sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O FIM DO EGO

Já tivemos a oportunidade, aqui, de obtemperar que a identidade individual e o ego desenvolvem-se a partir do complexo edipiano descrito por Sigmund Freud, mediante o qual o ser humano afasta-se da família originária e se torna, digamos, livre para constituir sua própria família, processo este que produz a impressão e a ideologia de que o indivíduo está isolado no mundo e que não é fruto das sociedades atual e passada, o que está no fundamento da propriedade privada dos meios de produção, sejam eles fundiários ou capitalistas. 

O socialismo científico de Karl Marx e Friedrich Engels talvez constitua a crítica mais radical de tal ideologia, crítica esta que entronizou, como sujeitos históricos, as classes sociais como sucedâneo dos indivíduos e heróis da historiografia. 

Hodiernamente, esta consciência da ideologia, digamos, egoísta ou ególotra adquiriu alguns contornos interessantes:

Tomemos o exemplo da literatura: Elena Ferrante e Thomas Pynchon fazem absoluta questão de ocultar o ego sob o manto do pseudônimo ou da reclusão absoluta, enquanto, nas artes plásticas, a identidade do artista gráfico Banksy remanesce uma incógnita intransponível. 

Mas, pasmem, é no âmbito da economia que reside o maior de todos os mistérios hodiernos: quem seria Satoshi Nakamoto, pioneiro misterioso e recôndito das criptomoedas ou moedas digitais? Até hoje não se sabe ao certo se ele existe ou não, se é de fato um indivíduo ou um coletivo!

Façamos uma solene saudação a estas misteriosas manifestações de fim da ideologia do ego, algo que, na política, por exemplo, antolha-se-nos muito distante. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

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