No modo de produção capitalista, o ser humano é subsumido como mera força de trabalho. Ele já não é portador de uma singularidade qualitativa, mas expressão de uma funcionalidade mensurável, calculável, intercambiável. O capital, ao reduzir todas as relações sociais à lógica do valor, transforma a subjetividade humana em mercadoria: seu valor é definido não por sua interioridade, mas pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua reprodução.
Assim como a forma-mercadoria converte os objetos de uso em valor de troca, destituindo-os de seu vínculo direto com necessidades concretas, também o capital converte o ser humano em abstração operante — força de trabalho pura, sem história, sem rosto, sem peso ontológico. As esculturas lineares de Giacometti encarnam precisamente essa abstração reificante: são homens e mulheres transformados em vetores, em traços de tempo e produtividade, em corpos já desprovidos de carne, desejo ou história. São, em última instância, figuras da alienação total.
A obra de Giacometti, nesse sentido, pode ser lida como crítica estética do processo de reificação capitalista. Ao mostrar corpos tão despojados de substância que parecem prestes a desaparecer, o escultor antecipa, na arte, aquilo que o capital realiza na vida: a dessubstancialização do ser humano, sua conversão em cifra, em código, em número. No lugar do homem integral, surge o trabalhador abstrato. No lugar do sujeito histórico, a variável econômica.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
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