Em recente entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo e publicada aos 12 de novembro do corrente ano, o conspícuo economista indiano Amartya Sen sugere, em linhas gerais, que "a economia é secundária, as pessoas é que importam", formulação esta muito interessante e oportuna no Brasil em tempos de oposição entre austeridade fiscal e responsabilidade social, e onde os "humores do mercado" interferem em políticas públicas.
Este antagonismo entre pessoas e economia proposto por Sen, conquanto muito interessante e oportuno, não constitui, todavia, constatação inédita: ele reflete, na verdade, o vetusto fenômeno que o arcabouço teórico marxista denomina "alienação"
Sim, pois o velho Karl Marx já admoestava que os seres humanos, na produção e reprodução da sua vida imediata material, contraem relações de produção que escapam à sua volição e os separam em classes sociais distintas e antagônicas, bem assim em diversos Estados-nações em permanente, ou latente, conflito.
Nesse diapasão, seria inclusive inapropriado cogitar na existência de uma "humanidade", dados os antagonismos acima mencionados: eis o fundamento, verbi gratia, do anti-humanismo teórico formulado pelo filósofo marxista-estruturalista Louis Althusser, para quem os indivíduos não passam de meros vetores estruturais do capital.
Eu, particular e humildemente, discordo em parte do grande Althusser, pois quer me parecer que ele desconsidera o fato de que o evolver do tempo histórico, na sucessão dos distintos modos de produção, conduz à constituição de uma classe social proletária que, completamente despojada dos meios de produção, exibe um jaez universal capaz, potencialmente, de superar os aludidos antagonismos de classes e Estados-nações, para atingir um novo modo de produção em que a verdadeira humanidade aflorará, com suplantar o fenômeno da alienação e proporcionar um patamar superior de consciência social.
Quer me parecer, por derradeiro, que somente nesse novo modo de produção universal e humano as pessoas, como pretende Amartya Sen, serão consideradas mais importantes do que a economia, ou melhor dizendo, a economia estará a serviço das pessoas.
(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)
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