terça-feira, 8 de abril de 2025

BREVE SERMÃO DO OURO: PREÂMBULO.

Aos meus caríssimos leitores que lograrem suplantar a aridez do exórdio da vertente obra, insinuo a seguinte admoestação: este preâmbulo não constitui, sob nenhuma hipótese ou justificativa, uma superfetação da peça vestibular deste discurso, mas decerto consiste em exórdio alternativo do mesmo, pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos.

Ora, muitos dirão que tornei hialinas, no exórdio, minhas predileções filosóficas pelo materialismo histórico e dialético, mais precisamente naquilo que empreendo uma absorção das dicotomias platônicas pelo duplo caráter da categoria econômica da mercadoria, de tal sorte que a dissociação entre corpo e mente, ou alma, teria seu segredo revelado na oposição entre valor de uso e valor de troca, o que poderia ensejar a imputação de que padeço de certo determinismo econômico encontradiço na seara materialista. 

Nada mais falacioso!

Sem embargo, aquiesço de bom grado que a tradição filosófica ocidental, caudatária das supracitadas dicotomias platônicas, muito adquiriu em complexidade e, portanto, conformidade epistemológica com seus objetos de investigação, ao receber gratuitamente o inestimável contributo da psicanálise, que dividiu a mente humana em três instâncias não estanques, a saber, o id, o ego e o superego.

Nesse diapasão, se o materialismo histórico e dialético patrocina a convicção de que não é a consciência individual que determina o ser humano, mas o ser social que produz sua consciência, de tal modo que na divisão da sociedade em capital e trabalho radica a oposição entre mente e corpo, parece lícito ventilar que, para a psicanálise, a tripartição do ser humano em id, ego e supergo está na raiz da fragmentação social em trabalho, capital e Estado, o que introduz uma certa complicação para os estudiosos e cientistas que se debruçam sobre tais temas axiais. 

Malgrado o exposto, deixo ao meu perseverante e estimado leitor a tarefa de escolher livremente, como intróito deste opúsculo, o exórdio ou o preâmbulo.   




por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

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