Vimos no texto imediatamente precedente, aqui publicado, que somos dotados de memória e, por esse motivo, nossa percepção subjetiva do tempo exibe-se cumulativa, de modo que temos a sensação de que o tempo que passa vai sendo somado, resultando em nossa idade, que é o acúmulo ou soma dos anos passados desde o nascimento, e nossa identidade individual.
Mas tal caráter cumulativo da memória reproduz no âmbito do pensamento o próprio processo cumulativo da história, seja ela humana ou natural, senão vejamos:
Consoante preconiza o materialismo histórico e dialético de Marx e Engels, as categorias econômicas que se sucedem na história são cumulativas, como exposto na obra O Capital, verbi gratia, em que a categoria do dinheiro incorpora e supera a categoria historicamente antecedente da mercadoria, enquanto a categoria do capital incorpora e supera a categoria historicamente precedente do dinheiro.
Simetricamente, a teoria da evolução das espécies biológicas, suscitada por Darwin, cientista mui admirado por Marx, também se mostra cumulativa, de tal sorte que as espécies mais evoluídas na história natural incorporam e superam as estruturas e órgãos das espécies antecedentes e menos desenvolvidas, consoante o brocardo: "a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco"
Logo, indivíduos humanos, modos de produção e espécies biológicas oferecem simetrias flagrantes de desenvolvimento ao longo do tempo.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.