Inclino-me a concordar com o filósofo Slavoj Zizek quanto ao prognóstico de que a inteligência artificial fulminará o modo capitalista de produção, e o pânico de parte da elite econômica diante dessa nova tecnologia da informação funda-se precisamente nisso.
Há o receio manifesto de que a inteligência artificial poderá suplantar as faculdades intelectuais individuais e esquivar-se do controle humano, como nos filmes de ficção científica, mas o verdadeiro motivo do pânico, não manifesto, consiste no provável declínio acentuado das taxas de lucro do capital, indutor de crise sistêmica, consoante já tive a oportunidade de suscitar aqui neste portal eletrônico.
Mas os prognósticos apocalípticos inspirados na ficção científica exibem-se como temores típicos da perspectiva nitidamente liberal e individualista, pois a inteligência artificial superará sim as faculdades intelectuais individuais, da mesma forma como a maquinaria e grande indústria já superam as capacidades físicas individuais.
Faz-se mister aduzir que os algoritmos do comércio eletrônico, por exemplo, já armazenam e processam dados econômicos de forma inaudita, e encerram o potencial de auxiliar com grande eficiência uma vindoura planificação econômica comunista em âmbito mundial.
Sim, para os fundadores do socialismo científico, o verdadeiro comunismo somente será atingido em escala mundial, como se dessume da leitura detida de A ideologia alemã, verbi gratia, sendo certo que as relações de produção comunistas, que suplantam o individualismo capitalista, poderão gerir com eficiência e segurança uma tecnologia capaz de superar as faculdades intelectuais individuais, como se espera do desenvolvimento da inteligência artificial, de tal sorte que a verdadeira humanidade inaugurada pelo comunismo saberá haurir o máximo proveito dessa nova tecnologia e do aumento exponencial da força produtiva por ela ensejado.
Por derradeiro, parece-me que o individualismo liberal capitalista guarda suas razões em temer a inteligência artificial, mas o movimento comunista internacional deve exultar com esse novo meio de produção e o incremento da força produtiva por ele proporcionado, sob pena de se tornar uma mera atualização do vetusto movimento luddista.
Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.
Tendo a não concordar com alguns aspectos de sua argumentação, mas antes gostaria de saber a que texto ou obra do Zizek você se refere.
ResponderExcluirhttps://aterraeredonda.com.br/o-deserto-pos-humano/
ExcluirGrande camarada Serginho, aí está o texto do Zizek, muito obrigado pela leitura e me explique suas discordâncias por gentileza, abraço fraterno!
Camarada, muito rapidamente, vou tentar dialogar com seu texto, reconhecendo nele, antes de tudo, uma importante contribuição provocativa para um debate fundamental.
ExcluirEm primeiro lugar, considero que o objetivo prioritário do desenvolvimento da inteligência artificial é o aumento da lucratividade pela eliminação de força de trabalho humana. É verdade que a IA pode ser muito útil em funções cuja complexidade ultrapassa muito a capacidade meramente humana de trabalho e não se reduz a mero elemento de redução de custos de produção. Para dar apenas um exemplo, uma astrofísica brasileira que se dedica a estudar os buracos negros diz que é impossível avançar em seu campo de conhecimento sem o auxílio da IA (https://www.bbc.com/portuguese/geral-62803019). Mas, trata-se de exceção à regra.
Que o desenvolvimento da IA leve a longo prazo a uma provável queda da taxa de lucro, segundo a lei tendencial descoberta por Marx. Mas acredito que esses efeitos escapa à grande maioria da burguesia, cegada pela busca da manutenção de sua rentabilidade. Concordo que a suspensão proposta no desenvolvimento dessa tecnologia está fadada ao fracasso, uma vez que a competição capitalista em seus vários níveis, incluindo o interimperialista, não vai se deter diante de temores éticos e morais que como você afirma com razão, são típicos do individualismo liberal.
Mas acho que as inovações nesse campo provocam contradições mais agudas do ponto de vista social porque implicam desocupação e desemprego em áreas consideradas “nobres” da atividade laboral, qual sejam aquelas trabalho cujo componente intelectual implicaria posições sociais “prestigiadas”. Automatizar formas de trabalho manual tradicionais aparece como modernização, ainda que impliquem o sequestro de habilidades e conhecimentos humanos e sua cristalização como capital fixo. Já fazer o mesmo com habilidades pretensamente obtidas graças a talento, determinação, persistência individuais ganham contornos ameaçadores. Daí a grita contra esse tipo de desenvolvimento.
Por fim, concordo que se trata de forças produtivas cujo potencial de emancipação humana é enorme desde que aproveitadas sob relações sociais igualmente emancipadoras. Por isso, concordo com sua afirmação de que a negação “ludista” de tais tecnologias não se justifica. Por outro lado, o desenvolvimento de inovações como essa também depende do concomitante avanço e transformação das relações de produção em uma relação dialética que depende do exercício da crítica à forma com elas são desenvolvidas como manifestação da racionalidade capitalista, assim como da imprescindível luta contra seu formato predatório em relação à dignidade humana.
É isso por enquanto, camarada. Continue com suas contribuições, por favor.
Abraço!
Muitíssimo grato camarada Serginho, concordo com você, o desemprego estrutural é um problema de grandes dimensões decorrente da utilização capitalista da inteligência artificial, precisamos debater mais sobre isso, valeu camarada, grande abraço fraterno, estou de prontidão para discutir mais sobre isso!
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