sexta-feira, 18 de junho de 2021

MARX E A IDEIA DE PROGRESSO: CONTROVÉRSIAS

Em suas teses sobre o conceito de história, de 1940, Walter Benjamim teria, segundo alguns estudiosos, rejeitado pioneiramente, no âmbito do socialismo científico, a ideia de progresso que permeava inclusive a obra de seu inspirador Karl Marx, cujo elogio do caráter progressista do capitalismo, pelo menos em cotejo com os modos de produção antecedentes no que pertine à evolução tecnológica, seria evidente. 

Eu, particularmente, tenho cá minhas dúvidas, pois se Marx enaltecia o progresso técnico evidentemente acelerado do capitalismo quando comparado ao feudalismo, por exemplo, também destacava com muita ênfase que tal progresso não beneficia a classe trabalhadora com redução da jornada de trabalho e melhoria das condições materiais de existência, porquanto produz um exército industrial de reserva que, ao contrário, deteriora tais condições: eis aqui, com muito destaque, o caráter dialético da história muito bem assinalado pelo fundador do socialismo científico. 

Mas o Mouro de Trier também resvalou aqui e acolá, com a devida permissão da minha ousadia, em pecadilhos ideológicos típicos do século XIX, como no exemplo em que procura, a meu ver sem muito êxito, explicar o progresso técnico do capitalismo, no cerne do capítulo décimo do livro primeiro de O Capital, sua obra magna, onde é lícito constatar que a "mão invisível" do mercado de Adam Smith se faz presente. 

Com efeito, Marx, nesse capítulo de sua obra magna, que versa especificamente sobre a mais-valia relativa, resvala na ideologia do mercado e consectários, como a concorrência, ao tentar, de forma a meu sentir infrutífera, discorrer sobre como o capitalista pioneiro em seu ramo industrial, empregando inovação do processo fabril que aumenta a força produtiva do trabalho, pode vender sua mercadoria por um valor menor do que o vigente para tal mercadoria, porém maior que o tempo de trabalho necessário para produzir a sua mercadoria, derrotando então a “concorrência” e auferindo lucros exorbitantes. 

Mas este raciocínio de Marx está, pelo menos em parte, incorreto, senão vejamos. 

Digamos que o valor vigente para determinada mercadoria seja de dez libras e que um capitalista inovador pioneiro consiga, mediante introdução de nova técnica de produção, reduzir o tempo de trabalho necessário para produzir tal mercadoria, de sorte que seu "valor" seja reduzido, para este capitalista específico, para uma libra: este capitalista venderia então sua mercadoria por, digamos, três libras e assim, além de derrotar a concorrência, auferiria uma vantagem de duas libras em relação ao "valor" de uma libra com que consegue produzir tal mercadoria. 

Ora, isto está em parte incorreto, porquanto, no momento em que o capitalista pioneiro consegue produzir sua mercadoria pelo tempo de trabalho correspondente a uma libra, o valor vigente de tal mercadoria reduz-se, pois esse "valor" de uma libra do capitalista pioneiro passa a integrar a média social, pressionando-a para baixo, de tal maneira que a vantagem de tal pioneiro também é pressionada para baixo. 

Não sei se fui exitoso em esclarecer tal ponto de controvérsia, mas fico de prontidão para eventual debate. 

(por LUIS FERNANDO GORDO FRANCO)      

2 comentários:

  1. https://thenextrecession.wordpress.com/2021/06/20/19029/amp/?__twitter_impression=true Fernado, veja a importante consideração do autor deste blog, creio que são assuntos interrelacionados. Um grande abraço.

    ResponderExcluir