Parece haver certa querela envolvendo o âmago da teoria marxista do valor, consistente no seguinte: O valor de determinada mercadoria é resultante do tempo de trabalho humano abstrato socialmente necessário para sua produção, mas a mercadoria consubstanciada na força de trabalho não parece ser resultante deste tipo de trabalho industrial abstrato que engendra todas as demais mercadorias, mas sim resultante do trabalho dispensado no âmbito familiar e escolar.
Haveria aí uma discreta aporia na teoria marxista do valor? Penso que não, pelo seguinte: As duas primeiras grandes revoluções industriais do capitalismo, respectivamente nos finais dos séculos dezoito e dezenove, alteraram profundamente o capital constante, provocando aumento significativo nos valores nele investidos, sem modificar substancialmente o valor da força de trabalho que compõe o capital variável, de que resultou um aumento da composição orgânica do capital.
Já a terceira revolução industrial, do final do século passado, incidiu basicamente no capital variável, eis que seu principal produto ou mercadoria consiste no software, que exige maior qualificação da força de trabalho, o que aumentou o valor da força de trabalho e os investimentos, portanto, em capital variável, ao mesmo tempo que diminuiu os aportes em capital constante, de que resultou uma diminuição na composição orgânica do capital.
Logo, a força de trabalho tornou-se mais intelectual do que manual, exigindo maior tempo de formação no âmbito escolar, ou extrafamiliar, mas seu valor aumentou no geral.
São singelos rabiscos exploratórios para desenvolvimento ulterior.
(Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)
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