quarta-feira, 6 de abril de 2022

Elementos históricos para uma epistemologia materialista:


1. Parto da seguinte premissa: a proximidade da verdade epistêmica exibe-se diretamente proporcional à distância histórica ou dissociação entre sujeito e objeto do conhecimento.


2. Anteriormente ao advento da revolução neolítica, os seres humanos ainda se subsumem completamente na natureza, descabendo cogitar em dissociação entre sujeito e objeto do conhecimento.


3. Com o advento da revolução neolítica, os seres humanos passam a transformar a natureza consoante suas necessidades concretas, de tal sorte que que há uma discreta ruptura entre sujeito e objeto do conhecimento. Os indivíduos ainda mantêm a posse dos meios de produção e ainda preservam considerável autonomia para determinar o tempo e o ritmo de trabalho, situação esta que remanesce até os estertores da idade média, caracterizada pela atividade agropecuária e artesanato. Na orbe epistêmica, portanto, o sujeito do conhecimento ainda coincide com o indivíduo humano, o qual permanece ainda muito subsumido na natureza e, destrate, pouco distante do objeto do conhecimento.


4. Com o advento da manufatura, na idade moderna, os indivíduos trabalhadores perdem em certa medida a posse dos meios de produção e já não determinam completamente o tempo e o ritmo do trabalho, numa subsunção meramente formal do trabalho no capital que já provoca maior distanciamento entre sujeito e objeto do conhecimento. Observam-se os pródromos da vindoura classe proletária, sendo certo que a filosofia de Baruch de Espinosa, ao fulminar radicalmente qualquer transcendência divina, vulnerou a ideia de um observador dissociado ou fora do Universo e, por conseguinte, a acepção de um tempo e um espaço absolutos, com viabilizar os fundamentos da ulterior teoria da relatividade de Albert Einstein, com sua concepção peculiar do espaço-tempo.


5. Com o advento da revolução industrial inglesa do século XVIII, caracterizada pela ascensão da maquinaria e grande indústria e pela subsunção real do trabalho no capital, os indivíduos trabalhadores perdem completamente a posse e a propriedade dos meios de produção, bem assim a determinação individual do tempo e ritmo do trabalho, constituindo plenamente uma classe proletária internacional que encerra o potencial de emancipar a humanidade e unificá-la perante a natureza, do que se dessume uma máxima distância entre sujeito e objeto do conhecimento, resultando no socialismo científico de Marx e Engels.


Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

5 comentários:

  1. Camarada explique melhor o último item. Não sei se entendi.
    Marx não supera a cesura sujeito objeto?
    Você está falando da separação do sujeito cognoscente e indivíduo humano?

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  2. Interessante, Luís. Tendo a concordar. Só achei que a passagem entre a proletarização e o socialismo científico de Marx ficou muito elíptica nesse trecho final:

    "...do que se dessume uma máxima distância entre sujeito e objeto do conhecimento, resultando no socialismo científico de Marx e Engels."

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  3. Camaradas Lincoln e Sérgio, agradeço muito os comentários! Consoante item 1 do texto, a maior distância histórica entre sujeito e objeto do conhecimento ensejam maior proximidade da verdade, daí o advento do socialismo científico, ponto culminante do saber científico. Grande abraço fraterno!

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