Lincoln Secco
As manifestações deste 15 de maio de 2019 podem ser o início de uma virada na correlação de forças sociais.
Note bem: o início! Ou seja: o primeiro passo de uma longa caminhada.
Ainda assim é animador que a esquerda retome grandes manifestações de massas.
De Junho a Maio
A volta às ruas se frustrou em junho de 2013. Ali um protesto autonomista e de esquerda se ampliou inesperadamente e foi capturado pela direita com uma pauta propositadamente difusa. Até 2016 ela se unificou na campanha do golpe.
Lentamente, a esquerda retornou às ruas em defesa da legalidade e depois no combate às reformas trabalhista e da previdência no governo Temer.
Depois da vitória de bolsonaro era esperado que os partidos, coletivos e sindicatos ficassem em compasso de espera.
Reação em Cadeia?
A sucessão de barbaridades do governo, no entanto, acelerou a resistência. A entrevista de Lula, a organização da greve geral, a destruição da imagem internacional do país, o desemprego e as críticas ao governo na própria imprensa burguesa e na direita não bolsonarista traduzem a queda acentuada da popularidade do presidente.
Nesse contexto, a defesa da universidade pública contra os ataques do governo pode desencadear uma resistência maior. Professores e alunos podem funcionar como catalisadores.
Quais os resultados possíveis?
Resultados
1. O primeiro e inevitável é maior desgaste do governo. O bolsonarismo é uma modalidade neofascista de mobilização de um movimento de massa. Não é majoritário, mas diferentemente de governos anteriores tem força social ativa. Essa força vai permanecer, porém é possível começar a minar a confiança que ele tem na sua base social passiva.
2. É preciso dizer que esse é um governo que não apenas reproduz a violência estatal habitual contra protestos, ele é um espírito que anima o recalque e o ódio acumulado dos agentes da repressão. É preciso estar preparado para isso. O governo não constrói hegemonia e terá que apelar cada vez mais para uma violência generalizada. Quanto maior o número de manifestantes melhor para a esquerda. Cabe ampliar alianças sociais, especialmente com setores refratários da própria universidade. Não só é possível como já está acontecendo com manifestações de estudantes de medicina e cientistas da área de ciências biológicas de forma localizada. De maneira mais veloz que esperávamos porque o corte linear de 30% penaliza muito mais as áreas que recebem mais recursos obviamente.
3 Um junho invertido finalmente. Dessa vez a retomada da luta social, quando se massificar precisa unificar a pauta, ter um programa mínimo, uma direção de uma frente política e social e derrotar o governo.
A extrema direita não usa argumentos, viola as massas corrompendo os seus afetos. De tal maneira que não é possível argumentar sem uma força social real.
A Força das Ideias
Sua derrota terá que ser nas ruas antes de tudo. Sem ilusões de que haverá vitória fácil e rápida. Ao contrário, pode ser difícil e demorada e depender da própria experiência de sofrimento da população com a escolha que fez. Mas ela acontecerá porque o neofascismo liberal destrói as bases econômicas e civilizacionais do país. Não pode manter um estado nacional, apenas um monstro histórico, um principado governado por puro banditismo, como diria Maquiavel.
À esquerda cabe criar a forma pela qual essa contradição será superada. A de uma nova Revolução democrática.
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