Parto de duas hipóteses correlatas, a saber:
1. Consoante se dessume do texto imediatamente precedente deste portal eletrônico, publicado aos 04 de maio do corrente ano, a difusão e socialização da adoção industrial da inovação tecnológica, desde que apta a promover um aumento da composição orgânica do capital, conduz a um declínio tendencial da taxa de lucro, o qual é arrostado e neutralizado mediante aumento generalizado dos preços das mercadorias, provocando inflação;
2. Consoante se dessume do texto intitulado “Revoluções tecnológicas e ciclos seculares”, também publicado neste portal eletrônico, divisam-se três grandes revoluções industriais ao longo da história do modo capitalista de produção: a revolução industrial inglesa do final do século XVIII, caracterizada pela introdução do motor a vapor; a revolução industrial do final do século XIX, notável pelo uso fabril da energia elétrica; e, por derradeiro, a hodierna revolução microeletrônica.
Tais hipóteses foram corroboradas por dados empíricos sobre a evolução dos preços nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha, os quais, estatisticamente tratados, exibem os ápices desses preços nos períodos de 1810-1815 e 1915-1920, vale dizer, aproximadamente quarenta anos após o início das duas primeiras grandes revoluções industriais, respectivamente, quando as inovações tecnológicas nelas envolvidas consolidaram-se e se difundiram.
Tais dados sobre preços foram colhidos de duas fontes, a saber:
1. O artigo de Nikolai Kondratiev intitulado “The long waves in economic life”, que exibe tais dados no primeiro gráfico do texto, inserido no quarto capítulo respectivo;
2. O opúsculo de Pierre Bezbakh intitulado “Inflation et desinflation”, no primeiro gráfico, na página 10 da obra.
Conquanto eu não disponha aqui de dados sobre preços posteriores à década de 1920, parece notória também a ocorrência de um aumento da inflação mundial na corrente década de 2020, notadamente após o início da guerra da Ucrânia, ou seja, também quarenta anos aproximadamente depois dos pródromos da hodierna revolução microeletrônica, numa simetria evidente com o que se constatou nos anos 1810 e 1920.
Faz-se mister deduzir então a singela e provisória equação matemática em que x=-y, onde x é a inflação apurada em dado período de tempo e y é o declínio da taxa de lucro no mesmo período.
Por derradeiro, impende aduzir que, consoante a demonstração empírica das hipóteses aqui ventiladas, maxime quanto à primeira hipótese, a elevação dos juros não encerra o condão de reduzir a inflação, pois, ao diminuir ainda mais a taxa de lucro do capital, pode provocar na verdade um incremento dos índices inflacionários.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, bacharel e licenciado em história pela Universidade de São Paulo.
(Dedico este texto ao professor Lincoln Ferreira Secco, exímio curador da tradição marxista no Brasil)
Na última edição da Mouro escrevi uma resenha do livro “Pós-capitalismo, de Paul Mason. Ele defende que as formas básicas de uma economia pós-capitalista podem ser encontradas já no interior do atual sistema. Hipótese com a qual tendo a não concordar. Mas uma das bases dessa hipótese é a teoria dos ciclos de Kondratieff.
ResponderExcluirNa teoria de Kondratieff, explica ele, cada ciclo longo tem uma ascensão que dura cerca de 25 anos, alimentada pela implantação de novas tecnologias e alto investimento de capital. Haveria, em seguida, uma desaceleração pelo mesmo período aproximadamente, geralmente terminando com uma depressão. Na fase ascendente, o capital flui para as indústrias produtivas; na fase decadente, ele fica preso no sistema financeiro.
Da teoria de Kondratieff, seus adeptos deduziram cinco ciclos longos desde a Primeira Revolução Industrial, por volta de 1770, até o quinto, desencadeado pela Terceira Revolução Industrial até os dias de hoje. Cada ciclo, apresentando momentos de ascensão e crises cujos efeitos levariam ao próximo.
Mason argumenta que as hipóteses de Kondratieff estão essencialmente certas, mas que a crise atual representa uma ruptura desse padrão. Haveria sinais de que ela representa algo maior do que o fim de mais um ciclo ou onda.
No final da década de 1990, sobrepondo-se ao final da onda anterior, aparecem os elementos básicos do quinto ciclo longo. Ele é impulsionado pelas tecnologias de rede, comunicações móveis, um mercado verdadeiramente global e bens de informação. Mas este último, diferente dos outros, teria estagnado. E a razão pela qual ele estagnou tem algo a ver com o neoliberalismo e algo a ver com a própria tecnologia, afirma Mason.
Em primeiro lugar, ciclos longos não são produzidos apenas por tecnologia mais economia. Há um terceiro fator crítico. É a luta de classes. E é nesse aspecto que a teoria original da crise de Marx fornece uma compreensão melhor do que a teoria de Kondratieff, diz Mason.
Se a classe trabalhadora resiste ao ataque, o sistema é forçado a uma mutação mais fundamental, permitindo que um novo paradigma surja. Mas na quarta onda, vigente entre o Pós-Guerra e o início dos anos 1970, fica claro o que acontece quando os trabalhadores não conseguem resistir com sucesso.
O problema, argumenta o autor, é que, a partir do final dos anos 1980, abre-se um período da derrota e a rendição moral do trabalho organizado. A ausência da resistência dos trabalhadores seria um elemento importante para explicar a longa estagnação pela qual o capitalismo vem passando. Outro elemento seriam as características específicas da economia da informação
Desculpe o longo comentário, mas foi só pra destacar essa parte da argumentação do autor.
Muitíssimo grato camarada, excelente comentário, muito bom, vou refletir a propósito decerto, valeu!
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