Faz-se mister encetar uma célere glosa marginal ao texto imediatamente precedente publicado neste portal eletrônico, intitulado “Hipóteses embrionárias sobre teoria econômica”, nos seguintes termos:
Sob prisma histórico, o capital manifesta-se inicialmente apenas como dinheiro, isto é, remanesce adstrito ao âmbito da circulação de mercadorias, sendo certo que penetrará no âmbito da produção de mercadorias somente após a assim designada acumulação primitiva, com o advento da revolução industrial inglesa do século XVIII.
Mas a relação de produção consubstanciada na mercadoria pressupõe o antagonismo entre o âmbito da produção e o da circulação, sendo certo que, se os produtores pelejam pelo predomínio do trabalho como determinante do valor das mercadorias, os mercadores insistem na sua utilidade como determinante do respectivo valor: disso resulta, no plano da teoria econômica, a oposição entre as vertentes marginalista e marxista de determinação do valor das mercadorias.
Os mercadores auferem lucros comprando baratas e vendendo caras as suas mercadorias, de tal sorte que lhes interessam valores de uso exóticos de elevada utilidade marginal e preços exorbitantes, como é o caso das especiarias oriundas do Oriente. O antigo sistema colonial lastreia-se precisamente nesse jaez exótico dos valores de uso: no que pertine ao Brasil, por exemplo, os ciclos econômicos definem-se pelos distintos valores de uso, como açúcar, ouro e café.
O aludido antagonismo entre produtores e mercadores pela determinação do valor e preço das mercadorias resolve-se historicamente de forma favorável a estes últimos, mediante a subsunção real do trabalho no capital advinda com a revolução industrial inglesa do século XVIII, quando o capital apropria-se do âmbito da produção e comprime os ganhos dos produtores à sua subsistência mais básica, extorquindo-lhes a mais-valia.
Mas a revolução do processo de produção conduz tendencialmente a um declínio das taxas de lucro do capital, de tal sorte que as revoluções industriais ulteriores incidiram também no processo de circulação, mediante a criação de valores de uso inéditos de alta utilidade e maiores preços.
(Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador).
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