A assim denominada civilização ocidental repousa impavidamente sobre duas pilastras monumentais que correspondem, no âmbito conceitual, à dicotomia de jaez platônico entre corpo e alma, razão pela qual se costuma aquiescer que a história da filosofia jamais logrou efetivamente transcender o estatuto de mero apanhado de glosas marginais ao discurso de Platão, asserção com a qual me disponho em plena concordância, ressalvada a objeção de que uma de tais glosas, publicamente conhecida como materialismo histórico e dialético, merece o honroso crédito de ter haurido a façanha de descortinar o segredo prático de tais pilares civilizatórios ao identificar, no duplo aspecto da categoria econômica da mercadoria enquanto valor de uso e valor de troca, os seus componentes, respectivamente, concreto e abstrato, ou, se assim o preferirem, corporal e anímico, cabendo, todavia, assinalar que este último aspecto da supracitada mercadoria alcança invariavelmente um patamar em que, ao se destacar do outro aspecto, passa a compor algo aquinhoado com o condão de equivaler a qualquer coisa, a saber, de se convolar em qualquer produto do engenho humano: o dinheiro.
Como alma dissociada do corpo, o dinheiro, contudo, adquiriu pioneiramente, na história econômica, a forma de metal precioso, notadamente de ouro, malgrado hodiernamente tenha desinibido seu caráter abstrato e anímico nas moedas digitais ou criptomoedas, que prescindem de suporte físico para funcionar, parecendo lícito ventilar que, no ser humano, a respectiva alma também encerra dotes monetários, tanto que Fausto alienou-a para Mefistófeles em troca de poderes mundanos, mas para os propósitos que nos interessam mais imediatamente neste momento, basta observar que o conspícuo artista barroco de alcunha Aleijadinho, de saudosa memória, adornou seus templos abundantemente com tintas douradas, decerto para registrar que o ouro, cor do dinheiro, marca indelevelmente o edifício religioso com a faceta mais insondável da alma.
O discurso que segue colima oferecer um lampejo de biografia desse artista mineiro.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
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