Por que a teoria marxista do valor exibe-se como algo abstrato, sem correspondência aparente com a realidade empírica imediata, ou mais precisamente, sem correspondência imediata com a contabilidade capitalista ou empresarial, ou ainda, por que é tão difícil a questão da transformação do valor em preço expresso em dinheiro?
Em uma primeira aproximação, ainda em âmbito conjectural, a resposta parece-me residir em uma constatação bastante evidente:
O dinheiro serve, no modo capitalista de produção, para esconder as respectivas relações de produção, ou, sendo mais explícito, o dinheiro serve, no capitalismo, para esconder e camuflar a mais-valia!
Sim, o pagamento do salário em dinheiro serve para esconder do trabalhador a extração de mais-valia!
Ao tratar do dinheiro, ou da circulação de mercadorias, no livro primeiro de sua obra máxima, O Capital, Marx supõe a princípio uma correspondência imediata entre valor e preço no dinheiro-mercadoria, a saber, no dinheiro metálico feito de ouro ou prata, típico dos modos de produção pré capitalistas, mas à medida que avançam o capitalismo e a extração de mais-valia pela subsunção real do trabalho no capital, o dinheiro metálico vai sendo substituído pela moeda fiduciária, ou papel moeda emitido pelo Estado capitalista, em que aquela correspondência imediata entre valor e preço, típica do ouro e da prata, é rompida, vale dizer, a moeda fiduciária apenas aparece como correspondente imediata do valor, quando na verdade esconde e camufla a mais-valia.
A moeda fiduciária, portanto, com a qual é pago o salário, parece pagar o trabalho, quando na verdade remunera a força de trabalho, e portanto oculta a mais-valia.
São conjecturas sujeitas a posterior desenvolvimento e ao crivo crítico.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.