quinta-feira, 5 de maio de 2022

HOMENAGEM A KARL MARX NOS 204 ANOS DE SEU NASCIMENTO

(Admoestação prévia: numa atitude fundamentadamente cartesiana, Karl Marx costumava duvidar de tudo, razão pela qual dedicamos este singelo texto à sua gigantesca figura histórica)  

Titã inconteste do pensamento ocidental, Karl Marx certa feita sentenciou, a propósito da história humana, que a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco, proposição na qual divisamos, humildemente, um certo equívoco, dês que versa sobre espécies biológicas distintas, de tal sorte que se nos antolha, com a devida permissão da ousadia extrema, discretamente aporético tratar da história do homo sapiens mediante uma analogia pertinente à evolução das espécies, se é que me fiz entender.


Ora, conquanto separados pelo tempo histórico, pelas classes sociais e pelos distintos modos de produção, parece-me que os seres humanos ainda conservam as características que os subsumem na aludida espécie do homo sapiens, o que me conduz a um registro cujo teor, tal qual permaneceu retido em minha memória, consiste na descoberta, em sítio arqueológico romano, de uma placa de mais de dois mil anos de existência em que se insculpia a admoestação para que eventual visitante tomasse o devido cuidado com o cão bravio da respectiva residência!


Demais disso, quer me parecer que quanto mais enfatiza o tempo histórico, com sua sequência de modos de produção e classes sociais, tanto mais abstrato e racionalista exibe-se o discurso, ao passo que, ao contrário, quanto mais tal discurso destaca os indivíduos em sua materialidade prática e empiricamente evidente, mais concreto ele se nos afigura, condição esta que encerra como corolário a imperiosidade de se haurir, das investigações históricas, certo caminho mediano para uma maior aproximação da realidade, se é que isto possa de fato existir.


É cediço que o autor acima mencionado, o conspícuo Mouro de Trier, também esgrimia, a meu sentir de forma absolutamente certeira, que na distinção entre os sexos masculino e feminino já se inscreve o jaez gregário do homo sapiens, com resultar complexo in extremis estimar com aceitável precisão onde reside o marco limítrofe entre indivíduo e sociedade no exame historiográfico.         

Cabe obtemperar, todavia, que os indivíduos até podem ser considerados, por uma moderna e festejada doutrina francesa, como meros vetores de determinações das estruturas sociais, portanto desprovidos, digamos assim, de vísceras, mas aquilo que efetivamente soterra tais estruturas e as substitui por outras consiste em algo que o ser humano experimenta no mais recôndito âmago de suas entranhas cruentas: a fome!


(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador, bacharel e licenciado em história pela Universidade de São Paulo) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário