Há uma certa unanimidade na opinião cediça de que o marxismo exibe um jaez filosófico evidentemente determinista, decorrente, ao que me parece, da leitura desatenta de O Capital, em que se expõe dialeticamente o desenvolvimento histórico das categorias econômicas ou relações de produção, que parece observar precisamente uma lógica implacavelmente determinista e inevitável.
Mas a leitura detida do Manifesto Comunista inclina-se a desabonar tal visão determinista, máxime na elaboração do conceito de "lutas de classes": sem embargo, a própria noção de luta embute a possibilidade de derrota ou vitória de qualquer das classes envolvidas no conflito, o que se nos antolha consentâneo, verbi gratia, com o filosofia da história de Walter Benjamin, particularmente quando preconiza a história dos vencidos, que poderiam, evidentemente, ter derrotado o inimigo de classe que, ao fim, sagrou-se vitorioso.
Logo, o capitalismo não era inevitável, eis que o campesinato inglês poderia ter derrotado a nobreza fundiária durante o movimento dos cercamentos, da mesma forma como a democracia burguesa poderia ter sido massacrada pelo fascismo no século passado, cabendo destacar que ainda hoje está sob ameaça de naufrágio.
O marxismo parece-me, portanto, tão determinista quanto a mecânica quântica, ou seja, em nenhuma hipótese, ao menos enquanto filosofia da história, sendo certo que a dialética pressupõe, nesse caso, a derrota da antítese e a manutenção da tese sem síntese, de tal sorte que o capitalismo, conquanto historicamente evitável, ainda pode esmagar politicamente o proletariado, sob pena, todavia, de aniquilar toda a humanidade.
por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.
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