segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

EXÓRDIO SOBRE CONSCIÊNCIA DE CLASSE E LONGA DURAÇÃO

Anteriormente ao advento da Revolução Industrial inglesa do século XVIII, os trabalhadores do campo e da cidade ainda conservam certa posse dos meios de produção e, portanto, certo controle sobre o ritmo da produção econômica, de tal sorte que ainda vigoram os limites individuais atinentes ao tempo de trabalho, o que nutre uma consciência individual bastante atuante. 

Com a eclosão da maquinaria e grande indústria, todavia, os respectivos trabalhadores, a saber, o proletariado perde inapelavelmente o controle sobre meios de produção e ritmo de trabalho, numa padronização forçada, imposta pelo maquinário, que fulmina aquela intensa consciência individual do trabalhador antediluviano, isto é, o trabalhador historicamente precedente à primeira revolução industrial. 

Contudo, esta padronização do tempo de trabalho favorece, ao suprimir a individualidade do trabalhador, sua consciência de classe social, e com ela a consciência da temporalidade de classe social que suplanta o tempo da vida individual. 

Nesse diapasão, Marx e Engels, intelectuais orgânicos do proletariado, na acepção de Gramsci, descortinaram pioneiramente a história das lutas de classes, inscritas na longa duração dos distintos modos de produção ao longo do tempo, com desvelar ainda a dinâmica de tais modos de produção nas contradições entre relações de produção e força produtivas. 

Quando Fernand Braudel, já em meados do século passado, sistematiza a assim designada "longa duração" no âmbito da historiografia mais acadêmica, sua inspiração nas investigações dos fundadores do materialismo histórico exibe-se evidente, com as continuidades e descontinuidades de tal temporalidade a desbordar os limites temporais de uma vida individual, favorecendo destarte a história coletiva das classes sociais e outros grandes agregados. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)

  

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