sábado, 26 de abril de 2025

RAZÃO CAPITALISTA

Durante muito, demasiado tempo remanesci iludido pelo engodo consistente na convicção de que a razão é superior à emoção, até me deparar com o comovente relato de Norberto Bobbio, que atribuía sua falta de traquejo para com a felicidade e, portanto, sua entranhada melancolia à entronização dos conceitos em detrimento dos afetos.

Ora, em nossa sociedade alienada por relações de produção heterônomas, que nos governam à nossa revelia e nos fraturam em classes sociais irremediavelmente antagônicas, a razão somente pode adquirir os contornos do capital e sua avidez invencível pelo lucro a qualquer custo, o que está a nos conduzir à extinção como espécie biológica.

Mas o capital é rebento do dinheiro, que por seu turno deriva do valor de troca, vale dizer, do aspecto abstrato da categoria econômica da mercadoria, portanto a razão capitalista exibe-se também abstrata e não respeita nenhuma forma de necessidade social humana concreta, de tal sorte que a dor humana, seja ela moral ou física, passa-lhe ao largo, sendo certo que a fome, a miséria e a violência, nesse caso, parecem até mesmo, pasmem, "racionais".

Urge transcender o capital e sua razão alienadamente desumana, única maneira de lograr um estágio de razão humana, demasiado humana, onde as necessidades concretas de cada um serão providas de acordo com as potencialidades do homo sapiens: quiçá, nesse caso, o amor anunciado pelo já saudoso Papa Francisco possa enfim aflorar de forma concreta e definitiva.





por LUÍS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador. 

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