Basicamente, sucede que o curso cíclico do capital exibe intolerância diante da sustentação linear da renda do trabalho assalariado em patamares elevados, como a procuram promover os governos reformistas de esquerda, notadamente os de jaez social-democrata.
Isto ocorre porque, a certa altura do ciclo de Kondratiev, o capital necessita recorrer a expedientes promotores de mais-valia absoluta, especialmente quando a mais-valia relativa, via inovação tecnológica, já não pode mais sustentar as taxas de lucro em níveis aceitáveis.
Ora, a forma mais cabal de consecução de mais-valia absoluta consiste na redução pura e simples da renda do trabalho assalariado, seja como salário direto, seja como salário indireto por meio de gastos públicos com saúde, educação, previdência social etc.
Resta evidente, portanto, que o reformismo de esquerda, inclinado a aumentar linearmente a renda do trabalho assalariado, exibe-se infenso e disfuncional quanto à superação da fase recessiva do ciclo de Kondratiev, como aconteceu com os governos de esquerda de Brasil, Venezuela, Argentina e outros.
(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador e membro do NEC-PT )