quarta-feira, 26 de março de 2025

DIALÉTICA DA QUANTIDADE E QUALIDADE

 1. Na época do capitalismo concorrencial, mudanças qualitativas no processo de produção de capital engendram alterações quantitativas de preços e quantidades de mercadorias produzidas;

2. ⁠Na época do capitalismo monopolista, as mudanças qualitativas atingem não apenas o processo de produção de capital, mas as próprias mercadorias, com a contínua revolução nos valores de uso e necessidades humanas, sendo certo ainda que tal revolução qualitativa também engendra alterações quantitativas, nomeadamente nos preços das mercadorias.


Destarte, faz-se mister anotar que mudanças qualitativas convertem-se em alterações quantitativas, e estas, por seu turno, quando atingem determinada magnitude, convertem-se em mudanças qualitativas.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 25 de março de 2025

ADOLESCÊNCIA

A hodierna revolução digital entronizou o trabalho intelectual, máxime na produção de software e, com isso, abriu as portas do mercado de trabalho para as mulheres, que anteriormente eram de certa forma preteridas nesse mercado pelo predomínio do trabalho manual, dominado pelos homens, fisicamente mais adequados a tal espécie de trabalho.

A reação a tal situação manifesta-se atualmente no recrudescimento de uma certa, digamos, "guerra dos sexos", com a decorrente intensificação tanto da misoginia quanto do feminismo.

Mas a revolução digital é produto histórico do desenvolvimento espontâneo do modo capitalista de produção, cuja contradição principal reside na oposição entre capital e trabalho, a saber, nas lutas de classes, sendo que a assim designada guerra dos sexos exibe-se como epifenômeno ou contradição secundária, como ensinava Mao Tsé-Tung.

Mas o neoliberalismo, oportunista, soube instrumentalizar essa guerra dos sexos em seu favor, no âmago do embate essencial contra o marxismo e as lutas de classes. 

A série audiovisual intitulada "Adolescência", tecnicamente muito boa, perde-se, todavia, na guerra dos sexos em detrimento das lutas de classes. 

Como dizem os franceses, c´est dommage. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.     

domingo, 23 de março de 2025

TEMAS SOBRE ESTADO-NAÇÃO E DINHEIRO

1. Karl Marx, no livro primeiro de sua monumental obra intitulada O Capital, investiga o dinheiro ainda em sua forma universal e supranacional, como dinheiro metálico em ouro e prata, em que a lei do valor ainda não arrosta delimitações geográficas.  

2. Todavia, o devir histórico parece exibir um movimento direcionado ao confinamento da lei do valor em certos limites geográficos, desde as corporações de ofícios medievais até os hodiernos Estados-nação, passando pelos Estados absolutistas da era moderna.

3. Com efeito, observa-se que a época dos Estados absolutistas modernos ainda exibe a emissão espontânea de dinheiro em sua forma metálica universal e supranacional no âmago do processo de circulação de mercadorias, enquanto os atuais Estados-nação já emitem moedas nacionais, como papel-moeda ou moeda fiduciária, cuja validade oficial e respectiva cotação é garantida pelos bancos centrais, numa tentativa de confinamento da lei do valor em âmbito nacional e que, cabe suscitar, tem na inflação seu maior desafio.

4. Hodiernamente, observam-se os primeiros ensaios de emissão também espontânea e à margem dos Estados-nação, no processo de circulação de capital, de dinheiro universal e supranacional como moedas digitais e criptomoedas. 

5. Faz-se mister aduzir ainda que, quanto mais abstrato o trabalho assalariado, desde a crescente divisão social do trabalho manual até o atual trabalho assalariado intelectual produtor de software, mais independente de suporte material exibe-se o dinheiro, que de moeda metálica passou a moeda digital, passando pela moeda fiduciária ou papel-moeda. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

sábado, 22 de março de 2025

O IMPERIALISMO ENTRE LENIN E LUXEMBURGO: UM PROJETO DE ESTUDO.

Rosa Luxemburgo investigou o fenômeno do imperialismo a partir, fundamentalmente, do livro segundo de O Capital de Karl Marx, nomeadamente o processo de circulação de capital, identificando na superprodução o seu eixo econômico central.

Já Vladimir Lenin investigou o mesmo fenômeno a partir, basicamente, do livro primeiro da obra supracitada, nomeadamente o processo de produção de capital, identificando na centralização e concentração de capital, com a formação de monopólios, o eixo econômico central de tal fenômeno. 

Cabe investigar o imperialismo na unidade dos processos de produção e circulação de capital, máxime na forma como a contínua revolução dos valores de uso afeta a lei do declínio tendencial da taxa de lucro. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quinta-feira, 20 de março de 2025

CLAUDE DEBUSSY POR JACOB GORENDER

Recordo-me que certa feita, em conversa despretensiosa, o saudoso mestre Jacob Gorender, que além de grande historiador marxista era notável estudioso e apreciador de música clássica, comentou que a música de Claude Debussy atribuía mais importância à harmonia do que à melodia, concedendo mais valor às notas tocadas sincrônica e coletivamente, os acordes, do que às notas tocadas diacrônica e individualmente. 

Tal aspecto encerra implicações estéticas e filosóficas profundas, pois exibe-se infenso ao individualismo em geral. 

Sem embargo, a identidade individual humana, malgrado o inexorável processo de envelhecimento do respectivo corpo material, forja-se por força da memória, que provoca a sensação de continuidade e linearidade da essência do indivíduo ao longo do tempo . 

Mas Debussy rompe com tal noção de identidade individual na música, ao insurgir-se contra o desenvolvimento dramático de determinado tema melódico, típico do romantismo musical, pois suas composições mais se assemelham a certa justaposição de blocos melódico-temáticos sem o respecitvo desenvolvimento dramático de tais blocos, enquanto sua modulação harmônica exibe-se extremamente complexa e não linear. 

Seria a música de Claude Debussy um exemplo de marxismo na arte das musas, a música?



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

terça-feira, 18 de março de 2025

HISTÓRIA QUANTITATIVA

A certa altura de sua Ciência da Lógica, Hegel ensina com a devida propriedade que alterações quantitativas de certa magnitude transformam-se em mudanças qualitativas. 

Mas a história, se não pretende confinar-se no retrato estático de determinado momento no tempo, mas colima apreender e captar o movimento histórico no devir e sua lógica dialética, deve examinar as mudanças qualitativas, como nas revoluções que transformam um modo de produção, de tal sorte que a história quantitativa antolha-se-nos absolutamente necessária, mas não totalmente suficiente, pois faz-se mister precisamente, ao historiador dialético, vasculhar em que momento se verifica uma alteração qualitativa no devir. 

Ex positis, a história quantitativa não deve ser de forma alguma desprezada, mas não pode ser hegemônica. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

segunda-feira, 17 de março de 2025

CONJECTURAS SOBRE A EMISSÃO DE DINHEIRO NA HISTÓRIA ECONÔMICA

1. No período manufatureiro da subsunção meramente formal do trabalho no capital, previamente ao advento da maquinaria e grande indústria, isto é, na época do Estado absolutista e mercantilista, estribado no antigo sistema colonial, como já suscitamos aqui neste portal eletrônico, a mais-valia é capturada primordialmente no processo de circulação de capital, mediante diferenças nos preços das mercadorias entre colônia e metrópole, cabendo destacar que a este período histórico corresponde a emissão de dinheiro, em sua forma metálica, no próprio processo de circulação de capital, ou de mercadorias, sendo certo que o Estado apenas acumula metais preciosos, como ouro e prata, mediante sua política econômica metalista. 

2. Já no período da maquinaria e grande indústria, com o respectivo advento da subsunção real do trabalho no capital, a mais-valia passa a ser obtida no processo de produção de capital, e o dinheiro passa a ser emitido pelo Estado como moeda fiduciária ou papel-moeda.

3. Com a hodierna revolução digital ou microeletrônica, o processo de circulação de capital retoma seu protagonismo na extração da mais-valia, sendo certo que o dinheiro, ainda que de forma incipiente, volta a ser emitido neste processo de circulação de capital, na forma de criptomoedas ou moedas digitais, à revelia do Estado, o que tem ressuscitado e reanimado as ideias ultraliberais de privatização do dinheiro e da emissão de moeda, malgrado já se observem algumas poucas tentativas de emissão estatal de moeda digital oficial. 

Conjecturas sub judice.  




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.