Bolsonaro sabe que não vai implantar uma ditadura num golpe. Ele vai domesticar as instituições, depois desfibrar e esvaziar. Mas é um processo longo que passa pela vitória em 2022 numa eleição controlada pelo governo. Essa é a estratégia. Demanda logística, negociação internacional, propaganda ideológica etc.
Mas a nova cartada dele é a explosão social e ele se prepara para isso tática e operacionalmente. Sabe que a esquerda não dirige mais processos de massas nas ruas. Vide junho de 2013.
A esquerda se levanta localmente. Mesmo simultaneamente. Mas não centralizadamente. A direita disputa a direção onde pode e usa a violência onde também pode.
Bolsonaro conta com o imprevisível a seu favor, que é a revolta social. A esquerda não pode ser contra, mas não pode dirigi-la. Essa é uma inversão histórica. A direita (fascista) é revolucionária. A esquerda é "conservadora".
O que temos do nosso lado é um campo popular histórico, um líder que pode ser (im) previsível e a possibilidade de buscar no passado não a gestão da vida sob o capitalismo, mas a revolução social. Por isso a juventude se interessa por Marighela.
O fascismo tem mil caras. A principal diferença que vejo é a posição privatista. Mas nos anos 1930 toda a economia se deslocou para o consenso estatista.
Ainda assim naquele momento o fascismo nem sempre foi imperialista ou nacionalista salvo no discurso e em aventuras militares fracassadas como Itália e Espanha. Nem sempre foi altamente mobilizador (Portugal). Nem sempre uma ditadura aberta (Mussolini governou com os comunistas na oposição parlamentar até 1926). Quando a Alemanha anexou a Áustria fez da Itália um estado vassalo porque historicamente a razão de Estado italiana jamais permitiu ter uma fronteira com a Alemanha. Igualmente, a adoção de leis raciais não tinha nenhum sentido ideológico na Itália e deteriorou mais ainda o regime. Nem todo país fascista é soberano.
Bolsonaro é fascista. O seu regime ainda não é.
Claro que a história é indeterminada. Um acontecimento pode alterar a correlação de forças. A guerra comporta o acaso segundo Clausewitz. Mas o acaso só é aproveitado por quem se preparou para a guerra.
L. Secco
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