sexta-feira, 27 de maio de 2022

NOVAS CONJECTURAS FILOSÓFICAS, OU O MATERIALISMO HISTÓRICO COMO "EXISTENCIALISMO SOCIAL"

 

Hegel parece ter sido o pioneiro a conferir inteligibilidade à história das sociedades mediante sua lógica dialética, muito embora seu idealismo absoluto tenha atribuído verniz um tanto opaco e irreal aos indivíduos concretos. 


Em sua crítica mordaz a esse pensador, Kierkegaard, no entanto, claudicou, pois se debruçou competentemente sobre a história do indivíduo concreto, descurando, todavia, da história das sociedades e sua lógica dialética.             

Mas a crítica existencialista ao idealismo hegeliano rendeu bons frutos, máxime ao postular que "a existência precede a essência".

Sim, pois o materialismo histórico contido em "A ideologia alemã", de certa forma, adotou esse brocardo existencialista ao expor, ainda que um tanto esquematicamente, a história das sociedades na sucessão dos modos de produção até a vindoura humanidade real sob o comunismo, com a superação de sua fragmentação em classes sociais distintas e em diversos Estados nacionais. 

Nesse diapasão, postularíamos que o materialismo histórico, nos termos acima, pode ser tomado como um certo "existencialismo social" em que existência (isto é, o devir histórico e concreto das sociedades humanas) precede a essência (a verdadeira humanidade, despojada de divisões entre classes sociais e Estados nacionais, mas, ao contrário, mundialmente reunida sob a égide do comunismo).

Nem é por outra razão que o próprio Karl Marx asseverou a certa altura, analogicamente, que "a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco", vale dizer, "as categorias que exprimem as relações da sociedade burguesa, a compreensão de sua própria articulação, permitem penetrar na articulação e nas relações de produção de todas as formas de sociedade desaparecidas, sobre cujas ruínas e elementos se acha edificada (...)"

Nesses casos, a essência somente se evidencia na totalidade do devir, na obra acabada, isto é, na existência, que no materialismo histórico sempre é concreta e diacrônica.

São conjecturas submetidas ao crivo da apreciação crítica.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, ensaísta)     

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