Infenso a qualquer sistematização do conhecimento, Friedrich Nietzsche pretendia subverter a marteladas toda a metafísica de origem platônica, que por seu turno tem raizes na oposição entre as duas facetas da forma-mercadoria, a saber, entre seu valor de uso e seu valor de trocas, que sustenta a oposição entre corpo e alma.
Foi, assim, precursor dos teoremas da incompletude de Kurt Gödel, por exemplo, um dos maiores golpes contra a razão iluminista, e propôs, com o além do homem e a vontade de potência, uma transvaloração de todos os valores.
Mas Nietzsche era um aristocrata e não percebeu que a metafísica, isto é, a forma-mercadoria é uma relação de produção, uma forma de sociabilidade, cuja superação depende de uma revolução social concreta, e não somente de um projeto filosófico.
Enquanto a questão da produção e reprodução da vida material humana não for resolvida, o projeto filosófico de Nietzsche remanescerá ideal e irrealizável.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.