domingo, 23 de abril de 2023

Sobre dinheiro e mais-valia

Por que a teoria marxista do valor exibe-se como algo abstrato, sem correspondência aparente com a realidade empírica imediata, ou mais precisamente, sem correspondência imediata com a contabilidade capitalista ou empresarial, ou ainda, por que é tão difícil a questão da transformação do valor em preço expresso em dinheiro?


Em uma primeira aproximação, ainda em âmbito conjectural, a resposta parece-me residir em uma constatação bastante evidente:


O dinheiro serve, no modo capitalista de produção, para esconder as respectivas relações de produção, ou, sendo mais explícito, o dinheiro serve, no capitalismo, para esconder e camuflar a mais-valia!


Sim, o pagamento do salário em dinheiro serve para esconder do trabalhador a extração de mais-valia!


Ao tratar do dinheiro, ou da circulação de mercadorias, no livro primeiro de sua obra máxima, O Capital, Marx supõe a princípio uma correspondência imediata entre valor e preço no dinheiro-mercadoria, a saber, no dinheiro metálico feito de ouro ou prata, típico dos modos de produção pré capitalistas, mas à medida que avançam o capitalismo e a extração de mais-valia pela subsunção real do trabalho no capital, o dinheiro metálico vai sendo substituído pela moeda fiduciária, ou papel moeda emitido pelo Estado capitalista, em que aquela correspondência imediata entre valor e preço, típica do ouro e da prata, é rompida, vale dizer, a moeda fiduciária apenas aparece como correspondente imediata do valor, quando na verdade esconde e camufla a mais-valia.


A moeda fiduciária, portanto, com a qual é pago o salário, parece pagar o trabalho, quando na verdade remunera a força de trabalho, e portanto oculta a mais-valia.


São conjecturas sujeitas a posterior desenvolvimento e ao crivo crítico.

Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

Um comentário:

  1. Ideia interessante! Imagino que se no futuro próximo e a moeda se resumir a criptomoedas, a memória distante do valor fiduciário, e antes dele o trabalho, e ante dele a sua parcela viva serão soterrados pela mentira recorrente de que a riqueza é uma benção para os bem-aventurados. Mas …. se alguém puxar a tomada o que nunca existiu desaparece para sempre.
    Acho que vi isso em Blade Runner 2049

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