As teorias marxista e marginalista do valor econômico atrelam-se ao duplo caráter da mercadoria enquanto valor de troca e valor de uso, o primeiro caráter associado à produção e o segundo à circulação de mercadorias.
Anteriormente ao advento histórico da penetração do capital no âmbito da produção de mercadorias, interessam aos mercadores europeus os valores de uso exóticos não encontrados na Europa, tais como especiarias, seda, porcelana etc, produzidos principalmente na Ásia, razão pela qual Portugal, pioneiro na expansão marítima europeia, estabelece um império no continente asiático como garantia do fornecimento a preços baixos de tais valores de uso exóticos, que eram vendidos a altos preços na Europa.
Na América do Sul, todavia, não existia um sistema produtivo de mercadorias exóticas já em funcionamento, razão pela qual Portugal foi compelido a implantar aqui um sistema escravista de produção de mercadorias exóticas, particularmente o açúcar, para fornecimento na Europa a elevados preços, conquanto adquiridos a baixos preços por intermédio do exclusivo colonial.
Os altos custos militares e burocráticos destes impérios asiático e americano estabelecidos por Portugal impediram uma acumulação primitiva de capital neste país, acumulação esta que acabou por verificar-se na Inglaterra, onde o capital penetrou pioneiramente no âmbito da produção de mercadorias, especialmente na já desenvolvida indústria têxtil no país anglo-saxão.
Com essa revolução industrial na Inglaterra no século XVIII, o capital pode enfim extrair seu lucro não apenas nas variações de preços das mercadorias, especialmente as exóticas, mas agora também na mais-valia extorquida dos próprios trabalhadores despojados dos meios de produção, o que lhe permite revolucionar tecnicamente de modo contínuo o processo de produção de mercadorias, bem assim o processo de circulação de mercadorias mediante a inauguração de novos valores de uso, inclusive como forma de arrostar a lei do declínio tendencial da taxa de lucro descoberta por Karl Marx, mercê dos elevados preços desses valores de uso inauditos.
Destarte, podemos dessumir que, grosso modo, se o marginalismo teórico explica bem a época dos lucros decorrentes das variações de preços típica do capital restrito ao âmbito da circulação de mercadorias, a hodierna época de processo de produção, e não apenas circulação, tipicamente capitalista pode ser bem desvelada pela teoria marxista do valor econômico, sem olvidar, todavia, o marginalismo quanto às inovações capitalistas nos novos e inauditos valores de uso.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
Quer dizer que a teoria marginalista não é apenas apologia ao capitalismo?
ResponderExcluirPor incrível que pareça, parece que não, camarada Serginho, parece que encerra mesmo certa efetividade!
ResponderExcluir