O meu inigualável herói cinematográfico, o realizador DAVID LYNCH, costumava aborrecer-se quando o mistério de uma película quedava elucidado e resolvido, mas este mesmo cineasta aduzia, em tom mais filosófico, que não era apropriado escrutinar o sentido de um filme, assim como não é relevante procurar pelo sentido da vida ou da existência, de tal sorte que o jaez absurdo das obras deste autor reside, na verdade, em uma postura existencialista radical.
Parece oportuno obtemperar, nesse diapasão, que as origens do existencialismo filosófico fincam espeque na contraposição ao sistema racionalista extremado do último grande filósofo, Hegel, contra o qual se insurgem vozes da estirpe do niilista Nietzsche e do cético Kierkegaard, sendo certo que este último esgrimiu a lapidar sentença segundo a qual "os filósofos constroem castelos de ideias e moram numa choupana"
Destarte, para estes críticos de Hegel, enveredar pela busca de um sentido ou essência da vida consiste em erro grosseiro, eis que o mistério da existência remanescerá sempre incólume.
Mas Machado de Assis, ao recusar-se, em seu romance "Dom Casmurro", a desvendar o mistério do possível adultério de Capitu contra Bentinho, já em 1899, insere-se nessa grande linhagem existencialista que rompeu com todas as formas de teleologia ou busca por sentido nesta vida misteriosa e fascinante.
Parafraseando o que asseverou Dostoievski em relação a "O capote" de Gógol, postularíamos que somos todos caudatários de "Dom Casmurro" do bruxo de Cosme Velho, uma linhagem misteriosa que, no cinema, por exemplo, vai de "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock a "Twin Peaks" de David Lynch.
MACHADO DE ASSIS, aqui, agiganta-se como digno de integrar o mesmo panteão de Dante, Shakespeare, Cervantes e Goethe.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
Bela homenagem para uma homenageada que faz por merecê-la!
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