quarta-feira, 20 de novembro de 2024

DO ASPECTO SUBVERSIVO DA REVOLUÇÃO DIGITAL

1. A grande revolução industrial inglesa do século XVIII promoveu a introdução do processo de circulação de mercadorias no âmago do processo de produção de mercadorias, com a consequente compra e venda da força de trabalho eminentemente manual e a consumação da subsunção real do trabalho no capital mediante surgimento da maquinaria e grande indústria.

2. A hodierna revolução digital, por seu turno, promoveu a introdução do processo de produção de capital no âmago do processo de circulação de capital, nomeadamente ao inserir a compra e venda da força de trabalho eminentemente intelectual na produção da mercadoria consubstanciada no software, o qual serve basicamente para acelerar o processo de circulação de capital. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

ELEMENTOS PARA UM ESBOÇO DE HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

1. Mercantilismo e fisiocracia consistem em duas facetas do período da subsunção meramente formal do trabalho no capital, ou, mais especificamente, do período da manufatura, em que os lucros são auferidos primordialmente, ainda, no processo de circulação de mercadorias, com os mercadores comprando barato, e vendendo caro, os produtos ainda de jaez predominantemente agrícola, como no antigo sistema colonial brilhantemente descrito por Fernando Novais, cabendo destacar que esta dualidade entre mercantilismo e fisiocracia decorre precisamente da situação em que a maior parte da produção permanece ainda atrelada à esfera agrícola, enquanto os lucros são extraídos das diferenças de preços no âmbito da circulação de mercadorias.

2. A teoria do valor-trabalho, encetada por Adam Smith em 1776, já é característica da subsunção real do trabalho no capital promovida pela grande Revolução Industrial inglesa do século XVIII, em que os lucros são auferidos predominantemente na orbe do processo de produção de capital, onde já prevalece a maquinaria e a grande indústria, impondo-se destacar que a crítica de tal vertente de pensamento econômico foi efetuada por Karl Marx, que desvelou a extorsão de mais-valia precisamente nesse processo de produção de capital; faz-se mister anotar, todavia, que a compra e venda da força de trabalho, talvez, possa ser subsumida no processo de circulação da capital, mas esta hipótese ainda pende de averiguação.   

3. O marginalismo econômico, da segunda metade do século XIX, também denominado "revolução marginalista", prenuncia a segunda revolução industrial, difusa na Europa e Estados Unidos da América, que incidiu não somente no processo de produção de capital, mas também no processo de circulação de capital, na exata medida em que engendrou novos valores de uso, cuja utilidade inaudita e, portanto, seu elevado valor econômico deslocou mais uma vez a extração de lucro, predominantemente, para o âmbito da circulação de capital, máxime considerando o declínio tendencial da taxa de lucro decorrente do aumento da composição orgânica do capital, cabendo destacar que a crítica do marginalismo, empreendida por John Maynard Keynes em 1936, não rompeu radicalmente com a teoria criticada, eis que, como esta, também cingiu-se ao processo de circulação de capital, conquanto tenha entronizado a demanda efetiva, em substituição à oferta econômica de Jean-Baptiste Say, como promotora da prosperidade no modo capitalista de produção. 

São elementos e conjecturas para estudo. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

domingo, 17 de novembro de 2024

CINEMA: O PODEROSO CHEFÃO, DE FRANCIS FORD COPPOLA.

A logomarca da exitosa saga cinematográfica intitulada "O poderoso chefão", de autoria de Francis Ford Coppola, exibe um manípulo de títere, em forma de cruz, segurado por uma mão desprovida de braço.

Aventaria a hipótese de que tal títere representa os indivíduos alienados pelo capital, enquanto a mão é o sucedâneo das relações de produção capitalistas que regem tais indivíduos de forma heterônoma, a saber, de forma infensa à sua volição.

Sim, pois é de capitalismo que se cuida: da teoria marginalista do valor econômico dessume-se que as mercadorias de valor de uso inaudito, ou de utilidade elevada, são mais valiosas, mas o mesmo acontece com as mercadorias ilícitas, que ensejam vultosos lucros ao capital, digamos, criminoso. 

Ora, malgrado católicas, as famílias mafiosas torturam e assassinam em nome desses lucros exorbitantes; isto é, o capital, conquanto ilícito, rege e manipula tais famílias, os títeres da logomarca acima mencionada, contra suas crenças religiosas cristãs.

Como diria Marx, a violência é a parteira de toda velha sociedade que está prenhe de uma nova, e o sonho capitalista americano pode converter-se, então, em pesadelo de matança desenfreada. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

sábado, 16 de novembro de 2024

CINEMA: A ESTRADA PERDIDA, DE DAVID LYNCH.

Há uma película cinematográfica desprezada, de certa forma, pela crítica especializada, mas que, no meu humilde modo de entender, está destinada a se convolar em clássico atemporal: cuida-se do filme intitulado "A estrada perdida" (Lost Highway, no original em inglês) de 1997, realizado por David Lynch, consagrado cineasta estadunidense.

Sob a sombra do lendário britânico Alfred Hitchcock, cuja obra "Um corpo que cai" (Vertigo, no idioma original) é homenageada na personagem da atriz Patricia Arquette (cuja cabeleira muda de cor, como aquela de Kim Novak em Vertigo), David Lynch oferece-nos uma profunda reflexão estética sobre a faceta mimética das artes.

Nesse diapasão, cabe aduzir que Pablo Picasso operou uma revolução abrangente ao romper com o figurativismo clássico, pois, evidenciando que a tela plana de sua obra pictórica não encerra a dimensão da profundidade, pintou figuras que são vistas de vários ângulos e perfis ao mesmo tempo, rompendo com a veleidade de mimetizar tal profundidade em seus quadros.

David Lynch, por seu turno, no filme em testilha, encetou uma ruptura revolucionária da veleidade cinematográfica de reproduzir a dimensão do tempo, supostamente inerente ao cinema. 

Sim, a película de Lynch exibe um tempo circular, não linear, em que a narrativa termina da mesma forma como começa, malgrado de forma invertida, e rompe com o princípio da identidade individual de suas personagens, que se transformam em outras tantas ao longo de um enredo alucinatório. 

Logo, Lynch convida-nos, com sua obra, a refletir sobre a natureza do tempo: seria uma dimensão objetiva como aquela descrita por Albert Einstein, que colima o movimento relativo dos corpos, ou uma dimensão subjetiva consoante retratada por Henri Bergson, que destaca a memória como promotora da identidade individual? 

Enfim, "A estrada perdida" é uma obra underrated até o momento, mas talvez o curso do tempo (ops!) o converta em clássico atemporal.



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

SALÁRIO MÍNIMO E REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

Consoante muito bem enfatizado pelo companheiro EDUARDO BELLANDI, que, apesar de tudo, ainda contribui significativamente com o debate no âmbito deste NÚCLEO DE ESTUDOS DO CAPITAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES, a adoção da redução da jornada de trabalho, ora em discussão, não surtirá os efeitos aguardados e poderá restar falaciosa, e mesmo um grande fiasco, se não for acompanhada por uma política pública de preservação do poder aquisitivo real do salário mínimo, ou de aumento real de seu poder de compra diante da inflação. 

Sim, eventual redução do desemprego, em resposta à contração da jornada de trabalho, de nada servirá sem a correspondente expansão da massa salarial real e da demanda efetiva dela decorrente, tornando inócua e anulando a medida legal ora em comento. 

Logo, o pacote fiscal, a ser proposto em breve pelo ministro Fernando Haddad, deve incorporar, e não afastar, uma política publica de preservação do valor real do salário mínimo diante da inflação, e não deve em hipótese alguma instituir sua eventual "desindexação" perante a carestia, pois somente assim reduzirá os gastos estatais com benefícios sociais, por exemplo, redução esta que se mostra infensa ao fenômeno inflacionário.  

Lamentavelmente, quer nos parecer que o PSOL da deputada Erika Hilton exibe-se hodiernamente mais vanguardeiramente proletário do que o meu sempre estimado Partido dos Trabalhadores.

Como dizem os franceses, c'est dommage. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

GUERRAS NAS ESTRELAS

 Uma das franquias midiáticas mais influentes da história do audiovisual é, sem embargo, a saga das Guerras nas Estrelas, de George Lucas.


Ali vemos o soft power do imperialismo estadunidense em todo o seu vigor:


Com efeito, trata-se da luta da democracia contra a tirania, isto é, das forças do bem contra as forças do mal, numa alusão velada da guerra dos Estados Unidos contra os assim denominados Estados terroristas ou autocráticos como Irã, Coreia do Norte, Cuba, China etc.


Mas o êxito retumbante da franquia reside mesmo é no complexo edipiano subliminar que veicula:


O conflito entre Darth Vader e seu filho Luke Skywalker, mais do que uma luta entre tirania e democracia, representa o complexo edipiano universal do filho contra o pai tirano.


Uma combinação exitosa entre política e psicanálise!


Irresistivelmente manipuladora!





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

A redução da jornada de trabalho constitui reivindicação histórica da classe trabalhadora que pode beneficiar o conjunto da sociedade de forma didática e pedagógica, senão vejamos:

Ela reduz o desemprego e aumenta a massa salarial, com ampliar a demanda efetiva e reduzir, assim, os gastos sociais estatais, o que mitiga destarte a pressão inflacionária e propicia redução das taxas de juros.

Tal redução das taxas de juros, por seu turno, reduz o custo do capital e, assim, compensa eventual diminuição da taxa de lucro, diminuição esta que, como muito bem destacado por LINCOLN SECCO, nem sequer se mostra provável se considerado um prazo longo, pois o capital tem historicamente auferido os ganhos de produtividade em maior escala do que a classe trabalhadora.

Em um país que exibe a pior distribuição de renda do mundo e taxas de juros asfixiantes, a redução da jornada de trabalho será benfazeja para todos. 



por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador, que hauriu tais ideias, conquanto incipientes, das discussões no NÚCLEO DE ESTUDOS DO CAPITAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES.