terça-feira, 8 de abril de 2025

BREVE SERMÃO DO OURO: PREÂMBULO.

Aos meus caríssimos leitores que lograrem suplantar a aridez do exórdio da vertente obra, insinuo a seguinte admoestação: este preâmbulo não constitui, sob nenhuma hipótese ou justificativa, uma superfetação da peça vestibular deste discurso, mas decerto consiste em exórdio alternativo do mesmo, pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos.

Ora, muitos dirão que tornei hialinas, no exórdio, minhas predileções filosóficas pelo materialismo histórico e dialético, mais precisamente naquilo que empreendo uma absorção das dicotomias platônicas pelo duplo caráter da categoria econômica da mercadoria, de tal sorte que a dissociação entre corpo e mente, ou alma, teria seu segredo revelado na oposição entre valor de uso e valor de troca, o que poderia ensejar a imputação de que padeço de certo determinismo econômico encontradiço na seara materialista. 

Nada mais falacioso!

Sem embargo, aquiesço de bom grado que a tradição filosófica ocidental, caudatária das supracitadas dicotomias platônicas, muito adquiriu em complexidade e, portanto, conformidade epistemológica com seus objetos de investigação, ao receber gratuitamente o inestimável contributo da psicanálise, que dividiu a mente humana em três instâncias não estanques, a saber, o id, o ego e o superego.

Nesse diapasão, se o materialismo histórico e dialético patrocina a convicção de que não é a consciência individual que determina o ser humano, mas o ser social que produz sua consciência, de tal modo que na divisão da sociedade em capital e trabalho radica a oposição entre mente e corpo, parece lícito ventilar que, para a psicanálise, a tripartição do ser humano em id, ego e supergo está na raiz da fragmentação social em trabalho, capital e Estado, o que introduz uma certa complicação para os estudiosos e cientistas que se debruçam sobre tais temas axiais. 

Malgrado o exposto, deixo ao meu perseverante e estimado leitor a tarefa de escolher livremente, como intróito deste opúsculo, o exórdio ou o preâmbulo.   




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

domingo, 6 de abril de 2025

MEMÓRIA, HISTÓRIA HUMANA E HISTÓRIA NATURAL.

Vimos no texto imediatamente precedente, aqui publicado, que somos dotados de memória e, por esse motivo, nossa percepção subjetiva do tempo exibe-se cumulativa, de modo que temos a sensação de que o tempo que passa vai sendo somado, resultando em nossa idade, que é o acúmulo ou soma dos anos passados desde o nascimento, e nossa identidade individual. 

Mas tal caráter cumulativo da memória reproduz no âmbito do pensamento o próprio processo cumulativo da história, seja ela humana ou natural, senão vejamos:

Consoante preconiza o materialismo histórico e dialético de Marx e Engels, as categorias econômicas que se sucedem na história são cumulativas, como exposto na obra O Capital, verbi gratia, em que a categoria do dinheiro incorpora e supera a categoria historicamente antecedente da mercadoria, enquanto a categoria do capital incorpora e supera a categoria historicamente precedente do dinheiro. 

Simetricamente, a teoria da evolução das espécies biológicas, suscitada por Darwin, cientista mui admirado por Marx, também se mostra cumulativa, de tal sorte que as espécies mais evoluídas na história natural incorporam e superam as estruturas e órgãos das espécies antecedentes e menos desenvolvidas, consoante o brocardo: "a anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco"

Logo, indivíduos humanos, modos de produção e espécies biológicas oferecem simetrias flagrantes de desenvolvimento ao longo do tempo. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

sábado, 5 de abril de 2025

MEMÓRIA E RELATIVIDADE, OU BREVÍSSIMO ENSAIO DE PSICOLOGIA.

Quer nos parecer que não é apenas no âmbito do mundo físico objetivo que vigora uma teoria da relatividade, de tal sorte que sou compelido a acreditar, com a convicção própria das conjecturas, em uma certa relatividade subjetiva, ou psicológica.

Sem embargo, somos dotados de memória e, portanto, o tempo subjetivamente percebido é cumulativo, o que forja a sensação de identidade individual apesar do envelhecimento corporal: por isso dizemos, quando nos perguntam a idade, que temos, digamos, cinquenta e quatro anos de idade, isto é, uma soma, vale dizer, um acúmulo dos anos do calendário que já se passaram desde o nosso nascimento. 

Também por isso, nossa percepção subjetiva da passagem ou velocidade do tempo exibe-se relativa à nossa idade, de tal modo que quanto mais idosos, mais rápido o tempo parece correr, isto é, mais veloz parece o curso do tempo: com efeito, para uma criança de um ano de idade, um período seis meses corresponde a metade do seu tempo de vida, ao passo que, para uma pessoa de sessenta anos de idade, um semestre corresponde a apenas um cento e vinte avos de seu tempo de vida, sendo certo que a velocidade do tempo subjetivamente percebida é tanto maior quanto mais idoso o sujeito considerado. 

Denominaria isto, provisoriamente, de relatividade subjetiva. 

Conjecturas sub judice. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

RENDEZ-VOUS AVEC POL POT

A película cinematográfica de título em testilha exibe-se muito eficiente como denúncia histórica do genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja durante o governo de Pol Pot, mas mostra-se sofrível como tentativa de elucidação da história. 

Sem embargo, esse líder político autodenominado comunista empreendeu uma leitura enviesada do materialismo histórico de Marx e Engels, senão vejamos:

Concedendo mais importância às relações de produção do que às forças produtivas, bem assim empreendendo uma crítica acerba da noção de progresso ínsita ao positivismo filosófico de matriz ocidental, Pol Pot identificou no capitalismo um fenômeno tipicamente urbano, de tal sorte que promoveu um movimento de agrarização acelerada da economia, inclusive com esvaziamento das cidades e abolição do dinheiro, colimando atingir um estágio de comunismo primitivo.

Nada justifica um genocídio (decorrente de uma situação bélica permanente e paranoica no país, segundo o próprio Khmer Vermelho), mas tal crítica do progresso material propiciado pelo desenvolvimento histórico das forças produtivas não é de todo tresloucada, contando com adeptos ilustres, como Walter Benjamin por exemplo, se bem que o filme em comento furta-se a encetar tal tipo de discussão, quedando perfunctório. 

Se o progresso material certamente não é garantia absoluta de felicidade humana, máxime considerando a hodierna crise ecológica, tampouco parece exequível retroagir a um estado de comunismo primitivo. 

Bom debate que a película não efetua. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

ESPECULAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO DÉCIMO DO LIVRO PRIMEIRO DE O CAPITAL.

Karl Marx oferece, no capítulo décimo do livro primeiro de sua obra magna, uma resolução para um certo paradoxo de sua teoria econômica, a saber: o que moveria o capitalista individual a buscar continuamente um aumento da força produtiva do trabalho, mediante investimento em capital fixo e decorrente aumento da composição orgânica do seu capital, se isto conduz tendencialmente a um declínio de sua taxa de lucro?

Ora, diz Marx, tal aumento da força produtiva do trabalho conduz a uma redução do tempo de trabalho necessário para que o capitalista individual produza sua mercadoria individualmente considerada, de tal sorte que ele pode então reduzir o preço de tal mercadoria e derrotar, portanto, a concorrência, com favorecer o processo de centralização de capital e formação de monopólio, o que embota o aguilhão concorrencial e permite a imposição de preços administrados, afastando, destarte, o espectro da lei tendencial da queda da taxa de lucro.

Faz-se mister, todavia, observar que o capital fixo também transfere seu valor, no processo de circulação do capital total, para a mercadoria individual produzida pelo capitalista individual, de sorte que disso se dessume uma lei econômica cujo enunciado poderia ser:

"Para que haja efetiva diminuição do preço individual da mercadoria mediante aumento da produtividade decorrente de investimento em capital fixo, o incremento da força produtiva do trabalho deve ser tal que compense o acréscimo de valor paulatinamente transferido aos produtos pela circulação de tal capital fixo"






por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

quarta-feira, 2 de abril de 2025

MARGINALISMO, FASE MONOPOLISTA DA TEORIA DO VALOR.

Habitualmente, a teoria marxista do valor econômico vem associada à classe trabalhadora, ao passo que a teoria marginalista do valor econômico vem associada à classe capitalista, de tal sorte que seriam mutuamente excludentes do ponto de vista epistemológico. 

Discordo em parte. 

A teoria marxista do valor, na verdade, é característica da fase histórica do capitalismo concorrencial, quando os lucros são hauridos basicamente da extração da mais-valia no âmago do processo de produção de capital, enquanto o marginalismo é característico da fase monopolista do capitalismo, quando os lucros são também, mas não somente, extraídos no processo de circulação de capital mediante imposição de preços administrados.

Faz-se mister, todavia, aduzir que, malgrado sejam teorias complementares, nos termos acima declinados, o marxismo determina o valor das mercadorias, enquanto o marginalismo detemina o respectivo preço. 

Conjecturas sub judice. 





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

MONOPÓLIOS E PREÇOS

Parece lícito esgrimir que, nas fases mercantilista e monopolista da história econômica do capitalismo, os lucros são obtidos em grande medida na esfera da circulação de mercadorias ou de capital, mediante a imposição de preços administrados, ensejados pelo jaez exclusivista ínsito ao monopólio, de tal sorte que não há que se cogitar em extração de lucros pela produção de sobrevalor ou mais-valia, mas em apropriação de valores já produzidos, com vantagem de uma parte, em detrimento de outra, envolvidas nesta circulação de mercadorias ou de capital.

De tal asserção não resulta que no capitalismo monopolista inexista a extração de mais-valia no processo de produção de capital, mas sim que tal mais-valia é complementada na esfera da circulação de capital mediante estes preços administrados, com realização de lucros extraordinários.

Tema a desenvolver. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

terça-feira, 1 de abril de 2025

MONOPÓLIO E CONCORRÊNCIA NA HISTÓRIA ECONÔMICA

1. No período histórico do capitalismo mercantilista, na época moderna em que se observa a subsunção meramente formal do trabalho no capital, na indústria manufatureira, os lucros são basicamente hauridos no processo de circulação de capital, mediante o suporte dos monopólios e do exclusivo colonial (na nomenclatura adotada por Fernando Novais), mantidos pelo Estado absolutista e pelo antigo sistema colonial, máxime pelo mecanismo das diferenças de preços entre metrópole e colônia. 

2. No período histórico do capitalismo concorrencial, em que se observa o advento da maquinaria e grande indústria e a respectiva subsunção real do trabalho no capital, os lucros são hauridos basicamente no processo de produção de capital, mediante a extração da mais-valia absoluta e relativa, descritas por Karl Marx em sua monumental obra intitulada O Capital. 

3. No período histórico do capitalismo monopolista ou imperialismo, tão bem investigado por Lenin, Luxemburgo e respectivos discípulos como Sweezy e Baran, os lucros voltam a ser hauridos basicamente no processo de circulação de capital, mediante a imposição de preços administrados. 

4. Infere-se, do exposto, que há um certo pêndulo histórico entre monopólio e concorrência na história econômica do capitalismo. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

domingo, 30 de março de 2025

AINDA SOBRE IMPERIALISMO E TAXA DE LUCRO, OU A CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL COMO FORMA INFENSA À TENDÊNCIA DECLINANTE DA TAXA DE LUCRO.

Reporto-me, ainda uma vez, ao meu texto intitulado "As quatro formas da mais-valia", previamente publicado neste portal eletrônico. 

Disto isto, cabe indagar: o que move o capitalista individual a aumentar a composição orgânica de seu capital se isto tende a reduzir sua taxa de lucro?

A resposta seria: para haurir a segunda forma de mais-valia relativa, consoante o texto supracitado. 

Mas esta é uma resposta apenas parcial, eis que a segunda forma de mais-valia relativa, que provoca uma redução dos preços da mercadoria do capitalista individual pioneiro (o qual aumenta a composição orgânica de seu capital para elevar a força produtiva do trabalho), enseja a derrota dos capitalistas concorrentes que produzem a mesma espécie de mercadoria, a saber, o mesmo valor de uso, situação esta que favorece a centralização de capital e a formação de monopólio. 

Com a centralização de capital e a decorrente formação de monopólio, embota o aguilhão da concorrência para aumentar a composição orgânica de capital (colimando reduzir preços para derrotar precisamente os concorrentes), sendo certo ainda que a queda tendencial da taxa de lucro deixa, portanto, de funcionar como ameaça que sobrepaira o modo capitalista de produção.  

Malgrado isso, o progresso tecnológico, e o respectivo aumento da composição orgânica do capital, remanesce na fase do capitalismo monopolista, ou imperialismo, mas agora para extração da terceira forma de mais-valia relativa, vale dizer: o progresso tecnológico não mais colima a redução dos preços de uma determinada mercadoria de certo valor de uso mediante aumento da força produtiva do trabalho, mas almeja o lançamento de novos valores de uso correspondentes a novas necessidades humanas, cujos preços são elevados pela novidade mercadológica aludida e pela possibilidade de obtenção de preços administrados pelo monopólio.

Faz-se mister, ainda, investigar o papel da superprodução na determinação da mencionada inovação dos valores de uso no capitalismo monopolista. 

Conjecturas sub judice.




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.    

sábado, 29 de março de 2025

IMPERIALISMO E TAXA DE LUCRO

De proêmio, peço licença aos eventuais leitores para remeter ao meu texto "As quatro formas da mais-valia", aqui previamente publicado, com supedâneo no qual empreendo as seguinte reflexão:

1. Na fase histórica do capitalismo concorrencial, observa-se constante revolução no processo de produção de capital, sem alterações substanciais nos valores de uso das mercadorias, colimando reduzir os preços de tais mercadorias como forma de derrotar a concorrência, sendo certo ainda que a (por mim denominada) terceira forma de mais-valia relativa ainda permanece embrionária: tal modelo de acumulação de capital, todavia, encerra na tendência declinante da taxa de lucro seu limite histórico por excelência. 

2. Já na fase histórica do capitalismo monopolista ou imperialismo, a resolução da supracitada tendência declinante da taxa de lucro manifesta-se na adoção da terceira forma de mais-valia relativa, a saber: a contínua revolução do processo de produção de capital já não colima mais a redução dos preços das mercadorias, mas sim o aumento de tais preços pela contínua revolução dos valores de uso com a instituição de novas necessidades humanas, sendo certo ainda que tais preços são exacerbados pela ausência funcional da concorrência e a possibilidade de se perpetrarem, portanto, preços administrados.   




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quarta-feira, 26 de março de 2025

DIALÉTICA DA QUANTIDADE E QUALIDADE

 1. Na época do capitalismo concorrencial, mudanças qualitativas no processo de produção de capital engendram alterações quantitativas de preços e quantidades de mercadorias produzidas;

2. ⁠Na época do capitalismo monopolista, as mudanças qualitativas atingem não apenas o processo de produção de capital, mas as próprias mercadorias, com a contínua revolução nos valores de uso e necessidades humanas, sendo certo ainda que tal revolução qualitativa também engendra alterações quantitativas, nomeadamente nos preços das mercadorias.


Destarte, faz-se mister anotar que mudanças qualitativas convertem-se em alterações quantitativas, e estas, por seu turno, quando atingem determinada magnitude, convertem-se em mudanças qualitativas.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 25 de março de 2025

ADOLESCÊNCIA

A hodierna revolução digital entronizou o trabalho intelectual, máxime na produção de software e, com isso, abriu as portas do mercado de trabalho para as mulheres, que anteriormente eram de certa forma preteridas nesse mercado pelo predomínio do trabalho manual, dominado pelos homens, fisicamente mais adequados a tal espécie de trabalho.

A reação a tal situação manifesta-se atualmente no recrudescimento de uma certa, digamos, "guerra dos sexos", com a decorrente intensificação tanto da misoginia quanto do feminismo.

Mas a revolução digital é produto histórico do desenvolvimento espontâneo do modo capitalista de produção, cuja contradição principal reside na oposição entre capital e trabalho, a saber, nas lutas de classes, sendo que a assim designada guerra dos sexos exibe-se como epifenômeno ou contradição secundária, como ensinava Mao Tsé-Tung.

Mas o neoliberalismo, oportunista, soube instrumentalizar essa guerra dos sexos em seu favor, no âmago do embate essencial contra o marxismo e as lutas de classes. 

A série audiovisual intitulada "Adolescência", tecnicamente muito boa, perde-se, todavia, na guerra dos sexos em detrimento das lutas de classes. 

Como dizem os franceses, c´est dommage. 



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.     

domingo, 23 de março de 2025

TEMAS SOBRE ESTADO-NAÇÃO E DINHEIRO

1. Karl Marx, no livro primeiro de sua monumental obra intitulada O Capital, investiga o dinheiro ainda em sua forma universal e supranacional, como dinheiro metálico em ouro e prata, em que a lei do valor ainda não arrosta delimitações geográficas.  

2. Todavia, o devir histórico parece exibir um movimento direcionado ao confinamento da lei do valor em certos limites geográficos, desde as corporações de ofícios medievais até os hodiernos Estados-nação, passando pelos Estados absolutistas da era moderna.

3. Com efeito, observa-se que a época dos Estados absolutistas modernos ainda exibe a emissão espontânea de dinheiro em sua forma metálica universal e supranacional no âmago do processo de circulação de mercadorias, enquanto os atuais Estados-nação já emitem moedas nacionais, como papel-moeda ou moeda fiduciária, cuja validade oficial e respectiva cotação é garantida pelos bancos centrais, numa tentativa de confinamento da lei do valor em âmbito nacional e que, cabe suscitar, tem na inflação seu maior desafio.

4. Hodiernamente, observam-se os primeiros ensaios de emissão também espontânea e à margem dos Estados-nação, no processo de circulação de capital, de dinheiro universal e supranacional como moedas digitais e criptomoedas. 

5. Faz-se mister aduzir ainda que, quanto mais abstrato o trabalho assalariado, desde a crescente divisão social do trabalho manual até o atual trabalho assalariado intelectual produtor de software, mais independente de suporte material exibe-se o dinheiro, que de moeda metálica passou a moeda digital, passando pela moeda fiduciária ou papel-moeda. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.  

sábado, 22 de março de 2025

O IMPERIALISMO ENTRE LENIN E LUXEMBURGO: UM PROJETO DE ESTUDO.

Rosa Luxemburgo investigou o fenômeno do imperialismo a partir, fundamentalmente, do livro segundo de O Capital de Karl Marx, nomeadamente o processo de circulação de capital, identificando na superprodução o seu eixo econômico central.

Já Vladimir Lenin investigou o mesmo fenômeno a partir, basicamente, do livro primeiro da obra supracitada, nomeadamente o processo de produção de capital, identificando na centralização e concentração de capital, com a formação de monopólios, o eixo econômico central de tal fenômeno. 

Cabe investigar o imperialismo na unidade dos processos de produção e circulação de capital, máxime na forma como a contínua revolução dos valores de uso afeta a lei do declínio tendencial da taxa de lucro. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

quinta-feira, 20 de março de 2025

CLAUDE DEBUSSY POR JACOB GORENDER

Recordo-me que certa feita, em conversa despretensiosa, o saudoso mestre Jacob Gorender, que além de grande historiador marxista era notável estudioso e apreciador de música clássica, comentou que a música de Claude Debussy atribuía mais importância à harmonia do que à melodia, concedendo mais valor às notas tocadas sincrônica e coletivamente, os acordes, do que às notas tocadas diacrônica e individualmente. 

Tal aspecto encerra implicações estéticas e filosóficas profundas, pois exibe-se infenso ao individualismo em geral. 

Sem embargo, a identidade individual humana, malgrado o inexorável processo de envelhecimento do respectivo corpo material, forja-se por força da memória, que provoca a sensação de continuidade e linearidade da essência do indivíduo ao longo do tempo . 

Mas Debussy rompe com tal noção de identidade individual na música, ao insurgir-se contra o desenvolvimento dramático de determinado tema melódico, típico do romantismo musical, pois suas composições mais se assemelham a certa justaposição de blocos melódico-temáticos sem o respecitvo desenvolvimento dramático de tais blocos, enquanto sua modulação harmônica exibe-se extremamente complexa e não linear. 

Seria a música de Claude Debussy um exemplo de marxismo na arte das musas, a música?



por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

terça-feira, 18 de março de 2025

HISTÓRIA QUANTITATIVA

A certa altura de sua Ciência da Lógica, Hegel ensina com a devida propriedade que alterações quantitativas de certa magnitude transformam-se em mudanças qualitativas. 

Mas a história, se não pretende confinar-se no retrato estático de determinado momento no tempo, mas colima apreender e captar o movimento histórico no devir e sua lógica dialética, deve examinar as mudanças qualitativas, como nas revoluções que transformam um modo de produção, de tal sorte que a história quantitativa antolha-se-nos absolutamente necessária, mas não totalmente suficiente, pois faz-se mister precisamente, ao historiador dialético, vasculhar em que momento se verifica uma alteração qualitativa no devir. 

Ex positis, a história quantitativa não deve ser de forma alguma desprezada, mas não pode ser hegemônica. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

segunda-feira, 17 de março de 2025

CONJECTURAS SOBRE A EMISSÃO DE DINHEIRO NA HISTÓRIA ECONÔMICA

1. No período manufatureiro da subsunção meramente formal do trabalho no capital, previamente ao advento da maquinaria e grande indústria, isto é, na época do Estado absolutista e mercantilista, estribado no antigo sistema colonial, como já suscitamos aqui neste portal eletrônico, a mais-valia é capturada primordialmente no processo de circulação de capital, mediante diferenças nos preços das mercadorias entre colônia e metrópole, cabendo destacar que a este período histórico corresponde a emissão de dinheiro, em sua forma metálica, no próprio processo de circulação de capital, ou de mercadorias, sendo certo que o Estado apenas acumula metais preciosos, como ouro e prata, mediante sua política econômica metalista. 

2. Já no período da maquinaria e grande indústria, com o respectivo advento da subsunção real do trabalho no capital, a mais-valia passa a ser obtida no processo de produção de capital, e o dinheiro passa a ser emitido pelo Estado como moeda fiduciária ou papel-moeda.

3. Com a hodierna revolução digital ou microeletrônica, o processo de circulação de capital retoma seu protagonismo na extração da mais-valia, sendo certo que o dinheiro, ainda que de forma incipiente, volta a ser emitido neste processo de circulação de capital, na forma de criptomoedas ou moedas digitais, à revelia do Estado, o que tem ressuscitado e reanimado as ideias ultraliberais de privatização do dinheiro e da emissão de moeda, malgrado já se observem algumas poucas tentativas de emissão estatal de moeda digital oficial. 

Conjecturas sub judice.  




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

sábado, 15 de março de 2025

O DIREITO CONTRA A HISTÓRIA

O direito da sociedade civil burguesa, na acepção gramsciana, exibe jaez eminentemente conservador, na exata medida em que funciona e existe para resolver as contradições e conflitos ínsitos a tal sociedade, com instituir o Poder Judiciário como instância e autoridade estatal máxima de resolução de contendas. 

Outrossim, ele rege e disciplina as manifestações empíricas do modo capitalista de produção nas relações individuais, as assim denominadas relações jurídicas, sendo certo que as relações e conflitos de classes sociais são temas de regulamentação especial, como a Justiça trabalhista e a justiça eleitoral no caso brasileiro, mas sempre colimando a resolução de contradições e conflitos para a manutenção do status quo, de tal sorte que o máximo que se pode haurir juridicamente dos conflitos sociais são reformas das relações jurídicas, jamais um processo revolucionário das relações de produção fundantes do modo capitalista de produção. 

Todavia, em sentido dialético, as contradições e revoluções são os verdadeiros motores da história, que o direito burguês tende a reprimir e coibir como um freio social e institucional conservador do status quo.

Por outro lado, o direito nos modos de produção que vierem a transcender o capitalismo, consoante esboçado por teóricos do cariz de Pachukanis, Stutchka e Canotilho, verbi gratia, deverá, ao contrário, promover o progresso histórico em direção a formas mais avançadas, e justas, de sociabilidade. 




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

VALOR E PREÇO NA HISTÓRIA

 Há um pêndulo histórico quanto à extração de mais-valia, que se alterna entre a extração na produção de valor e a extração na imposição de preços, a saber:


1. No período da subsunção meramente formal do trabalho no capital característico da manufatura anterior ao advento da maquinaria e grande indústria, ou seja, o período dos Estados absolutistas e do antigo sistema colonial, a mais-valia é extraída na diferença de preços no processo de circulação de capital, máxime nas diferenças de preços nas metrópoles e nas colônias;

2. ⁠No período do capitalismo concorrencial, a mais-valia é extraída no processo de produção de capital, isto é, no processo de valorização de valor, com redução dos preços;

3. ⁠No período do capitalismo monopolista, retornamos à extração de mais-valia através dos preços, nomeadamente os preços administrados, no processo de circulação de capital.




Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

CONCORRÊNCIA E MONOPÓLIO

À medida que o capitalismo desenvolve-se no curso do tempo, a concorrência vai sendo substituída pelos monopólios. 

O período histórico do capitalismo concorrencial é caracterizado pelo contínuo progresso do processo de produção de capital, pois a concorrência pede a redução dos preços das mercadorias, sendo certo que a mais-valia é extraída primordialmente nesse processo de produção de capital. 

Já o período histórico do capitalismo monopolista distingue-se pelo contínuo progresso do processo de circulação de capital, com a introdução de novos valores de uso de preços elevados, sendo certo que a mais-valia é extraída primordialmente nesse processo de circulação de capital, mediante a terceira forma de mais-valia relativa, consoante restou explanado no meu texto intitulado "As quatro formas de mais-valia", publicado neste portal eletrônico. 





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador.   

quinta-feira, 13 de março de 2025

Donald Trump entre o Vale e o Cinturão

 Trump equilibra-se entre o Vale do Silício e o Cinturão da Ferrugem, entre a ascendente indústria do software e a decadente indústria pesada, é uma contradição capitalista ambulante!


Sem embargo, o declínio das taxas de lucro do setor da indústria da transformação estadunidense provocou um deslocamento de capital em direção à novel indústria de tecnologia, mais lucrativa, operando uma intensa decadência do outrora pujante Cinturão da Ferrugem estadunidense e a ascensão do Vale do Silício californiano.


Sucede que tal fenômeno comprometeu a complexidade e a autonomia da economia dos Estados Unidos, pois a revolução digital atua primordialmente no processo de circulação de capital, mas a integridade da economia de um país depende do processo de produção de capital, que é preponderante, de tal sorte que a nação yankee restou fragilizada, no âmbito da divisão internacional do trabalho, máxime porquanto o vácuo do Cinturão da Ferrugem foi ocupado pela ascendente indústria da transformação da China, um adversário político e econômico de importância inconteste.


A política econômica nacionalista e protecionista de Trump colima, pois, recuperar a complexidade e a integridade da economia estadunidense com a ressurreição da indústria de transformação do Cinturão da Ferrugem, malgrado o forte apoio que o republicano encerra entre os magnatas do Vale do Silício.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

PSDB E PT

 Vou me arriscar e dar pitaco em análise política, conquanto isso não seja muito a minha “praia”


A social democracia do Estado do bem-estar social está em vias de definhar com o avanço inexorável do neoliberalismo decorrente das novas necessidades de extração de lucro a fórceps, em razão do declínio da taxa de lucro prevista por Karl Marx.


O partido herdeiro dessa tradição social democrata no Brasil, o PSDB está em vias de extinção, deixando um vácuo político em vias de ocupação pela extrema direita de matiz bolsonarista.


Mas a social democracia do bem estar social foi uma experiência conjuntural derivada de um período de relativa bonança ensejada pela segunda revolução industrial da indústria pesada, bem assim da guerra fria.


Daí a brevidade da experiência política consubstanciada no PSDB no Brasil, um partido conjuntural.


Já o Partido dos Trabalhadores finca raízes mais profundas e estruturais, conquanto também seja fruto da segunda revolução industrial da indústria pesada, pois está alicerçado na classe trabalhadora, que se nos antolha ínsita à própria essência do modo capitalista de produção.


A existência do PT, portanto, deve ser mais longeva do que a do PSDB, mas a dificuldade de renovação dos quadros petistas reflete precisamente sua origem na indústria pesada.


A hodierna revolução digital impõe desafios ao PT em razão das alterações e vicissitudes da classe trabalhadora e do trabalho intelectual na produção do software como mercadoria, mas a existência desse partido pode ser prolongada e relevante se ele souber adaptar-se às novas injunções da história econômica.





Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

segunda-feira, 10 de março de 2025

MARXISTAS E BURGUESES NA ECONOMIA

 Os economistas burgueses, tanto liberais quanto keynesianos, enfatizam o processo de circulação de capital, eis que o processo de produção de capital revela a exploração da força de trabalho na extração da mais-valia: seu universo científico circunscreve-se, portanto, à oferta e à demanda econômicas, mas a planificação da economia não se situa em seu escopo.


Já os economistas marxistas enfatizam o processo de produção de capital, a saber, a extração da mais-valia, mas descuram, em certa medida, do processo de circulação de capital: isso se deve à obra magna O Capital, de Karl Marx, que investigou principalmente a mais valia e o processo de produção de capital da primeira revolução industrial, a inglesa do século XVIII, a qual não afetou o processo de circulação de capital com inovações nos valores de uso, ao contrário das revoluções industriais ulteriores.


Sintomaticamente, a extinta URSS revolucionou radicalmente as relações de produção ou propriedade, colimando erradicar a mais-valia, mas malogrou no processo de planificação econômica, em que a circulação e distribuição de bens exibe-se preponderante.







Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

MARX E A UNIÃO SOVIÉTICA

 A União Soviética, como parece cediço, exibiu altas taxas de crescimento econômico desde sua fundação até os estertores da década de 1970, quando sua economia começou a declinar, ou seja, seu milagre econômico corresponde precisamente ao período da assim designada segunda revolução industrial, caracterizada pela ascensão da indústria pesada de bens de consumo duráveis, máxime o automóvel.


Quer me parecer, portanto, que a planificação econômica centralizada soviética logrou sucesso quanto a tal revolução industrial, mais circunscrita ao processo de produção de capital, mas malogrou quanto à subsequente revolução digital, a qual promoveu reviravolta no processo de circulação de capital, com novos valores de uso vinculados a tal processo.


Parece certo, outrossim, que a crítica da economia política de Karl Marx privilegiou, em alguma medida,  a investigação do processo de produção de capital em detrimento do processo de circulação de capital, talvez pela limitação imposta pelo seu estado de saúde.


Seria urgente, nesse caso, uma revisão da crítica da economia politica voltada ao processo de circulação de capital, talvez seu aprofundamento?


Hipóteses sub judice.






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

INDENIZAÇÃO?

 Já esgrimi neste portal eletrônico a indenização da classe capitalista pela expropriação de seus meios de produção em eventual revolução política de jaez anticapitalista, para evitar os custos de uma guerra civil, lastreado no exemplo histórico da Revolução Inglesa do século XVII, em que ocorreu uma acomodação política entre aristocracia e burguesia por intermédio do instituto da renda da terra.


Sucede, todavia, que esta acomodação política foi estabelecida entre classes sociais dominantes que vivem do trabalho alheio, e encerrava como objetivo evitar um levante das classes trabalhadoras que poderia ser radicalmente subversivo.


No caso de uma revolução proletária, trata-se de erradicar qualquer forma de exploração do trabalho alheio, portanto parece descabida, em exame perfunctório, a indenização pela expropriação dos meios de produção.


Remanesce a vetusta questão:


O que fazer?






Por Luís Fernando Franco Martins Ferreira, historiador.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

RUMO ÀS ESTRELAS

 Rumo às Estrelas

 

Gostei da argumentação do último artigo do Luís Fernando, Superata Tellus, Sidera Donat, tanto que até fui pesquisar o significado título, que pode ser traduzido como A Terrasuperada, dá as estrelas. A frase é de Boécio, que pelo que entendi, é um filósofo medieval, mas minha pesquisa sobre o título foi só até aí.

Eu me mexi para escrever porque o assunto abordado no artigo é algo que sempre me vem à mente, como aficionado da conquista espacial e inconformado com a finitude da humanidade, uma vez que nosso planeta inevitavelmente deixará de existir quando o sol se tornar uma gigante vermelha e seu raio se expandir até (ou além, não sei ao certo) órbita de Marte, engolindo os planetas interiores. Obviamente, a vida neste planeta terá se extinguido muito antes disso. Esse evento, o fim da Terra, inclusive é tema do primeiro episódio da primeira temporada da retomada da clássica série britânica Dr. Who.

Em outras palavras, se a humanidade quiser sobreviver ao nosso planeta, terá que deixá-lo em algum momento e aí reside o grande problema. Viagens interestelares são absurdamente custosas, ao ponto de torná-las praticamente inviáveis para uma criatura viva, devido principalmente a dois fatores: as distâncias gigantescas ambiente extremamente inóspito do espaço. Por mais que eu me divirta com as histórias de ficção científica, em que as pessoas viajam de um planeta a outro como se fossem visitar um amigo em outra cidade, isso é pura fantasia, um conto de fadas tanto quanto as aventuras de espada e feitiçariacom ogros, dragões e meio humanos com orelhas e rabo de gato.

A menos que surja uma descoberta que revolucione completamente a física, mudando tudo o que entendemos do mundo até agora, o que não é totalmente impossível, mas bastante improvável, não há como superar a velocidade da luz. Mesmo para que um objeto massivo atinja essa velocidade seria necessária uma quantidade infinita de energia, literalmente, salvo engando da minha parte, já que escrevo isto de memória. A alternativa de dobrar o espaço, encurtando asdistâncias entre a origem e o destino também é inviável, pois seria necessário criar campos gravitacionais gigantescos, o que até o momento parece impossível.Também me parece que tais campos esmagariam ou a abalariam tudo que estivesse por perto, o que não seria tão perto assim em termos astronômicos.Considerando que a estrela mais próxima de nós, Alfa Centauro, está a quatro anos luz de distância, isto é, levaria quatro anos viajando à velocidade da luz para chegar até elacomeçamos a ter uma ideia dos tempos necessários para essas viagens.

Para contornar problema do tempo a solução que alguns propõem é a das chamadas naves geracionais: uma enorme nave espacial, contendo um meio ambiente auto sustentável e uma tripulação constituída por uma pequena sociedade extremamente estável em que as inúmeras gerações se sucederiam até a chegada ao destino. Uma abordagem ficcional desse conceito pode ser vista no episódio For the World Is Hollow and I Have Touched the Sky da terceira temporada da série original de Star Trek. Além dos enormes problemas técnicos envolvidos em criar sustentar esse ambiente artificial, o fato dessa sociedade tripulação ser obrigada a manter um status imutável ao longo dos séculos de duração da viagem até outra estrela me parece a fórmula perfeita para criar um inferno autoritário onde qualquer manifestação de criatividade ou insatisfação ameaçaria a estabilidade absolutamente necessária para a sobrevivência de todos até o destino. Um controle rígido da natalidade também seria absolutamente necessário, o que, me parece, geraria conflitos constantes, por ir contra a natureza humana.

Porém, além do tempo, há o problema do quanto o espaço fora da Terra é inóspito à vida. Dentro do sistema solar o viajante espacial estaria exposto àsviolentas descargas de radiação emitidas pelo Sol e quando se afastasse o suficiente para se distanciar da influência do Sol, então estaria exposto ao frio extremo, próximo do zero absoluto, do espaço interestelar. Nesse vácuo gelado, também haveria uma completa ausência de recursos energéticos e materiais para manter a vida e o ambiente que sustentaria a vida. É aqui que entra a ideia sugerida pelo artigo supra citado e que há muito atrai o meu pensamento. Quem percorrerá o espaço preservando o nosso legado e o levando a outros mundos serão os nossos herdeiros, mas não de nossos corpos, mas de nossas mentes. Máquinas, androides ou não, dotadas de cérebros artificiais, inteligentes, conscientes e desprovidas das fragilidades da nossa carne, mas imbuídas de nossa razão e de nossas emoções. Emoções essas, espero, menos selvagens que as nossas, mas inevitáveis para dar a essas criaturas motivação, propósito e ímpeto de auto preservação. Esses nossos herdeiros, resistentes às agruras doespaço sideral, talhados para sobreviver ao tempo e ao isolamento em pequenos grupos sociais, viajariam ao longo de milênios, de planeta em planeta, talvez até levando a semente da vida terrestre, o DNA de nossas plantas e animais e até o nosso próprio, para povoar ou terraformar (transformar para que fiquem como aTerra) outros planetas.

Para citar novamente a ficção, um dos inimigos recorrentes do protagonista da série britânica Dr. Who são os Cybermen, uma civilização de autômatos, que por mais que tente, o doutor não consegue destruir, pois mesmo quando ele consegue exterminá-los completamente, no que talvez seja um verdadeiro genocídio, eles reaparecem, evoluindo de outra espécie, em outro planeta, pois substituir seus corpos e mentes por equivalentes artificiais seria o caminho natural para algumas espécies inteligentes. O problema desses Cybermen é o mau hábito de invadir os planetas alheios e impor os seus modos à força.

Espero que, quando atingirmos esse estágio da nossa evolução, a inteligência artificial predominante não tenha sido a desenvolvida por estadunidenses e europeus, notórios pelo imperialismo.



Por PEDRO CREM ALVES PORTO