domingo, 17 de novembro de 2024

CINEMA: O PODEROSO CHEFÃO, DE FRANCIS FORD COPPOLA.

A logomarca da exitosa saga cinematográfica intitulada "O poderoso chefão", de autoria de Francis Ford Coppola, exibe um manípulo de títere, em forma de cruz, segurado por uma mão desprovida de braço.

Aventaria a hipótese de que tal títere representa os indivíduos alienados pelo capital, enquanto a mão é o sucedâneo das relações de produção capitalistas que regem tais indivíduos de forma heterônoma, a saber, de forma infensa à sua volição.

Sim, pois é de capitalismo que se cuida: da teoria marginalista do valor econômico dessume-se que as mercadorias de valor de uso inaudito, ou de utilidade elevada, são mais valiosas, mas o mesmo acontece com as mercadorias ilícitas, que ensejam vultosos lucros ao capital, digamos, criminoso. 

Ora, malgrado católicas, as famílias mafiosas torturam e assassinam em nome desses lucros exorbitantes; isto é, o capital, conquanto ilícito, rege e manipula tais famílias, os títeres da logomarca acima mencionada, contra suas crenças religiosas cristãs.

Como diria Marx, a violência é a parteira de toda velha sociedade que está prenhe de uma nova, e o sonho capitalista americano pode converter-se, então, em pesadelo de matança desenfreada. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

sábado, 16 de novembro de 2024

CINEMA: A ESTRADA PERDIDA, DE DAVID LYNCH.

Há uma película cinematográfica desprezada, de certa forma, pela crítica especializada, mas que, no meu humilde modo de entender, está destinada a se convolar em clássico atemporal: cuida-se do filme intitulado "A estrada perdida" (Lost Highway, no original em inglês) de 1997, realizado por David Lynch, consagrado cineasta estadunidense.

Sob a sombra do lendário britânico Alfred Hitchcock, cuja obra "Um corpo que cai" (Vertigo, no idioma original) é homenageada na personagem da atriz Patricia Arquette (cuja cabeleira muda de cor, como aquela de Kim Novak em Vertigo), David Lynch oferece-nos uma profunda reflexão estética sobre a faceta mimética das artes.

Nesse diapasão, cabe aduzir que Pablo Picasso operou uma revolução abrangente ao romper com o figurativismo clássico, pois, evidenciando que a tela plana de sua obra pictórica não encerra a dimensão da profundidade, pintou figuras que são vistas de vários ângulos e perfis ao mesmo tempo, rompendo com a veleidade de mimetizar tal profundidade em seus quadros.

David Lynch, por seu turno, no filme em testilha, encetou uma ruptura revolucionária da veleidade cinematográfica de reproduzir a dimensão do tempo, supostamente inerente ao cinema. 

Sim, a película de Lynch exibe um tempo circular, não linear, em que a narrativa termina da mesma forma como começa, malgrado de forma invertida, e rompe com o princípio da identidade individual de suas personagens, que se transformam em outras tantas ao longo de um enredo alucinatório. 

Logo, Lynch convida-nos, com sua obra, a refletir sobre a natureza do tempo: seria uma dimensão objetiva como aquela descrita por Albert Einstein, que colima o movimento relativo dos corpos, ou uma dimensão subjetiva consoante retratada por Henri Bergson, que destaca a memória como promotora da identidade individual? 

Enfim, "A estrada perdida" é uma obra underrated até o momento, mas talvez o curso do tempo (ops!) o converta em clássico atemporal.



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

SALÁRIO MÍNIMO E REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

Consoante muito bem enfatizado pelo companheiro EDUARDO BELLANDI, que, apesar de tudo, ainda contribui significativamente com o debate no âmbito deste NÚCLEO DE ESTUDOS DO CAPITAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES, a adoção da redução da jornada de trabalho, ora em discussão, não surtirá os efeitos aguardados e poderá restar falaciosa, e mesmo um grande fiasco, se não for acompanhada por uma política pública de preservação do poder aquisitivo real do salário mínimo, ou de aumento real de seu poder de compra diante da inflação. 

Sim, eventual redução do desemprego, em resposta à contração da jornada de trabalho, de nada servirá sem a correspondente expansão da massa salarial real e da demanda efetiva dela decorrente, tornando inócua e anulando a medida legal ora em comento. 

Logo, o pacote fiscal, a ser proposto em breve pelo ministro Fernando Haddad, deve incorporar, e não afastar, uma política publica de preservação do valor real do salário mínimo diante da inflação, e não deve em hipótese alguma instituir sua eventual "desindexação" perante a carestia, pois somente assim reduzirá os gastos estatais com benefícios sociais, por exemplo, redução esta que se mostra infensa ao fenômeno inflacionário.  

Lamentavelmente, quer nos parecer que o PSOL da deputada Erika Hilton exibe-se hodiernamente mais vanguardeiramente proletário do que o meu sempre estimado Partido dos Trabalhadores.

Como dizem os franceses, c'est dommage. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

GUERRAS NAS ESTRELAS

 Uma das franquias midiáticas mais influentes da história do audiovisual é, sem embargo, a saga das Guerras nas Estrelas, de George Lucas.


Ali vemos o soft power do imperialismo estadunidense em todo o seu vigor:


Com efeito, trata-se da luta da democracia contra a tirania, isto é, das forças do bem contra as forças do mal, numa alusão velada da guerra dos Estados Unidos contra os assim denominados Estados terroristas ou autocráticos como Irã, Coreia do Norte, Cuba, China etc.


Mas o êxito retumbante da franquia reside mesmo é no complexo edipiano subliminar que veicula:


O conflito entre Darth Vader e seu filho Luke Skywalker, mais do que uma luta entre tirania e democracia, representa o complexo edipiano universal do filho contra o pai tirano.


Uma combinação exitosa entre política e psicanálise!


Irresistivelmente manipuladora!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

A redução da jornada de trabalho constitui reivindicação histórica da classe trabalhadora que pode beneficiar o conjunto da sociedade de forma didática e pedagógica, senão vejamos:

Ela reduz o desemprego e aumenta a massa salarial, com ampliar a demanda efetiva e reduzir, assim, os gastos sociais estatais, o que mitiga destarte a pressão inflacionária e propicia redução das taxas de juros.

Tal redução das taxas de juros, por seu turno, reduz o custo do capital e, assim, compensa eventual diminuição da taxa de lucro, diminuição esta que, como muito bem destacado por LINCOLN SECCO, nem sequer se mostra provável se considerado um prazo longo, pois o capital tem historicamente auferido os ganhos de produtividade em maior escala do que a classe trabalhadora.

Em um país que exibe a pior distribuição de renda do mundo e taxas de juros asfixiantes, a redução da jornada de trabalho será benfazeja para todos. 



por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador, que hauriu tais ideias, conquanto incipientes, das discussões no NÚCLEO DE ESTUDOS DO CAPITAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES. 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

TRUMP, LULA E A REINDUSTRIALIZAÇÃO

Aduzi alguns dias atrás que a vitória hodierna de Donald Trump resulta diretamente da revolução digital em curso, mas isto está apenas parcialmente correto.

Com efeito, malgrado Trump seja fruto da ascensão do Vale do Silício, ele venceu no Cinturão da Ferrugem e perdeu na Califórnia, o que impõe certa lapidação do exame aqui proposto.

Sem embargo, parece ter havido uma reconfiguração da divisão internacional do trabalho com a indústria manufatureira deslocando-se para a China e outras partes da Ásia, enquanto os Estados Unidos, com a decadência do Cinturão da Ferrugem e a ascensão do Vale do Silício, perderam competividade e vantagens comerciais no setor manufatureiro, o que pesa sobremodo na sua balança comercial. 

A campanha eleitoral vitoriosa de Trump, pois, mais do que exaltar a revolução digital de que seu país é vanguarda, exibiu-se uma proposta de reindustrialização estadunidense no setor manufatureiro para reverter essa nova divisão internacional do trabalho que impõe desvantagens na balança comercial norte-americana. 

Aqui no Brasil, a situação é mais complexa, pois o país desindustrializou-se, com a decadência do ABC paulista, mas não foi palco de uma revolução digital como nos Estados Unidos, pois regrediu até o predomínio econômico do setor primário da agricultura.

A reindustrialização brasileira, pois, deve ter duas vertentes: setor manufatureiro e setor de tecnologia digital.

É um grande desafio para o atual governo Lula. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

domingo, 10 de novembro de 2024

ESPECULAÇÕES SOBRE REVOLUÇÃO DIGITAL E TAXA DE LUCRO

 A hodierna revolução digital, que entronizou a produção industrial da mercadoria consubstanciada no software, provavelmente envolveu uma diminuição da composição orgânica do capital ao subverter a acepção clássica de planta fabril, com introduzir o trabalho em "home office" como uma das formas de organização possível do processo produtivo.

Todavia, também a taxa de mais-valia provavelmente diminuiu, em razão do aumento do valor da força de trabalho determinado pela exigência de sua maior qualificação intelectual, com demandar maior tempo de sua formação no âmbito escolar. 

O aumento do valor da força de trabalho pode, por óbvio, também ter reflexo na diminuição da já aludida composição orgânica do capital.     

Logo, é mister investigar qual a amplitude da queda na composição orgânica do capital em relação à amplitude da queda da taxa de mais-valia para deduzir como se comporta atualmente a taxa de lucro do capital. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.