne mesmo desta teoria do valor, de tal sorte que a força de trabalho não poderia ser considerada como mercadoria.
Outrossim, tal aporia desdobra-se em tautologia, pois o termo "valor" aparece tanto na definição como no objeto que está sendo definido, o que configura uma circularidade ou redundância que abala a consistência lógica do conceito.
Mas a mente genial de Karl Marx incorre em tais equívocos lógicos e teóricos por uma razão histórica: a força de trabalho como mercadoria, na época de Marx, ainda não era totalmente produzida de forma capitalista, isto é, não era produzida mediante trabalho assalariado que rende mais-valia, mas era produzida de forma ainda, digamos, "artesanal" no seio da família pelas tarefas domiciliares de seus respectivos membros, dado o caráter eminentemente manual da força de trabalho, que não exigia qualificação intelectual ou escolar naquela época.
Faz-se mister aduzir que somente neste século XXI, com o advento da assim denominada revolução digital (que difundiu o trabalho eminentemente intelectual em larga escala na produção de software), a força de trabalho passou a ser plenamente produzida de forma capitalista, mediante o trabalho assalariado dos professores no âmbito escolar ou acadêmico, dado o jaez eminentemente intelectual dessa nova força de trabalho produtora de software.
Estudiosos como Kalecki e Keynes investigaram especificamente os salários, isto é, os preços da força de trabalho, ou a expressão monetária do respectivo valor, mas somente no aspecto da circulação dessa força de trabalho como mercadoria, sujeita a flutuações de oferta e demanda econômicas no cerne do capitalismo, mas não se debruçaram sobre a PRODUÇÃO CAPITALISTA da mesma força de trabalho como mercadoria.
Impende, pois, encetar esse estudo do valor da força de trabalho como mercadoria produzida de forma capitalista.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
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